Ata do Copom: BC reforça cautela com política monetária e vê impacto de tarifas

Diretores do BC avaliam que juros altos devem durar mais do que o previsto, segundo documento divulgado nesta terça-feira (5)

“O aumento das tarifas comerciais dos EUA para o Brasil tem impactos setoriais significativos", escreveram os membros do conselho na ata. (Foto: Arthur Menescal/Bloomberg)
Por Martha Beck - Beatriz Reis
05 de Agosto, 2025 | 10:12 AM

Bloomberg — O Banco Central do Brasil disse que manterá uma postura cautelosa na política monetária enquanto trabalha para controlar a inflação acima da meta.

Além disso, alerta sobre o aumento da incerteza causada pelas tarifas comerciais do presidente dos EUA, Donald Trump.

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“O aumento das tarifas comerciais dos EUA para o Brasil tem impactos setoriais significativos e efeitos agregados ainda incertos que dependem do desenrolar dos próximos passos nas negociações e da percepção de risco”, escreveram os membros do conselho na ata de sua reunião de política monetária de 29 e 30 de julho, quando mantiveram a Selic de referência estável em 15%.

A avaliação predominante no conselho é que há “maior incerteza quanto às perspectivas globais e, portanto, o Copom deve manter uma postura cautelosa”, disseram eles no documento publicado na terça-feira.

(Fonte: BC via Bloomberg)

Os diretores do banco central elevaram os custos dos empréstimos em 4,5 pontos percentuais entre setembro e junho do ano passado, em um esforço para esfriar a demanda e controlar a inflação. De acordo com as estimativas deles, os aumentos de preços ao consumidor ficarão acima da meta de 3% pelo menos até o início de 2027.

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Leia também: Copom mantém Selic em 15% ao ano e indica ‘maior incerteza’ por tarifas ao Brasil

As tensões entre a maior economia da América Latina e os EUA - com as tarifas comerciais de Trump que devem entrar em vigor nesta semana - e também elevam as dúvidas sobre as perspectivas.

A Selic do Brasil está perto do maior patamar de quase duas décadas. Em contrapartida, seus pares regionais, incluindo México, Chile e Peru, reduziram suas taxas nos últimos meses.

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A perspectiva da inflação é adversa devido à atividade econômica resiliente e a um mercado de trabalho dinâmico, segundo os membros do conselho.

As expectativas de preços ao consumidor permanecem não ancoradas, o que significa que “é necessária uma restrição monetária maior por um período mais longo do que seria apropriado”, de acordo com a ata.

Embora as tarifas acrescentem alguma preocupação às expectativas de inflação, por enquanto os bancos centrais estão confortáveis com a manutenção das taxas “por pelo menos mais alguns trimestres”, disse Brendan McKenna, economista de mercados emergentes da Wells Fargo Securities.

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Para que haja outro aumento, “precisaríamos ver as tarifas gerarem expectativas de inflação mais altas, e um novo estímulo fiscal teria de ser fornecido para também gerar inflação”, disse ele.

Os membros do conselho aguardam para ver se o nível atual de custos de empréstimos - se mantido por um período prolongado - será suficiente para finalmente romper os níveis de inflação que ficaram presos acima de 5% na maior parte deste ano.

A atividade econômica e o mercado de crédito estão respondendo à política monetária restritiva, mas o mercado de trabalho forte tem dado grande suporte ao consumo e à renda, escreveram os banqueiros centrais.

“O Comitê continuará a monitorar o ritmo da atividade econômica, que é um impulsionador fundamental da inflação, especialmente da inflação de serviços”, escreveram.

Os membros do comitê também permanecem atentos ao repasse da taxa de câmbio para a inflação, após um período de maior volatilidade da taxa de câmbio.

As tarifas de Trump sobre as exportações brasileiras foram adiadas para 6 de agosto após negociações com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Embora os EUA tenham criado exceções para centenas de produtos, as negociações estão em andamento e o impacto sobre a política monetária doméstica ainda é difícil de quantificar.

--Com a ajuda de Robert Jameson.

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