Bloomberg — O Partido Republicano enfrenta dificuldades com políticas de tarifas e imigração que têm impulsionado a inflação, embora sua ênfase na desregulamentação deva, no fim, ajudar a conter a alta de preços, afirmou o bilionário Ken Griffin, fundador da Citadel, e um dos principais doadores dos republicanos nos EUA.
“Os republicanos lidam com a realidade de que muitas das políticas que defenderam em campanha — por exemplo, acabar com a imigração ilegal para os Estados Unidos — são, na prática, inflacionárias”, disse Griffin em entrevista durante uma conferência em Paris, na terça-feira (16).
“Quando você acaba com a imigração ilegal, reduz o tamanho da força de trabalho disponível — e isso é inflacionário.”
Ainda assim, no longo prazo, a desregulamentação “deve liberar ganhos de produtividade que resultarão em redução da inflação”, afirmou Griffin.
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Não é a primeira vez que Griffin critica as políticas do governo de Donald Trump. Em abril, ele se juntou a um grupo de executivos do setor financeiro que condenou as altas tarifas de importações aplicadas pelo presidente na época.
Griffin, que tem patrimônio líquido superior a US$ 48 bilhões, segundo o Bloomberg Billionaires Index, é um mega-doador republicano. Ele doou pelo menos US$ 100 milhões para comitês de ação política pró-republicanos no último ciclo presidencial, segundo dados da OpenSecrets, embora nenhum desses recursos tenha sido usado para apoiar a campanha de Trump.
Autoridades do Federal Reserve cortaram os juros pela terceira reunião consecutiva na semana passada, mas sinalizaram que novas reduções não estão garantidas.
Parte dos formuladores de política monetária segue preocupada com a inflação, que permanece acima da meta de 2% do Fed, enquanto outros têm concentrado mais atenção na desaceleração do mercado de trabalho.
Griffin também comentou o que vê como um descompasso entre as reações dos mercados de títulos e de ações diante da inflação e da desregulamentação.
“Os mercados de títulos estão expressando sua ansiedade em relação à inflação”, disse. “É preciso pensar com muito cuidado a que taxa você empresta dinheiro ao governo dos Estados Unidos, que opera com um déficit impressionante e agora adota uma política monetária muito frouxa em relação às pressões inflacionárias que enfrentamos.”
A formação futura de capital e os investimentos feitos nos EUA financiados com dívida de longo prazo “estão sendo, na prática, prejudicados pela política monetária expansionista do Fed hoje”, afirmou Griffin.
Por outro lado, o mercado acionário “adora uma narrativa de dinheiro farto”, disse. “O que se observa é a história de grupos de investidores muito diferentes.” Enquanto investidores em dívida ficam apreensivos em períodos de desregulamentação e pressões inflacionárias, investidores em ações “prosperam nesse ambiente”.
Griffin evitou dizer quem escolheria para substituir o presidente do Fed, Jerome Powell, quando seu mandato terminar no ano que vem. Mas afirmou que o mais importante é manter distância entre a Casa Branca e o banco central.
Na entrevista, que abordou uma ampla gama de temas, Griffin disse que a Europa precisa enfrentar problemas antigos, incluindo mercados de capitais que, segundo ele, não são profundos o suficiente.
“Não há dúvida de que o mundo ocidental precisa que a Europa seja mais bem-sucedida”, afirmou Griffin. “Precisamos ver maior crescimento econômico na Europa, mais inovação e mais demanda por bens e serviços de consumo, porque o mundo ocidental só será forte e próspero se tivermos uma Europa forte e próspera.”
Os comentários se somam a um coro de executivos do setor financeiro que pressionam a Europa a agir enquanto o continente avalia como responder a um recuo global das regulações impostas após a crise financeira.
Jamie Dimon, presidente-executivo do JPMorgan Chase, afirmou neste mês que “a Europa tem um problema real”, pois sua burocracia lenta corre o risco de afastar negócios, investimentos e inovação.
Griffin fundou o hedge fund Citadel em 1990. Mais tarde, criou a Citadel Securities, empresa de trading que atende gestores de ativos, bancos, corretoras, hedge funds, agências governamentais e fundos públicos de pensão.
Na entrevista, Griffin reiterou sua visão cética sobre o impacto da inteligência artificial na força de trabalho.
“A IA generativa, tal como a conhecemos hoje, terá um impacto bastante específico, mas relativamente limitado, sobre a economia em geral”, disse.
Executivos do alto escalão das empresas americanas estão usando tecnologia para transformar seus negócios e obter ganhos, mas não necessariamente a partir da IA, afirmou Griffin.
O ganho de produtividade é “reduzido” quando é preciso voltar atrás e refazer trabalhos que a IA realizou no lugar de um humano, disse ele.
“Existe alguma chance de vermos avanços relevantes nesse campo que mudem o cálculo que estou apresentando”, afirmou.
-- Com informações adicionais da Bloomberg Línea sobre o papel de Griffin em doações para os republicanos e sobre suas críticas anteriores às tarifas.
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