Bloomberg Línea — A MBRF, empresa resultante da fusão anunciada entre BRF e Marfrig, nascerá com um faturamento combinado da ordem de R$ 152 bilhões e a projeção de ganhos relevantes de sinergias estratégicas, operacionais e fiscais.
As sinergias estimadas com a fusão somam R$ 805 milhões por ano em três frentes principais: receitas e custos, despesas operacionais e ganhos fiscais.
Para o primeiro ano, os ganhos com sinergias podem oscilar entre R$ 400 milhões e R$ 500 milhões.
“A partir de agora, a fusão é uma etapa necessária que vai nos permitir capturar uma nova onda de relevantes sinergias”, afirmou Marcos Molina, presidente do conselho das duas empresas, em teleconferência nesta manhã de sexta-feira (16).
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Na frente comercial e de suprimentos, os executivos projetam ganhos da ordem de R$ 485 milhões por ano com iniciativas como venda cruzada (cross-selling), aumento do volume de processados e otimização da logística.
Do lado das despesas, a fusão poderá trazer ganhos de R$ 320 milhões ao ano, com a unificação de estruturas corporativas, integração de sistemas e racionalização de processos.
Do lado fiscal, o ganho estimado é de R$ 3 bilhões.
“Essa segunda etapa de sinergias só é possível com a combinação formal das companhias. E o fato de já termos atuado juntos nos últimos três anos reduz o risco de execução”, explicou Miguel Gularte, CEO da BRF, na teleconferência.
A operação prevê a troca de 0,8521 ação da Marfrig (MRFG3) por cada papel da BRF (BRFS3), já considerando a distribuição de proventos que totalizam R$ 6 bilhões entre as duas companhias - R$ 3,5 bilhões da BRF e R$ 2,5 bilhões da Marfrig.
Novos mercados
Com portfólios complementares, BRF e Marfrig combinarão forças para ampliar sua presença nos mercados de proteínas animal e processados. Nos EUA, a National Beef é líder em carne premium.
O empresário Marcos Molina, que assumiu o controle da BRF em 2022, aposta em uma plataforma multiporteína presente em regiões estratégicas. Além do Brasil, a operação da empresa estará nos EUA, no Oriente Médio e na Ásia - sobretudo a China.
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Do faturamento combinado, cerca de 77% será proveniente de operações internacionais, cuja estratégia ambas as empresas têm desenhando ao longo dos últimos anos.
Do total, 43% será proveniente da operação americana da National Beef, e 24%, do Brasil.
O “braço” de alimentos processados também seguirá sendo chave para a nova empresa e representará cerca de 38% do volume de vendas.
A National Beef, braço americano da Marfrig, segue como peça-chave dos negócios.
Desde a aquisição pela Marfrig em 2018, a operação americana distribuiu US$ 5,9 bilhões em dividendos - e pode ser o trampolim para a possível redomiciliação.
Retorno ao acionista no radar
Após quatro anos de reestruturação na BRF sob a liderança da Marfrig, os sinais de virada já eram visíveis: a distribuição de dividendos voltou após oito anos, e a margem Ebitda mais que dobrou.
A expectativa agora é a de aceleração dos negócios, com a fusão - assim que aprovada - como catalisador de um novo ciclo.
“A cultura de alta performance e os valores em comum são a base para este novo capítulo. Estamos confiantes de que essa fusão trará consigo oportunidades de crescimento e um futuro ainda mais promissor, já que juntos somos mais fortes”, disse Molina.
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A operação ainda depende da aprovação dos acionistas de ambas as companhias, em assembleias agendadas para 18 de junho, além de autoridades regulatórias. A expectativa dos executivos é que a nova operação passe a funcionar em julho.
O executivo por trás da operação
Marcos Molina, hoje com 55 anos, se notabilizou pela estratégia de crescimento orgânico e inorgânico agressivo, com compra e venda de ativos no Brasil e no exterior, que pressionou a dívida em diferentes ocasiões.
Em 25 anos, ele saiu da compra de sua primeira unidade de processamento em Bataguassu, em Mato Grosso do Sul, próximo à divisa com São Paulo, para erguer um império da carne que nasce com valor de mercado superior a R$ 50 bilhões e presença em 117 países.
Mais recentemente, ele trouxe para a BRF o fundo soberano saudita Salic, que se tornou o segundo maior acionista da companhia, em movimento visto no mercado como fundamental para viabilizar a então futura fusão.
“Vejo muito mais oportunidades na BRF do que em qualquer outra empresa que compramos no passado [...] Temos a convicção de que vamos conseguir. É apenas uma questão de quando”, disse Molina à Bloomberg News há dois anos, em rara entrevista, em referência à então potencial fusão entre Marfrig e BRF.
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