Bloomberg — A Eurasia avalia que a eleição de 2026 será “estruturalmente apertada”, mas que há um “viés” favorável ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em função do nível de aprovação, da queda da inflação de alimentos e da reforma do Imposto de Renda.
“É um cenário de 50%-50%, com viés Lula”, disse Christopher Garman, diretor-executivo para as Américas da consultoria, em entrevista.
Garman considera ainda que a visão do mercado financeiro sobre a possível candidatura a presidência do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, é “uma aposta difícil de fazer” neste momento.
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“Há dois equívocos hoje no mercado: presumir que Tarcísio será candidato e presumir que a oposição vai ganhar”, afirmou.
“Acho muito difícil cravar se ele vai ser candidato ou não”, disse, embora reconheça que o nome de Tarcísio ganhou ímpeto.
O mercado de ações e os juros futuros passaram a refletir certo otimismo nos últimos dias com a pesquisa da AtlasInte que mostrou o governador paulista à frente de Lula num eventual segundo turno e com queda de popularidade do presidente. Tarcísio, por sua vez, tem negado a intenção de concorrer ao Planalto.
‘Overshooting’
Segundo Garman, o mercado está “overshooting”, ou seja, exagerando a possibilidade de mudança de governo na corrida presidencial de 2026.
O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro — que começa nesta terça-feira — não deve acelerar o processo de escolha de um candidato no campo da direita, diz Garman, uma vez que o ex-presidente já deve esperar por sua condenação.
Se Bolsonaro não endossar Tarcísio até o início do ano que vem, o governador deve optar pela reeleição em São Paulo — para concorrer ã presidência ele teria que deixar o cargo seis meses antes das eleições.
Nesse caso, o plano do ex-presidente seria de escolher algum nome da família, avalia. “Bolsonaro deve manter capital político muito grande, é um king-maker.”
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Para Garman, Ratinho Júnior, governador do estado do Paraná, poderia fazer um segundo turno caso Tarcísio não se candidate. “É o governador em que eu ficaria de olho, nesse cenário”, afirmou.
Eleição difícil de cravar
Apesar do viés ainda ser favorável a Lula, os modelos de previsão eleitoral hoje apontam em direções opostas, segundo Garman.
Por um lado, o nível de aprovação de Lula, acima de 40%, é consistente com uma probabilidade majoritária de reeleição em 2026.
Além disso, a diminuição dos preços de alimentos, a reforma que isenta pessoas com salários de até R$ 5.000 da cobrança de IR e medidas como o vale-gás são pontos que favorecem o atual presidente.
De outro lado, os dados de pesquisas de opinião pública sobre os temas que representam as maiores preocupações da população brasileira atualmente, como corrupção e segurança, são aqueles em que a percepção do eleitorado sobre o governo Lula é mais negativa, disse.
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Além disso, a idade do presidente e o desgaste de um político em terceiro mandato fazem com que um novo período na presidência seja menos provável, observou.
“É uma eleição muito difícil de cravar”, disse. “A pouco mais de um ano das eleições, estou mais incerto sobre de quem será a vitória do que em qualquer outro momento dos últimos ciclos.”
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