Banco Central realiza operações especiais para reduzir juros em dólar no Brasil

Venda conjugada com a colocação de mesmo montante de swap reverso, chamada no jargão de mercado de ‘casadão’, na prática reduz a posição vendida, que ganha com a queda do dólar

A taxa do cupom cambial de seis meses cedeu de cerca de 6,50% no pico recente em 19 de dezembro para 5,5% em 23 de junho
Por Felipe Saturnino - Barbara Nascimento - Fernando Travaglini
25 de Junho, 2025 | 12:18 PM

Bloomberg — O Banco Central tem atuado de forma cada vez mais ativa no mercado de câmbio, em ajuste de sua estratégia num movimento que, segundo analistas, busca tornar o real mais atrativo, reduzir o nível do cupom cambial, como é chamada a taxa de juros em dólar no Brasil, e enxugar o volume elevado de estoque de swaps.

Nesta quarta-feira (25), o BC realizou dois leilões, com a venda de US$ 1 bilhão à vista conjugada com a colocação de mesmo montante de swap reverso — que equivalem a uma compra de dólar no mercado futuro.

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Essa combinação, chamada no jargão de mercado de “casadão”, na prática reduz a posição vendida via swaps — que ganha com a queda do dólar. Hoje, a posição do BC em derivativos cambiais está na casa de US$ 103 bilhões. Esta será primeira operação casada desde 2019.

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Com ela, a autoridade monetária provê dólar no mercado à vista, em um momento em que a demanda pela moeda física está maior, e também consegue desmontar parte da posição em swaps — que tem um custo de carregamento.

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As novas operações se somam aos leilões linhas em dólar, que foram realizadas a partir de novembro de 2024 com maior frequência e desde então têm sido roladas.

“Isso derruba o cupom cambial e aumenta o ‘carry trade’”, disse Alfredo Menezes, CEO da Armor Capital.

O cupom cambial é um dos componentes do “carry” da moeda, ou seja, o diferencial de juros da moeda com o exterior, capaz de ser um ímã de capital. Quanto menor o cupom cambial, mais elevado e atrativo é o carry.

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A taxa do cupom cambial de seis meses cedeu de cerca de 6,50% no pico recente em 19 de dezembro para 5,5% em 23 de junho. No entanto, está em alta desde abril, quando rondou o nível de 5,20%.

Com a operação, o BC também tem o objetivo de diminuir a sua atual carteira de swaps, afirmou Menezes.

“Olhando à frente, acho que ele irá seguir usando o ‘casadão’ para reduzir o estoque de linha e o estoque de swap”, disse o gestor de câmbio da Ace Capital, Daniel Tatsumi.

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Além disso, a própria orientação de Nilton David, atual diretor de política monetária do BC, entra nas avaliações do mercado sobre a estratégia do BC.

David é conhecido “por ser alguém que acha que o nível do estoque de swaps deve cair”, o que influencia a orientação da autoridade monetária, diz Tony Volpon, ex-diretor de assuntos internacionais da autoridade monetária. O BC mira reduzir o cupom com essas operações, também apontou ele.

O BC não respondeu a um pedido de comentário.

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Spread com o exterior

Primeiro com Gabriel Galípolo como diretor de política monetária e, desde janeiro, com David na cadeira que foi do agora presidente do BC, a instituição ampliou a atuação no mercado de câmbio, em meio a uma forte saída de recursos no fim do ano passado diante de riscos fiscais.

O BC colocou US$ 17 bilhões em linhas cambiais entre o fim do ano passado e começo de 2025. Desde então, a autoridade monetária tem rolado essas posições, tentando manter o estoque vigente. O BC também ampliou o volume de swaps diários e, agora, ofereceu swaps reversos.

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A estratégia reduziu a pressão sobre o cupom. A diferença do cupom cambial para a taxa overnight dos EUA, a SOFR, de seis meses subiu da faixa de 100 pontos para 220 pontos no fim do ano passado — nível de spread que só fica abaixo do pico atingido na pandemia de covid, em 2020. Atualmente, esse diferencial cedeu para cerca de 130 pontos.

Na prática, isso significa que o prêmio de risco oferecido a bancos e fundos que mantêm recursos no Brasil se reduziu, o que desestimula operações de arbitragem entre o cupom cambial e taxas externas, como a SOFR.

Com a realização de leilões de linha, o BC vende dólares com compromisso de recompra, sem impacto na oferta de dólar físico.

“Há vários trades que são feitos no cupom cambial e alguns deles se aproveitam desse spread mais alto”, disse Daniel Balaban, operador de câmbio da XP em Nova York. A queda do spread entre o cupom e a SOFR “com certeza” se deveu às atuações do BC, afirmou Balaban.

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