Bloomberg Línea — A Hitachi Energy, líder global no desenvolvimento de soluções para transmissão de energia, prevê dobrar o tamanho de sua operação no Brasil em três anos, diante de grandes tendências como transição energética e data centers para IA.
“O Brasil terá um crescimento de demanda vertiginoso por eletricidade, seja pela eletrificação da indústria em si quanto pela alta procura daquelas que são eletrointensivas, como é o caso dos data centers”, afirmou Glauco Freitas, CEO da Hitachi Energy Brasil, em entrevista à Bloomberg Línea.
Para que esse potencial de negócios seja devidamente explorado, no entanto, o país terá que realizar investimentos de forma coordenada, em movimento que passa por governos e pela iniciativa privada, de acordo com o executivo.
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“Precisamos garantir que essas indústrias que demandam eletrificação se instalem no Brasil o quanto antes. O grande desafio é garantir o entendimento de que as redes precisam ser modernizadas imediatamente, para que não se perca essa demanda que está passando na nossa porta”, afirmou.
O Brasil, que já é referência no setor e tem uma das maiores redes interligadas do mundo, tem o desafio de aplicar as inovações tecnológicas em uma infraestrutura já consolidada, enquanto países que começaram recentemente o processo de expansão já crescem com integração de novas tecnologias às suas redes.
Segundo o executivo, uma das tecnologias já implementadas que poderiam ganhar protagonismo é o sistema HVDC, que permite transportar blocos de energia por longas distâncias, com perdas menores que os sistemas convencionais.
Em linhas com 2.000 km de extensão, por exemplo, a Hitachi estima que o HVDC perde cerca de 5% da potência, enquanto a transmissão tradicional em corrente alternada perde o dobro.
Outra solução que precisaria ser implementada são os sistemas de armazenamento em baterias, especialmente necessários para lidar com a intermitência de fontes renováveis como energia solar e eólica.
As baterias são capazes de reter energia quando há excesso de geração e distribuir o excedente em momentos de maior demanda.
Existe ainda uma expectativa pela digitalização das redes elétricas com a instalação de sensores e software de gerenciamento em tempo real, com soluções que fazem uso de IA (Inteligência Artificial) e que permitem prever e se antecipar à demanda, em vez de agir de forma reativa.
Seria uma solução prioritária para atração de data centers, que têm um comportamento de picos e “vales” em consumo de energia.
Do lado do governo, responsável pela regulação e pela regulamentação do setor, o CEO disse enxergar um interesse grande das autoridades em conhecer as tecnologias disponíveis.
A Hitachi Energy, antes denominada Hitachi ABB Power Grids, em joint venture da japonesa Hitachi com a sueca ABB Power Grids, atua na produção de equipamentos e sistemas de transmissão e no desenvolvimento de soluções de tecnologia que permitem à eletricidade percorrer longas distâncias de forma eficiente.
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As redes que conectam as usinas hidrelétricas de Itaipu, do rio Madeira (Santo Antônio e Jirau) e de Belo Monte foram estruturadas pela empresa, além de 40% das redes que interligam parques eólicos e 50% dos solares.
Os principais produtos da Hitachi são os transformadores, os sistemas HVDC (corrente contínua em alta tensão, na sigla em inglês) e os equipamentos de alta tensão.
Para viabilizar o avanço na demanda por eletricidade, a Hitachi anunciou em 2024 um investimento de US$ 200 milhões (mais de R$ 1 bilhão) no Brasil para aumentar sua capacidade de produção.
Cerca de 80% do valor vem sendo aplicado na construção de uma nova fábrica de transformadores de energia, localizada em Pindamonhangaba, na região do Vale do Paraíba, em São Paulo.
Os outros 20% são para a expansão da planta de Guarulhos, na Grande São Paulo, que fabrica transformadores e equipamentos de alta tensão no país desde 1954.
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Globalmente, a Hitachi Energy tem investido mais de US$ 1 bilhão na sua frente de serviços, em particular com a sua nova plataforma HMAX Energy, de digitalização com uso de IA, com a expansão e a capacitação de mão de obra.
A indústria de transmissão de energia cresce no mundo justamente em razão das tendências acima citadas de expansão da demanda com a transição energética e as novas capacidades de uso de IA com uso de data centers, o que tem atraído investimentos de gigantes do mercado de capitais.
No fim de outubro, a Hitachi Energy anunciou a aquisição de uma participação minoritária na Shermco, uma empresa recém-adquirida pela Blackstone - seu “braço” de fundos para transição energética - voltada para reforçar a segurança e a capacidade de transmissão em redes nos Estados Unidos.
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