Além da vacina: MSD Saúde Animal quer avançar em prevenção e ‘falar’ com os bichos

Delair Bolis, presidente para Brasil, Paraguai, Uruguai e Bolívia, conta à Bloomberg Línea como a empresa americana cresce em ritmo acelerado ao mesmo tempo em que desenvolve soluções que unem tecnologia, dados, saúde e produtividade animal

As cadeias de avicultura e suinocultura representam cerca de 30% da receita da divisão animal da farmacêutica no país (Foto: Chris Ratcliffe/Bloomberg)
17 de Julho, 2025 | 12:54 PM

Bloomberg Línea — No agronegócio, há uma máxima repetida entre especialistas e empresários: a atividade agrícola é cíclica e, por isso, leva os integrantes da cadeia a conviver com a volatilidade inerente a safras, preços e climas.

Não à toa, companhias do setor têm ancorado suas estratégias em pilares de perenidade como a biosseguridade, que busca prevenir e controlar a disseminação de doenças em sistemas produtivos animais.

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No caso da americana MSD Saúde Animal, controlada pela americana MSD, esse pilar se soma à tecnologia.

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A farmacêutica investe cerca de 20% do faturamento global em inovação e no desenvolvimento de novos produtos e vê no Brasil sua segunda maior operação no mundo, atrás apenas dos EUA.

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No país, a divisão de saúde animal da farmacêutica projeta ultrapassar R$ 2 bilhões em receita ainda neste ano.

A aposta em P&D tem gerado, inclusive, frutos e boas oportunidades na América Latina, com foco no Brasil, segundo contou Delair Bolis, presidente da MSD Saúde Animal para Brasil, Paraguai, Uruguai e Bolívia.

O executivo, que é veterinário de formação, assumiu há seis anos a frente dos negócios da MSD Saúde Animal na região. Antes disso, havia sido presidente da empresa de vacinas Vallée e já tinha atuado como diretor de negócios de aves da MSD entre 2012 e 2017.

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O executivo contou que há uma área dentro da organização chamada de Estratégia e Inovação, que foi criada em 2019 antes de uma série de aquisições justamente para reforçar essa área.

“Quando falamos de tecnologia, estamos falando de inovação, está no nosso core”, disse o executivo em entrevista à Bloomberg Línea.

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Além de atuar fortemente em bovinos, suínos, aves e pets, a MSD Saúde Animal também investe na aquacultura.

Segundo Bolis, nove em cada dez tilápias vacinadas no Brasil hoje recebem vacinas da empresa, o que faz desse segmento uma frente promissora, ainda que represente menos de 1% da receita atual.

Essa atuação e o crescimento da empresa, explicou, também foram impulsionados pela expansão do próprio mercado, especialmente o pet, que triplicou de tamanho no Brasil entre 2019 e 2024.

As cadeias de avicultura e suinocultura representam cerca de 30% da receita da empresa no país e são vistas como plataformas estratégicas para adoção de novas tecnologias.

‘Ambidestria’

Bolis contou que a empresa adotou o modelo de ambidestria, no qual divide o foco entre dois motores: o primeiro está concentrado em produtos consolidados, como vacinas, medicamentos e tecnologias já validadas.

O segundo está em soluções ainda em fase experimental. “O motor 2 sempre vai estar dentro da empresa”, afirmou, ao destacar que esse movimento sustenta e garante o futuro da companhia.

Entre as soluções que já migraram do motor 2 para o motor 1 estão as plataformas Alflex e SenseHub, voltadas para monitoramento e manejo inteligente dos rebanhos. Juntas, essas tecnologias devem ultrapassar R$ 120 milhões em faturamento já em 2025.

A empresa foi fundada em 1891 por George Merck, que a criou nos EUA para distribuir produtos químicos finos em Nova York e em cidades vizinhas.

O primeiro laboratório de pesquisas surgiu em 1933. Mais tarde, em 1948, veio a incursão no mercado animal, com a sulfaquinoxalina, produto utilizado para prevenir a coccidiose, uma doença parasitária em aves.

Segundo Bolis, a MSD conta com 26 centros de pesquisa e desenvolvimento em saúde animal no mundo, sendo que um deles está localizado em São José dos Campos, no interior de São Paulo.

Delair Bolis,presidente da MSD Animal para Brasil, Paraguai, Uruguai e Bolívia,

“Acreditamos que a saúde é o ponto de partida para o bem-estar animal. E é por isso que investimos tanto em vacinas: elas são nossa licença para competir. Nossa atuação vai muito além de tratar animais doentes. Nós queremos prevenir as doenças antes mesmo que apareçam”, disse o executivo.

Após a aquisição da holandesa Intervet, em 2009, a empresa consolidou um portfólio praticamente 100% biológico nas cadeias de suínos e aves.

Na época da aquisição pela MSD Saúde Animal, Bolis atuava como diretor de Marketing de Suínos e Aves da Intervet para a América Latina.

Core business

Em suínos, 98% das vendas da empresa no Brasil são de vacinas. Na avicultura, esse índice chega a 100%, com destaque para imunizantes combinados contra diversas doenças, como Marek, Gumboro, Newcastle e bronquite infecciosa.

“A avicultura e a suinocultura brasileiras são as cadeias mais abertas à adoção de tecnologia no agro atualmente. O uso de plataformas avançadas, como vacinas recombinantes, aplicações sem agulha e até RNA mensageiro, já é uma realidade”, disse Bolis.

Desde 2016, a empresa oferece a modalidade de vacinas sem agulha para porcos com o intuito de reduzir o estresse dos animais a partir da tecnologia IDAL (Intradermal Application).

O Brasil representa hoje 53% das vendas da MSD Saúde Animal na América Latina. A companhia está presente em mais de 50 países no mundo e faz negócios com 150, conta Bolis.

Vacina sem agulha para porcos

Com uma perspectiva otimista para o médio prazo, Bolis afirmou que a empresa deve continuar a crescer a dois dígitos nos próximos cinco anos.

Futuro: ‘conversar com os animais’

“Se você me perguntar sobre o futuro, eu diria que ele está cada vez mais ligado à convergência entre tecnologia, dados, saúde e produtividade animal”, disse.

A empresa também aposta em plataformas de rastreamento comportamental baseadas em inteligência artificial, como coleiras e sensores que monitoram parâmetros fisiológicos dos animais, desde a frequência respiratória até a movimentação digestiva.

“A ideia é fazer com que o animal, por meio de dados, converse conosco”, disse Bolis.

Para ele, melhorar a produtividade animal é o caminho mais sustentável para a produção de proteína.

“O Brasil tem um dos maiores rebanhos de leite e carne bovina do mundo, mas ainda não é o maior produtor. Isso só vai mudar com ganhos de eficiência.”

Dentro desse horizonte, a MSD planeja lançar 57 novos produtos até 2029.

No primeiro trimestre de 2025, 20% do faturamento da empresa no Brasil já veio da venda de produtos recém-lançados.

A farmacêutica MSD somou US$ 64,2 bilhões em receita em 2024. No Brasil, o faturamento da empresa dobrou entre 2019 e 2024, para R$ 1,7 bilhão.

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Naiara Albuquerque

Formada em jornalismo pela Fáculdade Cásper Líbero, tem mestrado em Ciências da Comunicação pela Unisinos, e acumula passagens por veículos como Valor Econômico, Capricho, Nexo Jornal e Exame. Na Bloomberg Línea Brasil, é editora-assistente especializada na cobertura de agronegócios.