Em transição, HSBC opta por ‘escolha segura’ após sete meses de busca por um chairman

Nomeação de Brendan Nelson, que já era conselheiro e atuava como interino, foi vista com surpresa por amigos e colegas; ele assume enquanto banco britânico enfrenta desafios para se reestruturar e lidar com tensões geopolíticas

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Bloomberg — Semanas após assumir como chairman interino do HSBC, Brendan Nelson mudou de ideia.

Enquanto o banco britânico buscava um substituto para Mark Tucker — que deixou o cargo em setembro — não se esperava que Nelson, de 76 anos, permanecesse por muito tempo na função temporária.

Mas, pouco depois, o membro do conselho decidiu se candidatar oficialmente ao posto, segundo pessoas a par do assunto que falaram com a Bloomberg News.

Na quarta-feira (3), ele foi confirmado no cargo, para surpresa de alguns amigos e colegas de longa data, embora sua indicação tenha sido praticamente sinalizada menos de 24 horas antes pelo CEO Georges Elhedery.

Em uma pista velada, o executivo disse ao público de uma conferência em Londres que o chairman interino — Brendan Nelson — poderia estar disposto a ficar mais tempo.

Nelson “manifestou o desejo de não ocupar o cargo pelos seis a nove anos completos, dada a fase em que está na carreira, mas ficará pelo tempo necessário até que o conselho e o comitê de nomeação encontrem o formato ideal para o banco”, afirmou Elhedery.

A busca de sete meses por um candidato externo adequado levou o HSBC de volta a Nelson, que tem uma longa carreira em conselhos — do NatWest Group à BP, onde chegou a ser cogitado para chairman da petroleira.

Leia também: HSBC nomeia Brendan Nelson como presidente do conselho de forma permanente

Agora ele assume a vaga deixada por Tucker, o executivo de estilo combativo que, ao longo de oito anos, supervisionou quatro CEOs e exerceu um nível de controle raro para um chairman não executivo.

Nelson também assume em um momento em que Elhedery, há apenas 15 meses no comando, começa a deixar sua marca com uma reestruturação de grande porte, enquanto tensões comerciais e geopolíticas entre Estados Unidos e China continuam a desafiar o banco, que mantém raízes profundas na Ásia desde sua fundação em Hong Kong há cerca de 160 anos.

Pressão do Banco da Inglaterra

A nomeação de Brendan Nelson encerra uma busca global um tanto conturbada, na qual o HSBC abordou alguns dos maiores nomes do mundo empresarial, financeiro e político.

A pressão sobre o conselho vinha aumentando para encerrar o processo, com o Banco da Inglaterra incentivando o banco a concluir a escolha o quanto antes, segundo pessoas familiarizadas com o assunto que pediram anonimato ao discutir um processo interno.

O Banco da Inglaterra preferiu não comentar.

A lista final de candidatos incluía Kevin Sneader, ex-managing partner global da McKinsey, e George Osborne, ex-ministro das Finanças do Reino Unido. Também foram sondados Ajay Banga, presidente do Banco Mundial, Stuart Gulliver, ex-CEO do HSBC, e Naguib Kheraj, ex-vice-chairman do Standard Chartered.

No fim, tanto Sneader quanto Osborne foram considerados inadequados para as necessidades do banco neste momento, segundo pessoas a par do pensamento do conselho.

Uma porta-voz do HSBC preferiu não comentar.

Com a aprovação unânime de Brendan Nelson pelos conselheiros do banco logo após a conclusão das apresentações dos candidatos, o HSBC agora ganhou alguns anos para avaliar um sucessor de longo prazo.

Nelson poderá atuar por no máximo seis anos como chairman, embora alguns acreditem que sua permanência será mais curta, já que, caso ficasse pelo período completo, deixaria o cargo por volta dos 80 anos.

“Relatos de que ele não cumprirá um mandato completo não são exatamente o ideal”, afirmou Alex Potter, diretor de investimentos da Aberdeen Investments.

Equipe executiva

Nelson herda uma equipe executiva relativamente inexperiente. Antes de assumir como CEO, Elhedery havia sido diretor financeiro por cerca de dois anos. A atual CFO, Pam Kaur, está apenas completando seu primeiro ano de supervisão das finanças. Enquanto isso, a reestruturação radical conduzida por Elhedery reduziu o HSBC a quatro divisões, além do fechamento de várias operações importantes e cortes de milhares de empregos.

A tarefa de Nelson, portanto, não envolve repensar a estratégia, mas garantir que Elhedery consiga consolidar o plano já em execução, que dá continuidade ao movimento anterior de reposicionar o banco com foco crescente em mercados de rápido crescimento na Ásia e no Oriente Médio.

Entre analistas e executivos do setor — incluindo o empresário de Hong Kong Allan Zeman — uma expressão tem sido repetida para descrever o novo chairman do HSBC: “uma escolha segura”.

“Prefiro alguém como ele, em vez de um nome de fora que precisaria passar por uma curva de aprendizado”, disse Zeman, cliente de longa data do HSBC. Com um “CEO forte, essa é uma boa combinação”, afirmou.

Philip Hampton, ex-chairman do NatWest — onde Nelson foi diretor e líder do comitê de auditoria do conselho — estava entre os colegas surpresos com a indicação. Ele imaginava que o ex-contador, fã de golfe, estaria mais focado em aprimorar o swing do que assumir uma das funções mais desgastantes do setor bancário global.

“Lembro que ele estava dedicado a melhorar seu handicap no golfe, algo para o qual nunca tivera tempo”, disse Hampton. “Mas ele se dedica a tudo. Os colegas gostavam e confiavam nele por seu conhecimento e sua calma”, afirmou, acrescentando que Nelson é “inteligente, íntegro, enxerga o quadro geral sem perder os detalhes, sério, mas sempre com um sorriso por perto”.

A visão de Hampton é compartilhada por outros executivos financeiros ouvidos pela Bloomberg News, que pediram para não serem identificados.

“Brendan parece ser uma escolha segura e tem boa experiência em bancos”, disse Potter, da Aberdeen.

Um desafio diferente

No NatWest, Nelson integrou o grupo de conselheiros convocados pouco depois de o antigo Royal Bank of Scotland (RBS) ser socorrido pelo governo britânico, após quase entrar em colapso durante a crise financeira global de 2008.

Em seus 11 anos no conselho do banco, teve papel importante na transformação da instituição — de uma gigante financeira global para um banco voltado principalmente ao varejo e ao segmento corporativo no Reino Unido.

O HSBC oferece um desafio bem diferente daquele enfrentado pelo então cambaleante RBS.

“No momento em que o HSBC enfrenta desafios significativos ao tentar navegar tensões geopolíticas crescentes entre o Reino Unido, onde está sediado, e a Grande China, de onde vêm pelo menos dois terços de seus lucros, Brendan Nelson terá muito trabalho pela frente”, afirmou Sam Goodman, diretor de políticas do China Strategic Risks Institute.

A nomeação de Nelson também garante a Elhedery um chairman com quem ele — e Kaur — já mantém um bom relacionamento de trabalho. E, ao contrário de Tucker, que às vezes era visto quase como um chairman executivo, Nelson tende a dar mais espaço para sua equipe.

“A escolha de Nelson reforça o desejo por estabilidade e continuidade”, disse William Bown, sócio da Maven Partnership, empresa de recrutamento e busca de executivos com sede em Hong Kong.

-- Com a colaboração de Laura Noonan, Denise Wee, Ambereen Choudhury, Donal Griffin e James Booth.

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