Como a brasileira Luana Lopes Lara ganhou holofote global com o mercado de previsões

Cofundadora da Kalshi ao lado do libanês Tarek Mansour passou a um patrimônio avaliado em US$ 1,3 bilhão após nova captação da plataforma, segundo o Bloomberg Billionaires Index, e se tornou a mais jovem bilionária self-made do mundo

Luana Lopes Lara, cofundadora da Kalshi
Por Dylan Sloan
05 de Dezembro, 2025 | 03:17 PM

Bloomberg — Uma onda de investimentos recentes tem colocado duas jovens empresas de mercados de previsão sob os holofotes das finanças e agora também do mundo dos negócios — e transformado seus fundadores, na casa dos vinte anos, em uma nova geração de bilionários “self-made”.

Por seis anos, a Kalshi avançou lentamente, levantando cerca de US$ 100 milhões em uma série de menores rodadas de investimentos de venture capital. Mas, desde junho, a avaliação da empresa disparou, subindo 450%.

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Só neste ano, já captou quase US$ 1,5 bilhão em capital externo — incluindo uma rodada de US$ 1 bilhão anunciada nesta semana, que avaliou a companhia em US$ 11 bilhões.

Com a nova captação, o patrimônio estimado dos cofundadores da Kalshi — o libanês Tarek Mansour e a brasileira Luana Lopes Lara — chega a aproximadamente US$ 1,3 bilhão cada, segundo o Bloomberg Billionaires Index.

Luana, em particular, ganhou destaque ainda maior dada a sua trajetória.

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Cada um detém cerca de 12% da empresa, o que torna Lopes Lara uma das mais jovens bilionárias self-made do mundo - e a mais jovem mulher com essa trajetória, ou seja, que não herdou da família. Eles se juntam a Shayne Coplan, fundador da Polymarket, cujo patrimônio ultrapassou US$ 1 bilhão em outubro.

Um porta-voz da Kalshi, sediada em Nova York, preferiu não comentar a fortuna dos cofundadores.

Leia também: Ele estava falido na faculdade. Aos 27, é o mais jovem bilionário self-made de NY

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Os esforços de captação da Kalshi e da Polymarket colocaram os mercados de previsão lado a lado com a inteligência artificial entre os poucos setores em que jovens fundadores podem virar bilionários — ao menos no papel — praticamente da noite para o dia, impulsionados por valorizações crescentes.

As duas empresas dominam a maior parte do mercado, mas pelo menos uma dúzia de outras startups surgiu no último ano, à medida que os volumes de negociação nesses mercados bateram recordes.

A avaliação bilionária da Kalshi coroa um ano excepcional para Mansour, de 29 anos, e Luana Lopes Lara, também de 29, que se conheceram como estudantes de graduação no Massachusetts Institute of Technology (MIT).

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Lopes Lara chegou a trabalhar como bailarina profissional pelo Bolshoi no Brasil antes de se mudar para os EUA para cursar a faculdade.

Mansour, que cresceu no Líbano, competiu no esqui durante a adolescência e ficou em 15º lugar no campeonato nacional de slalom do país em 2013.

Ambos trabalharam em um laboratório de IA do MIT e depois como traders na Citadel, de Ken Griffin, antes de fundarem a Kalshi em 2018.

A proposta era permitir que investidores negociassem diretamente a previsão para resultado de eventos, como forma de hedge, em vez de depender de produtos financeiros tradicionais que apenas aproximavam essa exposição.

A Kalshi passou pelo acelerador Y Combinator em 2019 e recebeu aprovação da Commodity Futures Trading Commission (CFTC) em 2020 para operar como um mercado de contratos designado.

“Obviamente, dá para chegar ao mercado mais rápido se você optar pelo caminho não regulado”, disse Lopes Lara à Bloomberg News em 2022.

“Para sermos a Bolsa de Valores de Nova York dos eventos — porque esse é o nosso objetivo —, só havia uma forma: fazer tudo certo desde o começo, seguir pelo caminho regulado.”

Apesar da aprovação inicial da CFTC, a agência proibiu a Kalshi de oferecer contratos ligados às eleições para o Congresso em 2023.

Um juiz derrubou a decisão antes da eleição de 2024, quando o mercado da Kalshi sobre a disputa presidencial chamou atenção por atribuir chances maiores de vitória a Donald Trump do que as pesquisas tradicionais.

Apostas inusitadas

A Kalshi tem apostado em mercados com temas mais inusitados em esportes e política, o que ajudou a impulsionar seu volume para recordes históricos.

A empresa lançou recentemente produtos cada vez mais parecidos com plataformas tradicionais de apostas, incluindo combinações esportivas e apostas específicas sobre desempenho de jogadores.

Isso atraiu a atenção de reguladores estaduais de jogos, que alegam que a Kalshi opera ilegalmente em suas jurisdições. A empresa afirma que, por ser regulada no nível federal, não deve se submeter às regras estaduais.

A Kalshi também enfrenta um processo que a acusa de atuar como casa de apostas e de negociar contra seus próprios clientes por meio de sua afiliada responsável por market making. Os casos seguem em litígio.

A nova rodada de captação da Kalshi ocorre logo após sua principal concorrente, a Polymarket, garantir um investimento de até US$ 2 bilhões em outubro da Intercontinental Exchange (ICE), dona da Bolsa de Nova York.

O acordo tornou o fundador Coplan o mais jovem bilionário self-made já registrado no Bloomberg Billionaires Index, aos 27 anos.

O investimento transformou a ICE em distribuidora global dos dados da Polymarket e aproximou a startup — que foi obrigada a operar no exterior após ação de reguladores federais em 2022 — de um dos maiores nomes do setor de bolsas.

A Polymarket lançou seu aplicativo móvel nos EUA nesta quarta-feira, após receber no fim do mês passado a aprovação da CFTC para operar no país.

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