Preço do café é pressionado por clima mais quente e estocagem no Vietnã

Maior produtor mundial do café robusta, o Vietnã enfrenta um clima desfavorável que tem prejudicado a colheita; Nestlé diz que irá aumentar compras do Brasil

Café
Por Mai Ngoc Chau
02 de Maio, 2024 | 12:16 PM

Os preços do café tendem a estender sua rápida escalada com a estocagem de grãos e o clima ruim exacerbando a escassez de oferta no Vietnã, maior produtor mundial da variedade robusta.

Os preços locais no Vietnã atingiram uma máxima histórica este ano, à medida que agricultores e intermediadores continuam a reter os grãos para não perderem negócios melhores após uma fraca colheita 2023-24.

O movimento tornou mais difícil para os exportadores obterem suprimentos e desencadeou uma onda recorde de inadimplências em contratos existentes.

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As mudanças climáticas têm alimentado um clima cada vez mais errático e condições mais secas tendem a agravar o aperto na produção. A expectativa é de um déficit em relação à demanda de café pelo quarto ano seguido.

O Vietnã responde por cerca de um terço da oferta mundial de grãos de robusta, que são normalmente usados para bebidas instantâneas e café espresso.

“Não podemos dizer quando os preços vão atingir o pico,” disse Tran Thi Lan Anh, diretora adjunta da Vinh Hiep, um importante exportador vietnamita.

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Ela acrescentou que agricultores e comerciantes intermediários esperam que o custo dos grãos possa chegar a até 150.000 dong (US$ 5,89) por quilo, acima do nível atual de cerca de 130.000 dong.

Robusta Coffee Futures Are Up 50% This Year | Supply concerns in Vietnam are helping to fuel the rallydfd

As oscilações nos preços das commodities levam tempo para chegar ao varejo, e pequenos ganhos no custo do arábica - a outra grande variedade global - estão ajudando a amenizar parte do impacto para os consumidores de café.

Ainda assim, o presidente-executivo da Tata Consumer Products, fabricante de café instantâneo e cápsulas, disse recentemente que os preços do robusta provavelmente permanecerão voláteis “por algum tempo”.

O déficit de produção do Vietnã ajudou a impulsionar os futuros de referência em Londres em cerca de 50% este ano, com os preços atingindo o nível mais alto em pelo menos 16 anos.

O clima quente e seco que assolou vastas partes do país do Sudeste Asiático tem suscitado preocupações sobre a próxima colheita e o potencial de uma oferta ainda mais baixa.

Muitos lagos usados para irrigar as plantações nas terras altas estão criticamente baixos e as fontes subterrâneas de água foram esgotadas, disse Trinh Duc Minh, chefe da Associação de Café de Buon Ma Thuot, na província de Dak Lak.

Ele prevê que a colheita 2024-25 da província pode ser 15% menor do que as estimadas 520.000 toneladas coletadas em 2023-24 - que já é inferior ao ano anterior.

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“Não temos água para nossas fazendas”, disse Nguyen The Hue, que cultiva café em seis hectares na província vizinha de Gia Lai, acrescentando que algumas de suas plantas foram infestadas por cochonilhas (um tipo de inseto) devido ao clima quente. “Se a seca persistir, não teremos muitos novos grãos para vender na nova temporada.”

Estocagem de café

Por enquanto, é a estocagem que está ajudando a elevar os preços. Alguns agricultores vietnamitas têm dependido da renda da venda de frutas para cobrir despesas de vida e custos de produção, o que lhes permite reter mais grãos de café.

Acredita-se que agricultores e intermediários tenham deixado de entregar entre 150.000 toneladas e 200.000 toneladas de grãos contratados desde que o Vietnã iniciou a colheita 2023-24 em outubro, segundo estimativas de sete traders compiladas pela Bloomberg. Isso equivale a cerca de 10%-13% da safra colhida.

“Foi terrível e além do que eu poderia imaginar”, disse Le Duc Huy, presidente-executivo do exportador Simexco Dak Lak, durante uma reunião em Ho Chi Minh no início deste mês.

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Huy - vice-presidente da Associação de Café de Buon Ma Thuot - acrescentou que a empresa e outros exportadores tiveram prejuízos devido às inadimplências, mas ainda conseguiram entregar os grãos aos clientes globais.

Na mesma reunião organizada pela associação de café do Vietnã, a Nestlé disse que teve que buscar mais grãos do Brasil, Indonésia e Índia para manter o fornecimento para suas fábricas globais.

O maior exportador do país - Grupo Intimex - disse neste mês que o Vietnã teve que importar cerca de 200.000 toneladas de grãos no ano passado, uma medida que continuou em 2024.

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