Opinión - Bloomberg

Como Bob Iger superou Sam Altman na batalha entre IA e propriedade intelectual

CEO da Walt Disney anunciou um acordo avaliado em US$ 1 bilhão com a OpenAI para licenciar 200 personagens da Disney para uso no aplicativo de vídeo de IA generativa Sora, além de participação na empresa liderada por Altman

Bob Iger
Tempo de leitura: 4 minutos

Bloomberg Opinion — Bob Iger, sua raposa astuta. Foi tudo o que consegui pensar enquanto assistia ao CEO da Walt Disney falar sobre o acordo de sucesso da sua empresa com a OpenAI para licenciar o uso de cerca de 200 personagens adorados para serem remixados com o aplicativo de vídeo Sora.

Graças ao poder da criatividade humana — a genialidade incomparável de um século de histórias da Disney —, Iger pressionou a OpenAI a vender uma participação de US$ 1 bilhão na empresa (com possibilidade de mais no futuro), obteve uma taxa de licenciamento contínua pelo uso dos personagens da Disney por pelo menos os próximos três anos e abriu caminho para um conteúdo mais personalizado no serviço de streaming Disney+.

O que a OpenAI ganha com isso?

Apenas um ano de exclusividade para oferecer a possibilidade de criar clipes curtos com personagens da Disney que nem mesmo poderão falar — personagens que atraem principalmente uma faixa etária mais jovem do que a restrição de 13 anos ou mais do aplicativo Sora.

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Sam Altman, temo que você tenha sido enganado.

Leia mais: Mickey com IA: Disney investe US$ 1 bi na OpenAI e vai licenciar personagens

Mas ele não tinha muita escolha. Recusar-se a fazer um acordo de boa-fé provavelmente teria exposto a OpenAI a outro processo judicial massivo. Essa é agora a perspectiva para o Google, que recebeu um processo da Disney por causa de suas próprias ferramentas de geração de vídeo.

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A diferença entre o Google e a OpenAI é que a unidade da Alphabet tem uma posição de negociação muito mais forte. O YouTube e o YouTubeTV do Google são canais de distribuição massivos para o conteúdo da Disney. Eles são pares. A Disney e a OpenAI não são.

Iger não teria perdido o sono se o acordo não tivesse sido fechado. As ferramentas com tecnologia Sora dentro do Disney+ são um diferencial interessante, uma ideia experimental bacana, mas só. O acordo foi quase por uma questão de princípio.

Alguns consideram o acordo um sinal sinistro para as indústrias criativas; eu o vejo como o oposto. Quando o aplicativo Sora, apenas para convidados, foi lançado em setembro, tornou-se uma sensação com mais de um milhão de downloads nos primeiros dias. Logo, os clipes gerados pelo Sora estavam circulando pela internet, mas depois a realidade bateu à porta.

Acontece que o Sora era mais divertido quando você roubava — ou seja, pegava personagens amados, ou apenas semelhanças de pessoas famosas, e remixava para seus próprios fins.

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Quando as empresas começaram a reclamar, a OpenAI foi forçada a impor restrições severas. Isso enfureceu os usuários e diminuiu o fluxo de clipes do Sora que viralizavam na internet. Agora, a ferramenta é sinônimo de desinformação.

Manter a popularidade do Sora é importante, já que a OpenAI enfrenta o que o próprio Altman descreveu como um momento de “alerta vermelho”.

Na competição pelos dólares da IA de consumo, o Google está logo atrás: supera com seu mais recente modelo de linguagem de grande porte (LLM), diminui a diferença na participação de mercado dos chatbots e enfrenta a Sora com seu gerador de vídeo rival, o Nano Banana.

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Gráfico

Com sua base de clientes empresariais ainda insuficiente, desperdiçar sua vantagem inicial no público consumidor — o Pew estima que 59% dos adolescentes usam o ChatGPT, muito mais do que qualquer concorrente — pode ser fatal.

A empresa pode ter colocado a IA generativa na consciência pública, mas isso não lhe dá o direito divino de permanecer no topo.

Em uma entrevista à CNBC na quinta-feira (11), que pareceu durar o dobro do tempo que ele gostaria, Altman falou com entusiasmo sobre a parceria com a Disney.

Na verdade, ele certamente preferiria nunca ter precisado fazer isso, ou qualquer outra coisa semelhante. O acordo é um reconhecimento de que aqueles que possuem propriedade intelectual merecem ser remunerados.

É um desenvolvimento importante para Hollywood e qualquer outra indústria criativa cuja produção tenha sido descaradamente aproveitada pela OpenAI e outras empresas.

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A OpenAI agora precisa oferecer uma participação de US$ 1 bilhão à Nintendo quando os usuários do Sora geram um Pikachu vestido de ladrão? Ou à Paramount Skydance quando Bob Esponja se veste como Hitler?

Certamente é preciso muito esforço para manter a popularidade de um serviço que ainda carece de algo próximo a um modelo de negócios, um serviço que é ainda mais caro de operar do que as saídas baseadas em texto e imagem do ChatGPT, consumindo valiosas GPUs da Nvidia para permitir que as pessoas gerem clipes frívolos para enviar aos seus amigos.

E então há a questão maior: tudo isso está contribuindo muito para o objetivo final da “inteligência artificial geral”?

Esta coluna reflete as opiniões pessoais do autor e não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Dave Lee é colunista da Bloomberg Opinion e cobre a área de tecnologia. Foi correspondente em São Francisco no Financial Times e na BBC News.

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