Bloomberg Línea — Os primeiros pregões de dezembro trouxeram recuperação aos preços das ações e renovaram o otimismo de investidores, depois da turbulência em novembro, quando os valuations de ativos de inteligência artificial entraram em xeque.
Para a BlackRock, o questionamento é página virada, tanto que a maior gestora do mundo em ativos mantém a aposta no setor para 2026 e reforça a preferência por ações americanas ligadas à transformação tecnológica da IA.
Axel Christensen, estrategista-chefe de investimentos para a América Latina, afirmou que a gestora mantém a posição pró-risco que vem marcando as recomendações desde 2024.
Christensen reforçou, no entanto, que essa não é uma posição atrelada ao cenário macroeconômico que antevê boas perspectivas para a economia americana.
Pelo contrário: a posição é tomada apesar dos desafios da economia dos Estados Unidos, que enfrenta inflação elevada e ainda digere as consequências da política comercial agressiva de Donald Trump.
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“Quando identificamos quais indústrias, empresas e setores estão mais bem posicionados para se beneficiarem da IA e de outras mudanças transformadoras no mundo, observamos que há um número maior de empresas sediadas nos EUA”, afirmou o estrategista em recente entrevista coletiva de imprensa para comentar o relatório Global Outlook 2026.
Christensen definiu a IA como a maior mudança estrutural atualmente em curso, tanto que as decisões corporativas influenciam os grandes temas da economia – fenômeno batizado internamente de “micro é macro”.
Os níveis de investimento na transformação tecnológica da IA estão tão altos que tiveram maior contribuição para a economia americana do que o consumo, de acordo com os cálculos da BlackRock.
Nas estimativas da gestora, o impacto do investimento em IA nos EUA foi tamanho que chegou a diminuir a contribuição do setor de consumo no PIB americano para metade do montante que representava em 2024.
Dado que o consumo é o principal motor da economia americana há décadas, a queda relativa poderia sugerir temores de uma potencial recessão no país, mas o estrategista defendeu que não é o caso.
“Se [a redução do peso do consumo na economia] tivesse acontecido por si só, estaríamos discutindo quando os EUA entrariam em recessão. Mas muito pelo contrário: estamos prevendo mais crescimento nos próximos anos devido ao impacto que a IA terá na produtividade”, disse.
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Não significa que os riscos estejam fora do radar.
A BlackRock avaliou o financiamento como ponto de atenção para o setor de inteligência artificial nos próximos anos.
“A maior parte dos investimentos que vimos até agora foi financiada usando os fluxos de caixa das próprias empresas. Mas estimamos investimentos para os próximos quatro a cinco anos na faixa de US$ 5 trilhões a US$ 7 trilhões: as empresas terão que ir ao mercado e emitir mais ações e, principalmente, mais dívida, o que aumenta o risco”, avaliou.
O estrategista traçou paralelos com 2008, apontando que a verdadeira culpada pela crise financeira daquele ano não foi o excesso de títulos hipotecários em si, mas a alavancagem usada para financiá-los.
IA para investidores
Para investidores, Christensen lembrou que a IA vai além do grupo das chamadas “Sete Magníficas” – Alphabet, Amazon, Apple, Meta, Microsoft, Nvidia e Tesla – embora elas sejam as grandes protagonistas do movimento na bolsa.
A Nvidia, por exemplo, foi a primeira empresa da história a ultrapassar US$ 5 trilhões em valor de mercado, em outubro deste ano. No mês seguinte, em meio à perda de confiança e o aumento da cautela, a empresa devolveu parte dos ganhos e atualmente tem valuation próximo de US$ 4,50 trilhões.
“A IA envolve também empresas de energia, data centers, companhias que desenvolvem e criam equipamentos de refrigeração para manter a temperatura dos data centers no nível adequado, outras que fornecem baterias de energia que permitem às empresas estabilizar a energia que essas instalações exigem, chegando até à mineração de terras raras”, disse.
No Brasil, o estrategista disse identificar oportunidades associadas especialmente a data centers.
“O fato do país ter acesso a uma ampla base de energia renovável o torna uma base atraente para a instalação de data centers que podem ser abastecidos por essas fontes. Também vemos o Brasil já desempenhando um papel significativo na redefinição das cadeias de suprimentos no mundo”.
O país deu os primeiros passos para atração de data centers neste ano com o lançamento em setembro do Regime Especial para Desenvolvimento de Ativos de Tecnologia (Redata), via medida provisória. O Redata prevê isenção de tributos como PIS, Cofins e IPI na aquisição de equipamentos para data centers.
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