Bloomberg Línea — A aplicação de ferramentas digitais deixou de ser uma promessa de um futuro distante e passou a fazer parte das estratégias de produtores e companhias que buscam elevar a produtividade no campo. No caso da BASF, essa aposta tem gerado resultados concretos especialmente no algodão.
Segundo dados compartilhados com exclusividade pela companhia com a Bloomberg Línea, testes com a tecnologia de semeadura em taxa variável da plataforma digital xarvio e o uso de sementes FiberMax da empresa apresentaram um ganho médio de 10,2 arrobas por hectare.
Os testes foram conduzidos na safra 2023/24 em 49 lavouras do Mato Grosso e, segundo executivos da companhia, mostram como o zoneamento produtivo digital começou a alterar a lógica de manejo na cotonicultura.
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“Estamos construindo essa jornada desde 2014, e hoje todos os projetos relacionados à digitalização e novos modelos de negócio passam pela nossa área”, disse Almir Araújo, diretor de Digital, Novos Modelos de Negócio e Excelência da companhia.
Segundo ele, a ferramenta gera recomendações de densidade de semeadura em menos de 48 horas, com base no histórico de imagens de satélite.
Tecnologia que nasceu na Bayer
Embora a adoção de ferramentas digitais tenha se acelerado nos últimos anos, a estratégia da BASF em agricultura digital começou há mais de uma década.
Em 2014, a empresa criou uma vertical dedicada à digitalização. Em 2016, lançou o programa AgroStart para impulsionar agtechs, e, um ano depois, centralizou a estratégia num escritório regional de digital, segundo Araújo.
A presença atual da BASF em sementes e biotecnologia também é fruto da compra, em 2018, do segmento de sementes da Bayer por € 7,4 bilhões — uma operação exigida por reguladores dos EUA para viabilizar a aquisição da Monsanto.
Foi nesse processo que o xarvio, então pertencente à Bayer, passou ao portfólio da BASF.
Entre 2020 e 2022, a companhia ampliou a estratégia digital com novos modelos de negócio e plataformas de crédito.
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Atualmente, mais de 11 milhões de hectares já foram cadastrados no xarvio.
Essa tecnologia opera em sete países: Japão, Alemanha, França, Estados Unidos, Canadá, Brasil e Argentina. Segundo Dressano, a BASF começou a rodar comercialmente o xarvio no mercado brasileiro em 2019.
Expansão da digitalização
Nos últimos anos, a companhia tem feito uma mudança em sua estratégia para se tornar uma empresa que oferece diferentes soluções ao produtor rural. Essa alteração ocorre em um mercado que tem buscado produzir de forma mais sustentável com cada vez menos.
No último balanço financeiro publicado pela companhia em 29 de outubro de 2025, referente ao terceiro trimestre, o segmento de soluções agrícolas registrou um avanço do Ebitda de € 49 milhões para € 80 milhões.
As vendas no segmento recuaram 5,4 % frente ao mesmo período do ano anterior devido aos efeitos cambiais negativos, segundo o balanço financeiro.
“Trabalhamos a inovação com foco nas necessidades reais do campo para integrar sementes e traits, químicos e biológicos e soluções digitais, em vez de oferecer produtos isolados. Nosso foco é otimizar a produtividade e a lucratividade dos agricultores”, disse Marcelo Batistela, vice-presidente da BASF Soluções para Agricultura no Brasil.
No campo, essa mudança se traduz em ferramentas que vão do plantio à colheita: taxa variável de sementes e fertilizantes, mapeamento digital de plantas daninhas, monitoramento da lavoura e aplicação de regulador de crescimento com drones.
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Desde 2022, a empresa também expandiu o uso da tecnologia para cooperativas e distribuidores, para ampliar o acesso de produtores médios e pequenos.
O xarvio pode ser utilizado por diferentes perfis de produtores desde que o maquinário seja compatível com leitura de mapas.
“Nossa estratégia é expandir o uso de soluções digitais para o sistema de cultivo prioritário para o nosso negócio, que envolve algodão, soja, milho e arroz. Estas são as lavouras que deverão ter maior crescimento de adoção das nossas tecnologias digitais”, disse Batistela.
Taxa variável
A tecnologia de taxa variável do xarvio se baseia nas chamadas Power Zones, zonas de manejo criadas a partir de cerca de nove anos de dados históricos.
Os algoritmos identificam áreas com maior e menor potencial produtivo e geram mapas automáticos para o ajuste da população de sementes ao longo do talhão em vez de uma dose única.
No algodão, os ganhos foram maximizados quando esse manejo foi combinado à genética FiberMax.
“A planta de algodão como um todo ganha quando a gente integra essa tecnologia e garante uma melhor população para cada tipo de solo”, disse.
“Isso não é uma questão exclusivamente relacionada à genética dessas variedades, e sim pelo que é a planta do algodão e o que a tecnologia agrega”, explica Alexandre Garcia Santaella, gerente de marketing de FiberMax.
Além da semeadura, o xarvio suporta aplicações de manejo com drones: tanto no mapeamento de plantas daninhas quanto na aplicação de regulador de crescimento.
A aplicação localizada reduz volume de defensivos, passadas de máquinas e consumo de água e diesel.
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Segundo Guilherme Dressano, gerente de agronomia digital do xarvio, o uso combinado dessas tecnologias também gera incremento em outras culturas: 2% a 3% na soja e até 4% no milho, segundo testes conduzidos pela companhia.
No caso do algodão, os incrementos de produtividade ocorrem em um momento de crescimento da cultura no país.
Segundo a Conab, a produtividade média da pluma está em 184,6 arrobas por hectare na safra 2024/25.
Para o próximo ciclo, a expectativa é que haja um incremento de 2,5% na área plantada para 2025/26, o que pode gerar uma produção de cerca de 4 milhões de toneladas de pluma.
Novas variedades
A companhia estuda lançar variedades dentro da linha de sementes FiberMax, com resistência a herbicidas, nematoides e ramulária, um tipo de fungo que afeta a folha do algodão.
O desenvolvimento de novas variedades é resultado de um programa da companhia que conduz de 5.000 a 7.000 cruzamentos por ano e leva cerca de sete anos para lançar duas a três variedades ao mercado de cada vez.
“O produtor precisa confiar que a semente vai gerar o resultado esperado. Por isso, investimos continuamente em pesquisa e desenvolvimento”, disse Santaella.
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