Fusão entre Marfrig e BRF deve acelerar sinergias e crescimento, diz Molina

A MBRF Global Foods nasce com cerca de 75% das receitas no exterior, diz Marcos Molina em call com analistas; sinergias devem chegar a R$ 805 milhões ao ano, dos quais até R$ 500 milhões já no primeiro ano

Nova empresa nasce como uma das maiores do mundo na produção e no processamento de carnes
16 de Maio, 2025 | 10:35 AM

Bloomberg Línea — A MBRF, empresa resultante da fusão anunciada entre BRF e Marfrig, nascerá com um faturamento combinado da ordem de R$ 152 bilhões e a projeção de ganhos relevantes de sinergias estratégicas, operacionais e fiscais.

As sinergias estimadas com a fusão somam R$ 805 milhões por ano em três frentes principais: receitas e custos, despesas operacionais e ganhos fiscais.

PUBLICIDADE

Para o primeiro ano, os ganhos com sinergias podem oscilar entre R$ 400 milhões e R$ 500 milhões.

“A partir de agora, a fusão é uma etapa necessária que vai nos permitir capturar uma nova onda de relevantes sinergias”, afirmou Marcos Molina, presidente do conselho das duas empresas, em teleconferência nesta manhã de sexta-feira (16).

Leia também: Marfrig anuncia acordo para incorporar BRF e criar gigante com R$ 152 bi em receita

PUBLICIDADE

Na frente comercial e de suprimentos, os executivos projetam ganhos da ordem de R$ 485 milhões por ano com iniciativas como venda cruzada (cross-selling), aumento do volume de processados e otimização da logística.

Do lado das despesas, a fusão poderá trazer ganhos de R$ 320 milhões ao ano, com a unificação de estruturas corporativas, integração de sistemas e racionalização de processos.

Do lado fiscal, o ganho estimado é de R$ 3 bilhões.

PUBLICIDADE

“Essa segunda etapa de sinergias só é possível com a combinação formal das companhias. E o fato de já termos atuado juntos nos últimos três anos reduz o risco de execução”, explicou Miguel Gularte, CEO da BRF, na teleconferência.

A operação prevê a troca de 0,8521 ação da Marfrig (MRFG3) por cada papel da BRF (BRFS3), já considerando a distribuição de proventos que totalizam R$ 6 bilhões entre as duas companhias - R$ 3,5 bilhões da BRF e R$ 2,5 bilhões da Marfrig.

Novos mercados

Com portfólios complementares, BRF e Marfrig combinarão forças para ampliar sua presença nos mercados de proteínas animal e processados. Nos EUA, a National Beef é líder em carne premium.

PUBLICIDADE

O empresário Marcos Molina, que assumiu o controle da BRF em 2022, aposta em uma plataforma multiporteína presente em regiões estratégicas. Além do Brasil, a operação da empresa estará nos EUA, no Oriente Médio e na Ásia - sobretudo a China.

Leia também: Da air fryer à proteína: Seara planeja próximo salto no consumo de alimentos

Do faturamento combinado, cerca de 77% será proveniente de operações internacionais, cuja estratégia ambas as empresas têm desenhando ao longo dos últimos anos.

Do total, 43% será proveniente da operação americana da National Beef, e 24%, do Brasil.

O “braço” de alimentos processados também seguirá sendo chave para a nova empresa e representará cerca de 38% do volume de vendas.

A National Beef, braço americano da Marfrig, segue como peça-chave dos negócios.

Desde a aquisição pela Marfrig em 2018, a operação americana distribuiu US$ 5,9 bilhões em dividendos - e pode ser o trampolim para a possível redomiciliação.

Retorno ao acionista no radar

Após quatro anos de reestruturação na BRF sob a liderança da Marfrig, os sinais de virada já eram visíveis: a distribuição de dividendos voltou após oito anos, e a margem Ebitda mais que dobrou.

A expectativa agora é a de aceleração dos negócios, com a fusão - assim que aprovada - como catalisador de um novo ciclo.

“A cultura de alta performance e os valores em comum são a base para este novo capítulo. Estamos confiantes de que essa fusão trará consigo oportunidades de crescimento e um futuro ainda mais promissor, já que juntos somos mais fortes”, disse Molina.

Leia também: JBS terá votação sobre dupla listagem em 23 de maio e pode estrear na NYSE em junho

A operação ainda depende da aprovação dos acionistas de ambas as companhias, em assembleias agendadas para 18 de junho, além de autoridades regulatórias. A expectativa dos executivos é que a nova operação passe a funcionar em julho.

O executivo por trás da operação

Marcos Molina, hoje com 55 anos, se notabilizou pela estratégia de crescimento orgânico e inorgânico agressivo, com compra e venda de ativos no Brasil e no exterior, que pressionou a dívida em diferentes ocasiões.

Em 25 anos, ele saiu da compra de sua primeira unidade de processamento em Bataguassu, em Mato Grosso do Sul, próximo à divisa com São Paulo, para erguer um império da carne que nasce com valor de mercado superior a R$ 50 bilhões e presença em 117 países.

Mais recentemente, ele trouxe para a BRF o fundo soberano saudita Salic, que se tornou o segundo maior acionista da companhia, em movimento visto no mercado como fundamental para viabilizar a então futura fusão.

“Vejo muito mais oportunidades na BRF do que em qualquer outra empresa que compramos no passado [...] Temos a convicção de que vamos conseguir. É apenas uma questão de quando”, disse Molina à Bloomberg News há dois anos, em rara entrevista, em referência à então potencial fusão entre Marfrig e BRF.

Leia também

Marcos Molina recupera a BRF e doma o mercado de frango após anos de tentativas

Lucro da JBS sobe 77% e vai a R$ 2,9 bilhões, com impulso de Pilgrim’s e Seara

Naiara Albuquerque

Formada em jornalismo pela Fáculdade Cásper Líbero, tem mestrado em Ciências da Comunicação pela Unisinos, e acumula passagens por veículos como Valor Econômico, Capricho, Nexo Jornal e Exame. Na Bloomberg Línea Brasil, é editora-assistente especializada na cobertura de agronegócios.