Café em alta, suco de laranja em queda: tarifas ao Brasil afetam preços agrícolas

Futuros de suco de laranja caíram enquanto as cotações de café tiveram aumento em Nova York depois que o presidente Donald Trump assinou decreto para impor tarifas de 50% ao país, mesmo isentando centenas de produtos

Crates of oranges on a truck before being processed and cleaned at a packing house in Itupeva, Sao Paulo state, Brazil, on Tuesday, Aug. 3, 2021. Orange quality has been hurt after a severe frost affected Sao Paulo groves, probably reducing industry yield efficiency.
Por Dayanne Sousa - Clarice Couto - Ilena Peng
31 de Julho, 2025 | 02:50 PM

Bloomberg — A tarifa de 50% imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre os produtos do Brasil, afetou os mercados de produtos agrícolas, provocando a queda dos preços do suco de laranja e a alta das cotações de café.

A ordem executiva de Trump continha algumas isenções significativas, incluindo o suco de laranja. Ainda assim, a carne bovina e o café do maior exportador do mundo continuam na lista de commodities que estarão sujeitas a tarifas de importação.

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Os futuros do suco de laranja negociados em Nova York despencaram na máxima da bolsa, enquanto o café subiu até 3,5% nesta quinta-feira (31). Os mercados já estavam fechados quando a ordem executiva foi emitida na quarta-feira.

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“O mercado reagiu à notícia de que o café não está na lista de isenção e, em teoria, estará sujeito a tarifas”, disse Fernando Maximiliano, analista da StoneX.

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“Ainda há incertezas sobre uma possível isenção, mas, por enquanto, é um sinal de alta para os futuros de Nova York, e isso significa custos mais altos do café nos Estados Unidos.”

Os Estados Unidos são responsáveis por cerca de 40% das exportações de suco de laranja do Brasil e 16% dos embarques de café do país.

Embora a China seja o maior mercado para a carne bovina do Brasil, as exportações para os Estados Unidos têm aumentado à medida que o rebanho americano diminui para o nível mais baixo em 73 anos.

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Os contratos futuros do suco de laranja para entrega em setembro caíram 25 centavos, caindo 8,8%, para US$ 2,6015 por libra-peso na ICE Futures US.

O café arábica subiu até 3,5%, para US$ 3,036 a libra, antes de cair ligeiramente para US$ 2,971 a libra às 10h44 em Nova York.

Mesmo antes do anúncio de quarta-feira, a expectativa de tarifas já estava afetando as exportações de café. Os importadores norte-americanos pediram para adiar os embarques do Brasil, de acordo com pessoas familiarizadas com os negócios que falaram à Bloomberg News e pediram para não serem identificadas, discutindo negociações privadas.

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A mudança já é visível nos dados. O Brasil embarcou apenas 2,4 milhões de sacas de café para todos os países neste mês até 29 de julho. Isso se compara a 3,8 milhões de sacas durante todo o mês de julho de 2024, de acordo com dados do grupo industrial Cecafé. O país está no meio de sua colheita de café, portanto, os suprimentos são amplos.

As tarifas também afetaram o mercado de carnes. A Abiec, associação do setor, diz que algumas fábricas interromperam a produção de produtos normalmente enviados para os Estados Unidos.

As importações americanas de carne bovina do Brasil caíram 23% este mês até 27 de julho, de acordo com dados da alfândega dos EUA compilados pela IHS Markit.

As autoridades brasileiras ainda estão fazendo lobby para obter mais isenções tarifárias.

O Cecafé e a Associação Nacional do Café disseram que estão trabalhando para isso. O café não é produzido no território continental dos Estados Unidos, e o Secretário de Comércio, Howard Lutnick, disse em uma entrevista à CNBC na terça-feira que os produtos não produzidos nos Estados Unidos poderiam ser isentos de impostos à medida que os acordos comerciais fossem firmados.

“O bom senso tem que prevalecer, e acho que isso acontecerá”, disse Judy Ganes, presidente da J. Ganes Consulting, sobre as tarifas sobre o café. “Mas eles não estão facilitando a chegada a esse ponto, só isso. E isso cria uma enorme quantidade de angústia.”

-- Com a colaboração de Gerson Freitas Jr. e Mariana Durao.

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