Soja brasileira ganha força com expansão do plantio e desafia produtores americanos

Com redução de vendas americanas para a China, Brasil pretende aumentar a área plantada em 3,7% nesta safra e semear mais 1,7 milhão de hectares, o maior salto em três anos

O Brasil deve aumentar a área plantada em 3,7% nesta temporada e semear mais 1,7 milhão de hectares (Foto: Dado Galdieri/Bloomberg)
Por Dayanne Sousa - Michael Hirtzer
23 de Setembro, 2025 | 12:51 PM

Bloomberg — A safra atual tem sido difícil para os produtores de soja americanos, com preços próximos às mínimas de vários anos e nenhuma carga vendida para a China.

Agora, outra ameaça se aproxima, com a expansão do plantio por fazendeiros brasileiros que possivelmente pode inundar o mercado.

PUBLICIDADE

O Brasil deve aumentar a área plantada em 3,7% nesta safra e semear mais 1,7 milhão de hectares, informou a Conab na semana passada.

Leia também: China usa soja como ‘moeda de troca’ em disputa com os EUA e amplia aposta no Brasil

Esse é o maior salto em três anos. Se as condições climáticas permanecerem favoráveis, a produção de soja do Brasil atingirá o segundo recorde anual consecutivo.

PUBLICIDADE

É o mais recente desafio para os produtores americanos, que veem o Brasil como seu principal concorrente.

A China, principal compradora, já tem evitado compras americanas em favor de suprimentos do Brasil, à medida que as tensões comerciais entre Pequim e Washington se prolongam.

A perspectiva de outra grande safra brasileira reduz ainda mais a necessidade de processadores chineses fazerem pedidos de soja dos Estados Unidos.

PUBLICIDADE

“Com a guerra comercial entre EUA e China, o Brasil exportou muito mais soja, o que incentiva os produtores a expandir a área”, disse Rafael Silveira, analista da consultoria Safras & Mercado.

Leia também: Impasse entre EUA e China amplia protagonismo do Brasil nas exportações de soja

Brasil aumenta liderança na produção de soja

O aumento na perspectiva para a safra brasileira ocorre depois que os agricultores americanos reduziram o plantio de soja para o menor nível desde o primeiro mandato do presidente Donald Trump e a disputa comercial inicial com a China em 2019.

PUBLICIDADE

Embora o plantio de menos grãos tenha ajudado a minimizar a pressão do desvio da China do fornecimento americano, a desaceleração comercial faz parte da mudança de longo prazo na demanda que está afetando os produtores americanos.

O governo Trump sinalizou recentemente que os agricultores podem precisar de mais ajuda do governo.

Leia também: Trump pressiona China a quadruplicar compras de soja dos EUA e cotação sobe quase 3%

“Os EUA simplesmente entregarem participação de mercado ao Brasil não é bom para nós a longo prazo”, disse Stephen Nicholson, estrategista global do setor de grãos e oleaginosas do banco Rabobank.

O Brasil continuou a enviar altos volumes de soja para a China em setembro, o que é incomum, já que normalmente a China compra mais dos EUA durante o outono.

Um total de 3,6 milhões de toneladas de soja foram enviadas para a China na primeira quinzena de setembro, segundo dados da agência marítima Alphamar. Isso representa 68% a mais do que no mesmo período do ano passado.

“Se a safra brasileira for plantada a tempo, eles poderão ter soja pronta para exportação em janeiro”, disse Matthew Kruse, presidente da Commstock Investments. Se a China não comprar nada dos EUA até lá, isso mostrará que “eles não precisam mais da nossa soja”.

Com certeza, a perspectiva da Conab para a safra brasileira é superior a muitas estimativas do mercado. Consultorias como Safras & Mercado, Pátria Agronegócios e AgRural projetam uma taxa de crescimento da área entre 1,2% e 2%.

Os produtores rurais brasileiros também estão preocupados com o custo da dívida devido às altas taxas de juros no país, de acordo com Zilto Donadello, produtor de soja e milho no Mato Grosso, estado com maior produção agrícola. Mesmo assim, a expansão é vista como um movimento natural.

“O Brasil é um país em desenvolvimento, a cada ano há alguma expansão”, disse Donadello. “Os produtores rurais são otimistas por natureza”, acrescentou.

Mesmo com o aumento dos custos de produção da soja devido aos preços mais altos dos fertilizantes no Brasil, os produtores ainda podem lucrar.

Com a produtividade média, espera-se que os produtores do Mato Grosso registrem um lucro antes de juros e impostos de R$ 1.103 por hectare, de acordo com o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária, Imea.

Ainda é um retorno saudável, embora seja 44% menor do que no ano passado, quando a produtividade elevada impulsionou os lucros na região.

Enquanto isso, as projeções iniciais apontam para um pequeno aumento no plantio de soja nos EUA no próximo ano.

Como os agricultores americanos costumam alternar entre as duas culturas mais amplamente semeadas, soja e milho, alguns hectares naturalmente retornarão à soja após um pico no plantio de milho neste ano.

O Instituto de Pesquisa de Políticas Agrícolas e Alimentares da Universidade do Missouri estimou no início deste mês que a semeadura de soja nos EUA atingirá 82,6 milhões de acres no próximo ano, acima dos 80,9 milhões deste ano.

Isso sinaliza um aumento na oferta global, enquanto a demanda chinesa não cresce tão rapidamente quanto nos anos anteriores, disse a analista da AgRural, Daniele Siqueira.

Embora isso possa ser um problema em potencial, ela disse que o problema para o Brasil está sendo mitigado pelas tensões comerciais.

“Se não fosse pela guerra comercial, acabaríamos com estoques altos e talvez víssemos preços mais baixos”, disse Daniele.

Veja mais em bloomberg.com