Bloomberg Línea — Privacidade e discrição, acompanhados de luxo e contato com a natureza, estão entre os atributos mais valorizados por turistas ultrarricos ultimamente, como apontou reportagem recente da Bloomberg News.
Atentos a essa tendência de consumo e comportamento, grandes grupos hoteleiros escolhem de maneira cirúrgica os destinos de seus novos empreendimentos voltados para esse público abastado.
É o caso da Península Papagayo, na costa do Pacífico da Costa Rica, que concentra hoje três hotéis boutique de luxo em mais de 566 hectares de área protegida.
O Nekajui, o mais recente, inaugurado em fevereiro, pertence à marca Ritz-Carlton Reserve (Marriott) e se posiciona no segmento de ultraluxo com 107 quartos e 36 residências já comercializadas, competindo com o Four Seasons e o Andaz (Hyatt).
“Os viajantes brasileiros de altíssimo poder aquisitivo buscam cada vez mais destinos que ofereçam privacidade, autenticidade e uma profunda conexão com a natureza, sem abrir mão da sofisticação e do conforto”, afirmou Anja Frankenbach, gerente do hotel Nekajui, à Bloomberg Línea. “A Costa Rica, e particularmente a Península Papagayo, proporciona exatamente esse equilíbrio.”
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A localização no topo de um penhasco com vista para o Pacífico ao mesmo tempo torna o local mais inacessível e oferece paisagens raras.
“A Costa Rica se consolidou como um dos principais destinos de luxo sustentável do mundo, um lugar onde os hóspedes podem desfrutar de experiências de alto nível, sabendo que sua estadia contribui para a proteção do meio ambiente e da cultura local”, disse Frankenbach sobre outra tendência dos dias atuais.
A marca Ritz-Carlton Reserve opera oito hotéis no mundo, sendo três na América Latina: El Dorado em Porto Rico, Zadún em Los Cabos (México) e o caçula Nekajui na Costa Rica.
As demais unidades estão no Japão, em Bali, na Arábia Saudita, na Tailândia e na China. Um nono hotel será inaugurado no México neste mês.
A Marriott anunciou em 2023 o primeiro Ritz-Carlton Reserve da América do Sul no empreendimento Maraey, em Maricá, no litoral do Rio de Janeiro, mas ainda não há prazo definido para inauguração.
“É uma marca que nós, brasileiros, não conhecemos muito”, disse Pedro de Castro Pereira, diretor assistente de alimentos e bebidas do Nekajui.
O executivo brasileiro trabalha no empreendimento desde a abertura. “Diferentemente do Ritz-Carlton tradicional, o Reserve coloca a cultura local dentro da propriedade”, explicou sobre o conceito dessa bandeira.

A península funciona como destino consolidado, com acesso controlado e infraestrutura compartilhada entre os hotéis, incluindo heliponto. O trajeto a partir do aeroporto internacional de Guanacaste leva 35 minutos.
O público principal vem dos Estados Unidos, com voos diretos de Miami (três horas), Nova York, Atlanta e cidades do Texas.
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“A oferta de voos para brasileiros não é grande. Acabou de ser cancelada a rota da Gol que ligava São Paulo”, afirmou Helen Campos, gerente de marketing que mora na Costa Rica há seis meses, em referência ao voo até a capital San José.
As diárias das suítes Casona, localizadas no centro do hotel Nekajui com acesso exclusivo, variam entre US$ 5.000 e US$ 10.000 na alta temporada, que começa após o Dia de Ação de Graças americano. A ocupação aumenta quando termina a temporada de chuvas.

Alimentação sustentável
A estratégia de alimentos e bebidas reflete mudanças no comportamento de consumo do público de alto poder aquisitivo. O hotel não oferece buffet.
“Não só porque é um [Ritz-Carlton] Reserve mas também por uma questão de sustentabilidade”, disse Pereira. “Levamos o buffet até o hóspede. Vamos com uma cesta de pães, um prato de frutas, servimos tudo à la carte.”
O café da manhã não está incluído na maioria dos pacotes.
“Quando está incluso, você obriga o hóspede a tomar café naquele lugar. Quando não está, temos três opções”, explicou o executivo.
As alternativas são o restaurante Mirador, a cafeteria de especialidades Café Rincón e o serviço de quarto.
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A carta de coquetéis apresenta versões não alcoólicas para 70% dos drinques.
“É um conceito que temos desde a abertura. Temos champanhe sem álcool e oferecemos harmonizações não alcoólicas”, afirmou Pereira.
O hotel opera um laboratório que remove o álcool das bebidas e destila folhas e cascas de frutas. “Não é só suco. É algo que produzimos de forma orgânica.”
A península conta com 11 operações de alimentos e bebidas, divididas entre três restaurantes principais (Brisa, Puna e Niri), três bares e serviço de quarto.
“A ideia é que cada restaurante dentro da península tenha conceitos diferentes. São 15 no total, considerando os outros hotéis”, disse Pereira.

Preservação e cultura local
“A Península Papagayo é um santuário privado com praias intocadas, florestas tropicais e um vibrante senso de comunidade”, disse Frankenbach. “Aqui, a privacidade é garantida, e cada experiência reflete o ritmo natural e a beleza da Costa Rica.”
A Costa Rica produz 99% da energia de fontes renováveis e mantém 70% do território em áreas protegidas. Na península, a construção seguiu as diretrizes ambientais.
“Todas as pedras usadas no hotel vieram da dinamite do próprio terreno. Todas as madeiras são locais”, relatou Pereira.
O hotel não utiliza plástico. Canudos são de bambu e só fornecidos sob demanda.
“Tudo é biodegradável. É cultural. Todos os moradores daqui, em qualquer lugar, valorizam a questão da sustentabilidade”, disse o executivo.
“Para os viajantes brasileiros, existe uma afinidade com o estilo de vida costarriquenho, o amor pelo oceano, a hospitalidade e a valorização dos detalhes da vida em contato com a natureza”, afirmou Frankenbach.
Uma equipe organiza atividades dentro da península, como trilhas pela natureza, tirolesa e passeios de caiaque.
“Muitos hóspedes saem às 7h, 7h30 para fazer tour ou pescar”, disse Pereira.
A temporada para avistar baleias jubarte ocorre entre julho e novembro. “Não vai ser raro ver uma baleia passando se você estiver na praia”, afirmou Campos. O Parque Nacional Santa Rosa fica próximo à península.
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