BofA prevê corte de juros no Brasil ainda em 2025, antes do esperado pelo mercado

Analistas do banco projetam corte de 50 pontos-base em dezembro, na contramão do consenso do mercado que aponta início de cortes apenas em 2026; visão se apoia em inflação mais baixa, dólar mais fraco e desaceleração global

Segundo o banco, “uma maior depreciação do real é um risco e poderia adiar o primeiro corte do Banco Central do Brasil. (Foto: Michael Nagle/Bloomberg)
10 de Setembro, 2025 | 10:57 AM

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O Bank of America (BAC) prevê um amplo ciclo de flexibilização monetária na América Latina, impulsionado por condições globais favoráveis , como um dólar fraco, desaceleração econômica nos EUA e na China e inflação internacional moderada.

O banco projeta que as taxas de referência no Brasil, na Colômbia e no México cairão significativamente até o final de 2026, a partir de níveis que ainda permanecem acima das taxas consideradas neutras.

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A expectativa de um ciclo de aperto de 125 pontos-base pelo Federal Reserve dos EUA reforça essa visão, e facilita um ambiente mais frouxo para as economias emergentes .

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“Não esperamos pressões inflacionárias globais significativas nos próximos trimestres”, segundo disseram, em relatório, os economistas do Bank of America, que enfatizam que isso abriria espaço para que os bancos centrais latino-americanos iniciassem ciclos de flexibilização monetária mais vigorosos.

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Apesar dos riscos latentes, como uma possível recuperação dos preços do petróleo, um fortalecimento do dólar americano em face de uma recessão ou um agravamento das tensões geopolíticas, o banco mantém uma clara tendência a um cenário de inflação mais baixa e taxas mais baixas na região.

Brasil: cortes começarão antes do planejado

O Bank of America prevê que o Banco Central do Brasil (BCB) começará a cortar as taxas em dezembro deste ano, com uma redução de 50 pontos-base.

A previsão contrasta com o consenso do mercado, que coloca o primeiro corte em janeiro de 2026 com um declínio mais moderado.

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“Nossa projeção fora do consenso baseia-se na suposição de que, mesmo que o BCB comece a cortar, as taxas permanecerão contracionistas por um período prolongado“, explicam os analistas.

A inflação no Brasil tem mostrado sinais de desaceleração, apoiada por uma moeda valorizada, menores gastos públicos no primeiro semestre do ano e fraca atividade econômica.

Nos últimos quatro trimestres, o crescimento anual do PIB desacelerou de 4,0% para 2,2%. A inflação esperada para 2026 é de 4,32%, menor do que os 4,56% estimados anteriormente.

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Com relação à moeda, o relatório enfatiza que “uma taxa de câmbio mais apreciada contribuiu na direção oposta, o que apoia as expectativas de inflação mais baixas”. O real brasileiro ganhou terreno graças ao diferencial de taxa de juros em relação ao exterior e a uma menor percepção de ruído fiscal.

Entretanto, o Bank of America adverte que “uma maior depreciação do real é um risco e poderia adiar o primeiro corte do BCB”. Além disso, os analistas do banco acreditam que os riscos domésticos permanecem.

O aumento dos gastos públicos no segundo semestre do ano pode pressionar os preços, enquanto as tensões diplomáticas com os Estados Unidos, como a possível aplicação de sanções relacionadas ao julgamento de Jair Bolsonaro ou à lei de reciprocidade, podem levar à volatilidade da taxa de câmbio.

México

No caso do México, o Bank of America projeta que a taxa de referência, atualmente em 7,75%, caia para 6,50% até o final de 2026.

A previsão é sustentada por uma combinação de crescimento fraco, um hiato negativo do produto e uma inflação que deve permanecer contida.

“Nossa convicção mais forte em relação ao Banxico não está no curto prazo, mas no médio prazo”, enfatiza a equipe de pesquisa.

Durante 2025, o Banxico reduziu a taxa cinco vezes, incluindo quatro cortes de 50 pontos e um corte de 25 pontos. A inflação básica caiu acentuadamente para 3,5% a/a em agosto, embora o núcleo da inflação permaneça estável em torno de 4,2%.

O banco central mexicano manteria a taxa inalterada após setembro, devido à persistência do núcleo da inflação, mas retomaria os cortes em 2026.

“Esperamos que o Banxico faça um corte de 100 pontos-base em 2026 para levar a taxa a 6,50% até o final do ano”, afirma o documento.

Com relação à taxa de câmbio, a análise destaca que o peso mexicano (USDMXN) continua sendo um fator de restrição fundamental para a inflação de bens. " Esperamos que a força do peso continue a conter a inflação de bens", explicam os economistas, que também alertam que o enfraquecimento do peso após as eleições de 2024 causou um aumento temporário na inflação, embora esperem que a moeda permaneça relativamente firme no próximo ano.

O relatório observa que o mercado de trabalho continua apertado, o que poderia retardar a convergência da inflação de serviços. Ainda assim, os analistas veem riscos de queda em sua projeção, já que “o Banxico poderia optar por cortes adicionais se a atividade enfraquecer mais do que o esperado ou se ele se sentir mais confortável com a inflação entre 3,5% e 4,0%”.

Colômbia

A perspectiva do Bank of America para a Colômbia apresenta uma divergência com as expectativas do mercado.

Enquanto os mercados veem uma taxa de 8,5% no final de 2026, o banco projeta um nível de 7,0%.

“Acreditamos que isso implica que o mercado presume que o banco central não conseguirá trazer a inflação para sua faixa de tolerância, ou que a demanda interna é muito forte“, diz a análise.

A postura recente do Banco de la República tem sido mais restritiva, o que levou o BofA a adiar sua previsão para o próximo corte de setembro para dezembro.

O diretor Leonardo Villar argumentou que a demanda doméstica é “muito forte” e expressou preocupação com os aumentos do salário mínimo, que poderiam dificultar a desinflação.

Entretanto, os analistas questionam a força da demanda. “A aparente força do consumo se baseia em fundamentos frágeis”, argumentam. O aumento do salário mínimo não é visto como uma política sustentável, enquanto o impulso fiscal perderia força após as eleições de 2026.

Além disso, o fluxo de remessas, outro suporte para o consumo, poderia ser reduzido em face de um dinamismo econômico mais lento nos Estados Unidos e dos temores de migração.

Com relação ao peso colombiano, o Bank of America não faz uma previsão explícita sobre o nível futuro da taxa de câmbio, mas alerta que “a volatilidade relacionada às eleições e uma eventual perda de confiança do mercado podem ter um efeito adverso sobre a taxa de câmbio e, consequentemente, sobre a inflação“.

Essa possibilidade representa um risco adicional que poderia limitar o escopo de cortes agressivos se uma depreciação significativa se concretizar.

O banco acredita que a política monetária deve ser mais proativa, concentrando-se em fatores estruturais em vez de estímulos temporários.

“É difícil argumentar que a política fiscal sustentará a demanda doméstica no próximo ano”, concluem os especialistas, reafirmando sua previsão de uma taxa terminal de 7,0% em um contexto de inflação convergente e possível consolidação fiscal.