Em rede nacional, Lula chama tarifas de Trump de chantagem e cita ‘traidores da pátria’

Em pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV, presidente da República rebate ameaças de Donald Trump de tarifas de 50%, diz que ninguém está acima da lei no país e reitera independência das instituições para combater discurso de ódio e fake news

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, fez pronunciamento em cadeia nacional de TV e rádio na noite desta quinta-feira (18) (Foto: Divulgação/Presidência da República)
17 de Julho, 2025 | 10:37 PM

Bloomberg Línea — O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, fez um pronunciamento à Nação na noite desta quinta-feira (17), uma semana depois da carta de Donald Trump em que impõe tarifas de 50% sobre todos os produtos brasileiros que entram nos Estados Unidos, faz ameaças de outras sanções e exige poder interferir no funcionamento da Justiça do país.

Lula ressaltou a separação dos Poderes e disse que ninguém está acima da lei, em pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão.

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Em discurso de cinco minutos, o presidente afirmou que responderá com diplomacia e multilateralismo às ameaças do governo Trump, que classificou de “chantagem inaceitável”.

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Sem citar diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro, cujo julgamento foi citado nas cartas recentes de Trump para justificar as tarifas, uma delas nesta quinta no fim da tarde, Lula disse que as instituições agem para proteger a sociedade da ameaça de discursos de ódio e que negam a ciência difundidos em redes sociais.

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“No Brasil, ninguém — ninguém — está acima da lei. É preciso proteger as famílias brasileiras de indivíduos e organizações que se utilizam das redes digitais para promover golpes e fraudes, cometer crime de racismo, incentivar a violência contra as mulheres e atacar a democracia, além de alimentar o ódio, violência e bullying entre crianças e adolescentes, em alguns casos levando à morte, e desacreditar as vacinas, trazendo de volta doenças há muito tempo erradicadas”, disse o presidente.

Ao destacar a independência do Judiciário, o presidente da República disse que não pode interferir em decisões de outros Poderes.

“Contamos com um Poder Judiciário independente. No Brasil, respeitamos o devido processo legal, os princípios da presunção da inocência, do contraditório e da ampla defesa. Tentar interferir na justiça brasileira é um grave atentado à soberania nacional”, acrescentou.

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Lula ressaltou que o Brasil sempre esteve aberto ao diálogo e que tem buscado - em vão - negociar com os Estados Unidos desde maio, quando o governo Donald Trump impôs uma tarifa de 10% aos produtos brasileiros.

O presidente afirmou que o governo está se reunindo com representantes dos setores produtivos, da sociedade civil e dos sindicatos para tentar negociar com os Estados Unidos.

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“Estamos juntos na defesa do Brasil. E faremos isso de cabeça erguida, seguindo o exemplo de cada brasileiro e cada brasileira que acorda cedo e vai à luta para trabalhar, cuidar da família e ajudar o Brasil a crescer. Seguiremos apostando nas boas relações diplomáticas e comerciais, não apenas com os Estados Unidos, mas com todos os países do mundo”, acrescentou.

O presidente também comentou o apoio que Trump tem recebido sobre as ameaças que colocam em risco milhares de empregos e a economia do país.

“Minha indignação é ainda maior por saber que esse ataque ao Brasil tem o apoio de alguns políticos brasileiros. São verdadeiros traidores da pátria. Apostam no quanto pior, melhor. Não se importam com a economia do país e os danos causados ao nosso povo”, declarou.

O presidente acrescentou que a fiscalização das redes sociais estrangeiras, um dos itens citados por Trump para justificar a imposição da tarifa, tem como objetivo defender a soberania nacional. Ele ressaltou que todas as empresas que operam no Brasil são obrigadas a cumprir a legislação brasileira.

“A defesa da nossa soberania também se aplica à atuação das plataformas digitais estrangeiras no Brasil. Para operar no nosso país, todas as empresas nacionais e estrangeiras são obrigadas a cumprir as regras”, destacou.

Sobre as reclamações do governo de Trump ao Pix, Lula disse que o governo não aceitará ataques ao sistema de transferências instantâneas, que classificou como um patrimônio do país.

“O Pix é do Brasil. Não aceitaremos ataques ao Pix, que é um patrimônio do nosso povo. Temos um dos sistemas de pagamento mais avançados do mundo, e vamos protegê-lo”, afirmou.

Ao indicar possíveis alternativas para o Brasil caso as tarifas de 50% sejam de fato colocadas em prática a partir de 1 de agosto, Lula lembrou que, em dois anos e meio de governo, o Brasil abriu centenas de novos mercados para os produtos brasileiros no exterior.

E reafirmou que o governo pode usar todos os instrumentos legais para defender a economia, como recursos à Organização Mundial do Comércio (OMC) até a Lei da Reciprocidade, aprovada pelo Congresso Nacional em abril.

-- Com informações da Agência Brasil.

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