Bloomberg Línea — “Estamos no meio da pior parte do ciclo pecuário”, afirmou Tim Klein, CEO da National Beef, controlada da MBRF (MBRF3), em entrevista coletiva de resultados com jornalistas nesta segunda-feira (10).
“A oferta de gado ainda está apertada, mas começamos a ver sinais de reconstrução dos rebanhos nos próximos seis a doze meses”, disse o executivo.
A avaliação resume o cenário enfrentado pela nova gigante das proteínas, formada pela fusão entre BRF e Marfrig, que divulgou seu primeiro balanço financeiro consolidado.
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O resultado refletiu margens comprimidas pela escassez de gado, a alta dos custos agrícolas e a ausência temporária da China no mercado de frango, fatores que pressionaram o desempenho operacional.
No balanço financeiro divulgado na noite de segunda-feira (10) à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o lucro líquido da companhia somou R$ 94 milhões no trimestre, queda de 62% em relação ao mesmo período do ano passado.
O Ebitda consolidado, importante métrica de rentabilidade operacional, somou R$ 3,5 bilhões, alta de 15% frente ao trimestre anterior, mas recuo de 8,6% na base anual.
A receita líquida totalizou R$ 41,7 bilhões, avanço de 9,2% sobre o mesmo intervalo de 2024.
Ciclo adverso
O trimestre foi impactado pelo aumento de custos de insumos, como o milho, que subiu 17,4%, e o óleo de soja, com alta de 17,3% em um ano. Além disso, a falta da China como um dos maiores mercados importadores, em razão da gripe aviária, também pressionou o resultado.
A China é um mercado relevante para cortes que têm menos aceitação no mercado interno, como o meio da asa do frango e o pé.
“O principal driver dessa queda de lucro líquido foi a performance operacional da BRF”, disse o vice-presidente de Finanças e Relações com Investidores, José Inácio Scoseria Rey, durante a entrevista coletiva.
“A retomada das exportações para a China representa um importante potencial de geração de valor e aumento da lucratividade no curto prazo”, disse Rey.
Miguel Gularte, CEO da companhia, disse que, a despeito do embargo da China, a empresa conseguiu preservar rentabilidade.
“Mesmo com a perda temporária da China, conseguimos redirecionar a produção a mercados alternativos e manter margens positivas”, disse.
No curto prazo, a MBRF enfrenta condições desafiadoras nos dois principais ciclos de proteína animal. A oferta restrita de gado nos EUA e no Brasil deve manter custos elevados até meados de 2026, enquanto a recomposição dos rebanhos ocorre lentamente.
No frango, a companhia vê um mercado global mais “equilibrado”, após redirecionar parte da produção durante o fechamento do mercado chinês.
Sinergias e eficiência
A companhia informou que “iniciou a captura das sinergias mapeadas com a fusão”, estimadas em R$ 1 bilhão, das quais 60% devem ser entregues até 2026.
Segundo o balanço, os ganhos virão principalmente de supply chain (R$ 470 milhões), estruturas corporativas (R$ 231 milhões) e comercial e logística (R$ 230 milhões). Outras iniciativas devem contribuir com R$ 73 milhões.
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Na composição da receita, a operação de bovinos na América do Norte respondeu por 47% do faturamento total, seguida pela BRF, com 39%, e pela operação de bovinos na América do Sul, com 14%.
O desempenho mais forte veio da unidade sul-americana, com crescimento de 18% na receita e de 30% no Ebitda, diante da maior capacidade de abate e desossa.
Endividamento
Apesar da geração de caixa operacional de R$ 3,3 bilhões, a alavancagem da MBRF ficou em 3,09 vezes o Ebitda.
Esse resultado pode ser explicado pelo pagamento de R$ 3,8 bilhões em dividendos ligados à fusão, movimento que reduziu a reserva de capital e ampliou a exposição financeira.
Os custos financeiros somaram R$ 1,17 bilhão, alta de 11% em relação ao ano anterior, em meio à variação cambial e à maior dívida bruta. Rey afirmou, contudo, que a empresa mantém uma situação sólida de liquidez.
“A posição de caixa no final do trimestre foi extremamente confortável. Se excluirmos recompras e pagamento de proventos, a dívida líquida evoluiu apenas 1,7% frente ao segundo trimestre de 2025.”
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