Bloomberg — Os compradores americanos de café passaram a evitar novos acordos com o Brasil, o maior produtor de grãos no mundo, depois que a tarifa de 50% imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, entrou em vigor neste mês.
As empresas começaram a evitar novos contratos e a procurar uma margem de manobra nos contratos existentes para evitar ter que pagar as tarifas mais altas, de acordo com uma dúzia de corretores, torrefadores e exportadores ouvidos pela Bloomberg News.
Alguns compradores norte-americanos estão solicitando a extensão dos prazos de remessa na esperança de que as tarifas possam ser reduzidas posteriormente, de acordo com o grupo de exportadores brasileiros Cecafé.
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As negociações entre os Estados Unidos e o Brasil estão “totalmente paralisadas”, disse o corretor de café Thiago Cazarini. “Ninguém está comprando nada realmente”.
Cerca de um terço do café não torrado dos Estados Unidos normalmente vem do Brasil, país com o qual Trump está imerso em um conflito comercial, em parte devido ao que ele chama de “perseguição politicamente motivada” do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Aliado político de Trump, Bolsonaro está sendo julgado por uma tentativa de golpe contra o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que derrotou Bolsonaro na eleição em 2022.
Trump anunciou pela primeira vez tarifas de 10% sobre o Brasil e outros países em abril, antes de impor taxas de 50% sobre o país, que entraram em vigor em 6 de agosto.

Uma torrefadora, a Zaza Coffee, sediada na Flórida, obtém cerca de um quarto de seus grãos do Brasil e atualmente tem de 14 a 16 semanas restantes desses suprimentos. Depois que os grãos se esgotarem, a empresa pretende substituí-los por café da América Central, Peru e México, disse JP Juarez, diretor de inovação em café da Zaza.
“Temos uma certa janela dentro dessas 14 semanas em que talvez algo possa mudar no caso das tarifas”, disse Juarez. Mas “no cenário de manter as tarifas nesses níveis, provavelmente não vamos pedir café brasileiro”.
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Muitos torrefadores estão relutantes em mudar misturas de longa data no que pode vir a ser uma política de curto prazo.
A participação dominante do país torna seus grãos quase insubstituíveis, com poucas origens alternativas capazes de igualar seus volumes, de acordo com Christian Wolthers, CEO da importadora Wolthers Douqué, sediada na Flórida.
Os torrefadores também podem não querer alterar o perfil das misturas com as quais os clientes estão acostumados.
O Brasil é o maior exportador mundial de arábica, que é considerado mais suave do que o robusta e é o único grão usado pela rede de cafeterias Starbucks.
“Os torrefadores têm misturas que gostam de manter tão consistentes quanto possível em qualquer ambiente de custo”, disse Jim Watson, analista do Rabobank.
Mesmo assim, o comércio de café entre os EUA e o Brasil pode continuar a desacelerar, em linha com uma tendência observada até agora neste ano.
A marca de café cubano Café Aroma está entre as torrefadoras que “estão trabalhando para importar cafés em que a tarifa aplicável é mais previsível”, disse a vice-presidente Bernadette Gerrity.
A empresa também está comprando mais futuros de café para ajudar a proteger-se contra custos mais altos.

Colômbia, Vietnã e Honduras são as próximas maiores fontes de café para os EUA em termos de quantidade, de acordo com o Departamento de Agricultura.
O Vietnã produz principalmente robusta, uma variedade mais barata que a maioria dos americanos só conhece do café instantâneo. As importações americanas desses grãos poderiam atingir “máximas históricas”, já que as tarifas sobre o país são de apenas 20%, de acordo com Laleska Moda, analista de inteligência de mercado da Hedgepoint Global Markets.
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Os EUA também poderiam aumentar as importações da Indonésia e de Uganda, que têm tarifas substancialmente mais baixas do que as do Brasil, disse ela.
As ofertas limitadas de café hondurenho já estão com preços de 30 a 40 centavos de dólar por libra-peso acima do mercado futuro, enquanto os exportadores colombianos não têm oferecido preços para o caso de o mercado subir mais tarde, disse Tomas Araujo, trader sênior da StoneX.
Um afastamento do café brasileiro nos EUA provavelmente desviaria mais desses suprimentos para a Europa, oferecendo alívio para os compradores de lá que estão buscando grãos rastreáveis para cumprir as próximas regras de desmatamento do bloco, de acordo com Dave Behrends, chefe de negociação da Sucafina.
Mais grãos também iriam para o crescente mercado de café da China, deixando os torrefadores dos EUA diante de um mercado mais caro.
Embora a Gregorys Coffee, sediada em Nova York, tenha tido a sorte de ter recebido sua última remessa do Brasil em 2 de agosto, antes da entrada em vigor das tarifas mais altas - o que a deixou abastecida até meados de novembro -, ela precisará, eventualmente, importar outro lote que já contratou com a tarifa mais alta, disse o CEO Gregory Zamfotis. A empresa, assim como outras torrefadoras menores, está se preparando para o impacto.
“Absorver uma tarifa de 10% é quase impossível para uma pequena empresa sozinha”, disse Daria Whalen, diretora de café da Ritual Coffee Roasters, sediada em São Francisco. “Parte disso tem de ser repassada aos clientes, e 50% parece ser algo impressionante e intransponível.”
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