Marfrig: resultado cresce com impulso da América do Sul e impacto limitado de tarifas

Expansão entre um dígito alto e dois dígitos em lucro líquido, receitas e fluxo de caixa operacional foi sustentada pela operação na região, enquanto margens nos EUA seguem pressionadas, segundo executivos em entrevista a jornalistas

Empresa enfrenta preços recordes do gado na América do Norte, enquanto a recomposição do rebanho nos EUA não acontece (Foto: Jonne Roriz/Bloomberg)
15 de Agosto, 2025 | 06:05 AM

Bloomberg Línea — A Marfrig (MRFG3) registrou lucro líquido de R$ 85 milhões no segundo trimestre de 2025, alta de 13% na comparação anual, com impulso do desempenho da operação na América do Sul.

A receita líquida consolidada somou R$ 37,8 bilhões, crescimento de 8,6% em relação ao mesmo período do ano anterior, enquanto o fluxo de caixa operacional subiu 17%, para R$ 3,046 bilhões.

PUBLICIDADE

A alavancagem financeira medida pela dívida líquida gerencial e o Ebitda ajustado UDM Gerencial (últimos 12 meses) caiu de 3,38 vezes para 2,71 vezes.

Leia também: BRF tem ‘semestre histórico’ apesar de efeitos da gripe aviária, diz CEO

“Isso faz parte do nosso mantra de disciplina financeira”, disse o CEO da divisão sul-americana da empresa, Rui Mendonça, em entrevista coletiva com jornalistas nesta quinta-feira (14), em relação à diminuição da alavancagem da empresa.

PUBLICIDADE

Na América do Sul, a receita líquida subiu quase 10%, para R$ 4 bilhões, com alta de 7,8% no volume vendido e ganho de 1,8 ponto percentual na margem Ebitda ajustada, para 10,9%.

“Esse resultado robusto tem muito a ver com o aumento da capacidade produtiva e com um programa muito focado em produtos de valor agregado”, disse Mendonça.

As exportações representaram 55% da receita sul-americana, com destaque para China e Europa.

PUBLICIDADE

Não à toa, o impacto das tarifas de 50% contra o Brasil sobre os negócios impostas pelos Estados Unidos foi limitado no período, já que a região responde por apenas 2,1% da receita de exportação de carnes brasileiras.

Leia também: Agro sob risco: tarifa de 50% dos EUA ameaça exportações e eleva custos no Brasil

“Redirecionamos a produção [que iria para os EUA] para outros mercados ou para a produção de processados, como hambúrgueres. No dia-a-dia tomamos a decisão que terá o melhor resultado”, afirmou Mendonça.

PUBLICIDADE

Outro fator de atenção na América do Norte é que a indústria enfrentou preços recordes do gado e margens pressionadas.

Para Tim Klein, CEO da operação nos EUA, a recomposição do rebanho bovino dos EUA, essencial para aliviar os custos, pode demorar.

“Sabemos que há uma retenção em andamento, com redução da liquidação de fêmeas, o que deve resultar em melhoria de margens em algum momento entre 2027 e 2028”, disse.

Mesmo assim, a receita na região foi de R$ 3,3 bilhões, avanço de 5,3%. Por outro lado, o Ebitda ajustado caiu 71,8%, para R$ 25 milhões.

“O abastecimento deve permanecer apertado durante esse ciclo do gado, mas vemos sinais de melhoria no médio prazo”, acrescentou Klein.

Mercado interno e China

A companhia reforçou a aposta no mercado doméstico, que no Brasil e na Argentina concentra 75% das vendas de industrializados.

“O mercado interno brasileiro tem mostrado uma força grande, com aumento de renda, baixo desemprego e preferência por proteína”, disse Mendonça.

Na China, maior importador global de carne bovina, a expectativa é a de demanda aquecida no segundo semestre, impulsionada pelas compras para o Ano Novo Lunar.

“Os preços para a China no segundo trimestre foram 25% superiores aos do mesmo período de 2024”, disse.

Incorporação pela Marfrig

Em abril, a Marfrig anunciou a incorporação das ações da BRF. A nova companhia, batizada de MBRF Global Foods Company, já obteve a aprovação dos acionistas.

O negócio ainda depende do aval do Cade (Conselho Econômico de Defesa Econômica). Segundo executivos da Marfrig, a expectativa é que a conclusão deva ocorrer em setembro.

Leia também

Marcos Molina: o self-made man por trás da nova gigante mundial de alimentos

Naiara Albuquerque

Formada em jornalismo pela Fáculdade Cásper Líbero, tem mestrado em Ciências da Comunicação pela Unisinos, e acumula passagens por veículos como Valor Econômico, Capricho, Nexo Jornal e Exame. Na Bloomberg Línea Brasil, é editora-assistente especializada na cobertura de agronegócios.