Bloomberg Línea — A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de elevar a Selic para 15% ao ano foi interpretada por economistas dos principais bancos que atuam no país como uma tentativa do Banco Central de conter a precificação de cortes de juros ainda neste ano no mercado.
A ênfase do Copom ao dizer que manterá a taxa elevada por um “período bastante prolongado” foi entendida como um recado de que os juros devem permanecer nesse patamar por mais tempo do que está precificado.
Para economistas de bancos, a decisão consolidou a expectativa de juros altos até, pelo menos, o fim de 2025.
O Goldman Sachs avaliou que a comunicação foi calibrada para evitar que o mercado antecipe uma flexibilização da taxa de juros em suas posições.
Em relatório, o diretor de pesquisa macroeconômica para a América Latina, Alberto Ramos, apontou que o Copom está disposto a manter a política contracionista pelo tempo necessário para garantir a convergência da inflação para a meta.
O economista disse que o Banco Central parece pronto para ser muito paciente e manter a taxa de juros no patamar atual até o primeiro semestre de 2026, embora possa haver uma janela para um corte no fim deste ano.
Na quarta-feira (18) no fim da tarde, o Copom elevou a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, para 15% ao ano, contrariando a projeção majoritária do mercado, que esperava a manutenção da Selic no nível anterior de 14,75% ao ano.
Leia mais: Lula diz que disputará reeleição se estiver saudável e que vai vencer extrema-direita
Pesquisa da Bloomberg mostrava projeções divididas no mercado. Dezenove de 31 economistas consultados projetavam a manutenção da Selic, enquanto os demais esperavam uma elevação de 0,25 ponto percentual.
O Copom destacou no comunicado que o cenário exige uma política monetária “em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado”, adotando um tom mais duro em relação ao comunicado anterior, quando falava apenas em um “período prolongado”.
O Itaú BBA interpretou que o Copom não irá alterar a taxa básica de juros na próxima reunião, em 29 e 30 de julho, se não houver surpresas nos dados econômicos.
A equipe de pesquisa econômica liderada por Mario Mesquita agora espera a manutenção da Selic até o início de 2026, quando o Banco Central pode iniciar um ciclo de corte de 2 pontos percentuais.
“Uma valorização da taxa de câmbio pode antecipar esse movimento, enquanto uma economia mais forte do que o esperado pode levar o Copom a adiar o início do ciclo de cortes”, afirmaram os economistas no relatório.
Leia mais: Copom surpreende e eleva Selic para 15% ao ano; e indica pausa no ciclo de alta
Já o Bradesco avaliou que os juros já estão suficientemente altos para promover a desinflação, se mantidos por um período prolongado, como indicou o Copom.
Para a equipe liderada pelo economista-chefe Fernando Honorato Barbosa, a indicação de interrupção do ciclo de aperto monetário reflete essa avaliação.
A instituição no momento trabalha com projeção de corte apenas em dezembro, o que poderia levar a Selic a 14,50% ao ano, mas disse que irá reavaliar a projeção.
“A mensagem de interrupção de ciclo indica que o Banco Central entende que os juros já estão em patamar suficientemente contracionista para fazer o trabalho de desinflação”, escreveram os economistas do Bradesco no relatório.
A XP também destacou que o Copom deixou claro que pretende manter a Selic estável para evitar que o mercado comece a antecipar cortes.
A equipe, liderada por Caio Megale, ainda vê chance de uma última alta em julho, mas entendeu que a trajetória principal aponta para estabilidade.
“O plano de voo é manter a Selic parada — e por um longo tempo”, disseram os economistas da XP em relatório.
O Citi observou que a decisão do Copom foi um pouco mais dura do que era esperado - e que o colegiado condicionou a interrupção do ciclo à confirmação do cenário básico.
O banco de Wall Street apontou que as projeções de inflação continuam acima da meta e que o Copom reforçou sua disposição de manter a taxa elevada.
Na visão do Citi, a probabilidade de o Copom iniciar o ciclo de cortes no primeiro trimestre do ano que vem diminuiu, e que isso pode ocorrer agora apenas no segundo trimestre.
“O Copom reforçou seu compromisso com a reancoragem das expectativas de inflação”, apontaram os economistas do banco liderados por Leonardo Porto em relatório.
Para o UBS BB, a surpresa da alta reforçou o perfil conservador do Banco Central. Assim como outros economistas, a equipe do UBS BB avaliou que a inclusão do termo “bastante prolongado” é uma tentativa explícita de afastar apostas de corte ainda em 2025.
Na visão do banco, as apostas do mercado de cortes de juros ainda neste ano não estão em linha com a convergência da inflação, o que teria justificado a comunicação do Copom.
O banco projetou a primeira redução para abril de 2026, com a possibilidade de os cortes começarem um pouco mais cedo, em março. “Consideramos este um cenário de ‘juros altos por mais tempo’”, disse a equipe do banco, liderada por Alexandre de Azara, em relatório
Já o Bank of America (BofA), com equipe de pesquisas econômicas liderada por David Beker, considera que o ciclo de alta chegou ao fim, com a Selic devendo permanecer em 15% ao ano até dezembro.
A primeira redução é projetada para o último mês deste ano. “Acreditamos que o ciclo de alta terminou”, disseram os economistas do banco em relatório.
O banco avaliou que a política atual é suficientemente restritiva e ressaltou que a taxa de juros reais ficará perto de 10%, o dobro dos 5% que o Banco Central avalia como a taxa neutra – que não estimula nem restringe a atividade econômica.
A equipe também observou que a valorização do real e a queda dos preços das commodities agrícolas não alteraram as previsões de inflação do Copom.
Leia também
Principal Asset vê rali de 100% na bolsa até 2026 com alternância de poder
‘Século perdido’: América Latina precisa repensar como crescer, diz Banco Mundial