Bloomberg — Os ovos foram o símbolo da inflação de alimentos no fim do ano passado nos EUA. Os hambúrgueres podem ser os próximos.
Os preços da carne bovina nos EUA estão prontos para ampliar sua alta e devem atingir o novos recordes nos próximos meses.
Isso de dá porque as restrições às importações brasileiras pressionam ainda mais os já escassos suprimentos domésticos, de acordo com o comerciante global de carnes Parker-Migliorini International.
“Poderemos ver uma escassez no mercado”, disse o presidente da PMI Foods, Darin Parker, em uma entrevista à Bloomberg News.
“Os preços da carne bovina poderiam ser semelhantes ao problema dos ovos do governo Biden, devido aos aumentos extremos de preços que teriam de ocorrer.”
Os ovos se tornaram um símbolo dos altos preços dos alimentos no final do mandato do presidente Joe Biden, depois que um surto de gripe aviária fez os custos dispararem no inverno passado.
O aumento dos preços dos ovos e as prateleiras vazias nos supermercados chamaram a atenção de todos - inclusive do presidente Donald Trump, que repetidamente apontou para isso ao atacar o histórico econômico de Biden.
Agora, a carne bovina ocupa o centro do palco.
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Os preços aumentaram por oito meses consecutivos em uma base não ajustada sazonalmente, e agosto marcou o maior salto mensal em quase quatro anos, de acordo com os dados mais recentes do Bureau of Labor Statistics dos EUA.
A oferta restrita de gado do maior produtor de carne bovina do mundo impulsiona o aumento.
O número de vacas processadas semanalmente pelos frigoríficos dos EUA, incluindo a Tyson Foods e a JBS, caiu quase 9% em relação ao ano anterior neste trimestre, atingindo níveis vistos pela última vez em 2016.
O aperto reflete o menor rebanho dos EUA em décadas e a recente proibição de compra de animais do México por questões sanitárias.
Até o momento, o impacto sobre os consumidores norte-americanos foi atenuado por um aumento nas importações neste ano, com as compras do Brasil, o maior exportador de carne bovina do mundo, quase dobrando até julho deste ano.
Mas, nas últimas semanas, os embarques ficaram à beira da paralisação depois que Trump impôs, em agosto, uma tarifa adicional de 40% sobre os produtos do país sul-americano.
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“O Brasil está meio que fora do jogo nesta fase, porque ninguém pode realmente pagar essa tarifa”, disse Parker, que também faz parte do comitê executivo da Federação de Exportação de Carnes dos EUA, um grupo do setor.
Após as tarifas retaliatórias, as exportações de carne bovina do Brasil estão agora sujeitas a uma taxa total de 76,4% para entrar no mercado americano.
A pressão sobre os preços da carne bovina nos EUA deve se intensificar à medida que os estoques acumulados antes das tarifas de 6 de agosto forem reduzidos nos próximos meses, o que deu a outros fornecedores mais influência em meio à redução da concorrência do Brasil, disse Parker.
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A Austrália - onde a produção de carne bovina deverá atingir um recorde em 2025 e cujas exportações para os EUA enfrentam apenas a tarifa básica de 10%, de acordo com os acordos comerciais existentes - será a maior beneficiada.
As remessas do segundo maior fornecedor dos EUA aumentaram 22% este ano até agosto, de acordo com dados do governo australiano.
Os EUA também observaram um aumento nos embarques de países como Uruguai e Argentina, que agora estão sujeitos a uma tarifa de 36,4% para volumes que excedem uma pequena cota de comércio livre de impostos.
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Parker também espera que o México importe mais carne bovina do Brasil como parte dos esforços para exportar mais de seu próprio produto para os EUA.
“Todos estão têm comprado produtos e tentado se antecipar a isso. Mas eu simplesmente não acredito que haja volume suficiente para satisfazer a demanda”, disse Parker.
“A única pessoa que realmente é prejudicada em tudo isso é o consumidor americano.”
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