Agro brasileiro ‘surfa’ onda das tarifas, e empresas americanas sentem o impacto

Resultados de tradings americanas e de fabricantes de tratores caem com tarifas e incertezas, enquanto Brasil reforça laços com a China e aposta no crescimento das exportações agrícolas

Em meio às tarifas, o Brasil tem estreitado as relações com a China sem deixar de lado Washington
15 de Maio, 2025 | 04:26 PM

Bloomberg Línea — As tarifas de Donald Trump já repercutem de maneira ampla e crescente no setor do agronegócio. Mas os seus efeitos, ao menos no primeiro momento, são sentidos de maneiras distintas.

Se de um lado as empresas americanas têm sentido os efeitos das tarifas do presidente americano Donald Trump em seus balanços financeiros trimestrais, o mesmo não tem acontecido entre as brasileiras.

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Segundo informações da Bloomberg News, as tradings Archer-Daniels-Midland (ADM) e a Bunge viram seus lucros operacionais combinados caírem cerca de US$ 750 milhões no primeiro trimestre, com ambas citando o impacto das incertezas em relação às políticas comercial e de biocombustíveis.

Além das tarifas, as empresas enfrentam excesso de oferta global, que afetam diretamente os preços na bolsa de Chicago.

Segundo o último relatório do Departamento de Agricultura dos EUA, a produção brasileira da soja, que é a maior do mundo, deve atingir um novo recorde em 2025/26, para 175 milhões de toneladas, um aumento de 4% em relação à safra passada e 16% acima da média dos últimos anos.

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E os problemas não se restringem às empresas de grãos. CNH, AGCO e John Deere também relataram, em seus respectivos balanços financeiros, uma possível queda na demanda por tratores por parte dos agricultores.

Enquanto isso, as empresas brasileiras têm se beneficiado da guerra comercial, com aumento das vendas para ambos os países - sobretudo a China.

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Mesmo com a pausa tarifária de 90 dias entre EUA e China, os produtos agrícolas brasileiras tendem a oferecer uma vantagem competitiva de preço.

Na semana passada, a BrasilAgro informou que decidiu não vender toda a soja em estoque no primeiro semestre. Para isso, a empresa decidiu estocar parte do volume para o segundo semestre, quando a demanda chinesa deve crescer.

China e EUA também são grandes compradores da carne brasileira. Apenas em abril de 2025, 273,4 mil toneladas de carne foram enviadas ao exterior.

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Desse total, China segue na liderança, com 107,8 mil toneladas, seguido pelos EUA com 47,8 mil toneladas, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), compilados pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec).

A JBS, uma das maiores empresas de agro do mundo, informou que o seu lucro líquido cresceu 77% no primeiro trimestre, para R$ 2,9 bilhões.

Mesmo em um período tradicionalmente mais fraco para a indústria de proteína, a empresa afirmou que o impulso veio justamente dos negócios de aves e suínos no Brasil e nos Estados Unidos: Seara e Pilgrim’s registraram suas melhores margens Ebitda da história para o período: 19,8% e 14,8%, respectivamente.

Em meio às tarifas, o Brasil tem estreitado as relações com a China sem deixar de lado Washington.

O presidente Lula visitou, durante o fim de semana, o presidente Xi Jinping e firmou mais de 30 acordos com o líder chinês.

Há também expectativas para o agro brasileiro, que levará cerca de 150 representantes ao país asiático no final do mês.

O objetivo é expandir o comércio para produtos como milho, etanol, sorgo, gergelim e café, segundo Luis Rua, secretário de comércio e relações internacionais do Ministério da Agricultura, segundo a Bloomberg News.

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Naiara Albuquerque

Formada em jornalismo pela Fáculdade Cásper Líbero, tem mestrado em Ciências da Comunicação pela Unisinos, e acumula passagens por veículos como Valor Econômico, Capricho, Nexo Jornal e Exame. Na Bloomberg Línea Brasil, é editora-assistente especializada na cobertura de agronegócios.