Bloomberg Opinion — Jensen Huang não ganhou o apelido de “Poderoso Chefão da IA” à toa.
Com a demanda por chips fabricados pela Nvidia (NVDA) superando em muito a oferta, o CEO da empresa consegue ditar o preço deles. Por meio de uma rede de investimentos, empresas de inteligência artificial (IA) de pequeno e grande porte estão firmemente em suas mãos.
Mesmo para os homens mais ricos do mundo, Huang é o chefe. “Eu descreveria o jantar como eu e Elon [Musk] implorando a Jensen por GPUs”, disse Larry Ellison, fundador da Oracle (ORCL), sobre uma reunião em 2024.
É por isso que a notícia das discussões do Google para vender “bilhões de dólares” de seus próprios chips de IA para a Meta Platforms (META) parecia uma conspiração; não para emboscar Huang no supermercado, mas para demonstrar que seu domínio sobre o setor de hardware de IA poderia estar ameaçado.
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Um acordo com a Meta poderia levar a empresa de Mark Zuckerberg a instalar os chips do Google em seus próprios data centers até 2027, informou o site The Information na segunda-feira (24), e alugá-los do Google Cloud já no próximo ano.
O golpe do Google seguiria uma ação semelhante para fornecer até 1 milhão de seus chips — conhecidos como Tensor Processing Units (TPU) — à Anthropic, startup líder em IA e criadora do chatbot Claude.
A reação das ações no dia seguinte — uma retração de 2,6% para a Nvidia e um ganho de 1,6% para a Alphabet (GOOG), controladora do Google, que já subiu quase 70% neste ano — foi o reconhecimento da ânsia dos desenvolvedores de IA em encontrar uma alternativa aos chips da Nvidia e aos preços altíssimos que permitiram à empresa registrar margens brutas de 76% no último trimestre.
A mudança central no sentimento é esta: na semana passada, os investidores da Nvidia estavam preocupados principalmente com a possibilidade de queda na demanda por hardware de IA. Agora, eles também temem que parte dessa demanda possa ser roubada.
A Meta pode ser apenas um dos clientes da Nvidia, mas qualquer mudança no comportamento dos clientes é um sinal de alerta significativo para o crescimento da empresa.
Apenas quatro hyperscalers (Google e Meta provavelmente entre eles, embora isso não esteja confirmado) representam 61% da receita total da Nvidia, de acordo com seu relatório trimestral de resultados mais recente.
Vários dos maiores clientes da Nvidia estão tentando reduzir sua dependência de seus chips, projetando os seus próprios.
Depois do Google, a Amazon (AMZN) é a segunda empresa mais avançada: seus chips Trainium e Inferentia competem pelo mercado nos mesmos termos que uma alternativa mais barata e mais facilmente disponível.
No entanto o Google leva vantagem sobre a Amazon ao colocar em prática o que prega: seu modelo Gemini 3, que foi treinado e funciona com os próprios chips do Google, superou a maioria dos benchmarks do setor quando foi lançado este mês.
“A razão pela qual todos acreditam que os chips do Google são comparáveis aos da Nvidia”, explicou Mandeep Singh, da Bloomberg Intelligence, “é porque eles têm um LLM com desempenho comparável ao da OpenAI e ao da Anthropic”.
A Amazon não possui um modelo de IA próprio, embora a Anthropic já esteja desenvolvendo alguns de seus modelos em chips projetados pela Amazon.
A conferência re:Invent da Amazon, vitrine de sua unidade de nuvem AWS, será realizada em Las Vegas na próxima semana. Quaisquer anúncios com nomes mais importantes podem exercer ainda mais pressão sobre as ações da Nvidia, à medida que nos aproximamos do fim de um ano vertiginoso.
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Em 2026, Huang será forçado a fazer algo com que não precisava se preocupar há algum tempo: disputar negócios. Ele vem se preparando para isso. Muito se tem escrito sobre os investimentos “circulares” que a Nvidia tem feito para garantir a demanda futura, como um investimento de US$ 100 bilhões na OpenAI.
Depois que o Google anunciou seu acordo com a Anthropic, a Nvidia seguiu o exemplo e fez seu próprio acordo para que a Anthropic desenvolvesse em seus chips.
A disputa acirrada ressalta que ninguém espera que esse seja um cenário em que o vencedor leva tudo. Cada peça de hardware vendida conta.
Como o preço de suas ações caiu na terça-feira (25), a Nvidia se viu obrigada a postar no X que estava “encantada com o sucesso do Google”, mas chamou seus próprios chips de “uma geração à frente da indústria”.
A empresa argumentou que seu hardware era mais versátil do que os TPUs e outros chips semelhantes projetados apenas para tarefas específicas.
Mas, correndo o risco de declarar isso prematuramente, a dinâmica de poder mudou no comércio de IA.
Os desenvolvedores de IA clamavam pelos chips da Nvidia. Eles ainda clamam e continuarão clamando por algum tempo.
Mas as negociações entre Google e Meta indicam as batalhas que virão para os fabricantes de chips, que devem lutar para garantir que os melhores modelos sejam fabricados em sua infraestrutura. Para a Nvidia, isso não é mais garantido.
Esta coluna reflete as opiniões pessoais do autor e não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Dave Lee é colunista da Bloomberg Opinion e cobre a área de tecnologia. Foi correspondente em São Francisco no Financial Times e na BBC News.
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