Bloomberg Línea — Desde que Marcel de Barros assumiu como o primeiro CEO profissional da Tirolez, em janeiro de 2022, uma das principais fabricante de queijos do país entrou em uma nova fase.
O executivo colocou foco em reforçar processos e preparar a migração para uma estrutura de sociedade anônima em vez da LTDA, medida que, segundo ele, deve “reforçar ainda mais a governança” e abrir caminho para captação e novos sócios.
Ao mesmo tempo, a empresa tem expandido o portfólio e mirado em produtos de maior valor agregado enquanto consolida a primeira aquisição de sua história.
A compra da Levitare, especializada em queijos de búfala, foi concretizada em outubro deste ano. O valor do negócio não foi divulgado.
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A operação está diretamente relacionada à estratégia da companhia ao complementar o portfólio, disse Barros em entrevista à Bloomberg Línea.
“A Levitare atua em um nicho de mercado que, para nos, é interessante e que nos complementa”, disse.
Na frente de produtos, a Tirolez tem buscado fortalecer a atuação em queijos de alto valor agregado, enquanto acompanha o avanço do food service e as tendências que ganham força entre consumidores.
Uma delas é a busca crescente por alimentos proteicos, o que levou a empresa a lançar, por exemplo, sticks de mussarela — e em versão zero lactose —, além da maior aposta no queijo coalho, tradicional em churrascos, agora disponível para preparo na air fryer.
“A nossa ambição é crescer por ano no mínimo 10%”, disse Barros.

A expectativa de crescimento da empresa também está alinhada ao consumo considerado ainda baixo de queijo no Brasil: hoje está em torno de 7 quilos por habitante ao ano.
Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias de Queijo (Abiq), a perspectiva é atingir 10 quilos per capita em 2030.
Para o CEO, esse baixo patamar de consumo de queijo no país ainda representa potencial de expansão conforme a renda cresce ano a ano.
O teor de sólidos do leite brasileiro ainda é baixo na comparação com mercados concorrentes: com “10%, 15% até 20% a menos sólidos” do que outros locais, o que reduz a competitividade industrial, disse.
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O tamanho e variedade do portfólio da empresa contribuem com o avanço no país, que vai dos queijos mais consumidos no dia a dia, como muçarela, ricota e requeijão, até variedades mais finas, como brie e camembert.
Ao todo, a Tirolez está presente em 28 categorias, com 130 SKUs (itens específicos de produtos). A estratégia de lançamentos é concentrada em dois momentos do ano: uma em março e outra em setembro.
A chegada de Barros ocorreu após a empresa ter permanecido por muitos anos sob comando direto de seus fundadores, Cícero Hegg e Carlos Hegg.
Em 1980, os irmãos compraram uma pequena fábrica de queijos da marca Franco. Um ano depois, nasceu a Tirolez, nome dado em referência à cidade de Tiros, em Minas Gerais.
Em 2025, a empresa completou 45 anos de atuação no país.

Os irmãos Hegg permanecem como controladores e sócios fundadores e integram o conselho consultivo da companhia.
Antes da Tirolez, Barros foi Vice Presidente de Dairy e Culinary na Nestlé e CEO na Purina, de ração animal, também da gigante suíça.
Transformação em SA
A transformação da Tirolez em Sociedade Anônima, prevista para ocorrer a partir de janeiro, é um dos principais planos da companhia para o próximo ano.
Segundo Barros, a mudança “reforça ainda mais a governança” e abre três rotas possíveis para o futuro: captação de recursos, entrada de sócios estratégicos e até um IPO (oferta pública inicial), caso “haja uma janela propícia”, disse.
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“É difícil atrair alguém para participar em uma [estrutura de] LTDA. Agora, em uma SA, é muito mais comum esse tipo de operação”, disse o executivo ao explicar as diferenças entre os modelos societários e por que a transformação em SA seria interessante para a Tirolez.
A mudança para uma estrutura de SA também garantiria maior nível de profissionalização da marca, presente em 27 estados.
Apesar da estratégia que segue com foco no mercado interno, o exterior vem conquistando espaço. A Tirolez exporta para Estados Unidos, Paraguai e Argentina e trabalha para ampliar essa frente.

Entre os mercados no radar da empresa estão países africanos, como Angola e Moçambique. O Oriente Médio também aparece como possibilidade, assim como novos destinos na América do Sul, especialmente Chile e Equador.
Essa estratégia busca destinos para os produtos típicos brasileiros, como o requeijão e o queijo coalho.
Em 2024, o faturamento da Tirolez somou R$ 1,5 bilhão. Para este ano, a meta é atingir o patamar de R$ 2 bilhão, com crescimento de 33%.
A capacidade produtiva vem crescendo: em 2024, o volume produzido foi de 50 mil toneladas ao ano. Em 2025, a estimativa é crescer 5%, para 52,5 mil toneladas.
Investimentos nessa frente também estão sendo realizados.
É o caso da expansão da unidade de Caxambu do Sul (Santa Catarina) em 2024, focada na produção de mussarela e requeijão.
Ao todo, a companhia tem cinco unidades industriais. A primeira, em Tiros (Minas Gerais), produz queijos como gorgonzola, gouda, coalho e suíço.
Há uma segunda unidade em Arapuá, também em Minas, que produz creme de leite, manteiga, parmesão e minas padrão, entre outros.
E mais duas em São Paulo: uma em Lins, que produz requeijão, cottage e fondue. A segunda, em Monte Aprazível, produz cremes de ricota e minas frescal.
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