Do cenário eleitoral a riscos fiscais: a visão do CEO do BTG Pactual para LatAm

Em entrevista à Bloomberg Línea em Bogotá, Roberto Sallouti disse prever um ciclo eleitoral na região dominado por temas como nacionalismo, criminalidade e segurança e alertou para efeitos dos ‘excessos fiscais’ nos mercados

CEO de BGT, Roberto Sallouti.
03 de Novembro, 2025 | 05:57 AM

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Bloomberg Línea — O CEO do BTG Pactual, Roberto Sallouti, disse que o próximo ciclo eleitoral na América Latina será marcado pelo discurso nacionalista em meio à fragmentação ideológica e às preocupações com a política externa dos Estados Unidos.

“Acredito que no próximo ciclo eleitoral regional - começando no Chile, seguido pela Colômbia e depois pelo Brasil -, as questões dominantes serão o nacionalismo, a criminalidade e a segurança”, disse Sallouti.

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Uma questão “que preocupa é a política externa dos EUA, que acaba tendo consequências políticas para a América Latina“, disse ele em uma entrevista à Bloomberg Línea em Bogotá, como parte do Gran Foro 2025, organizado pelo BTG Pactual, considerado o maior banco de investimento da América Latina.

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Desde que Donald Trump chegou ao poder no começo deste ano, o cenário político da região tem sido marcado pela fragmentação ideológica, pela consolidação de alianças dos EUA com os governos mais alinhados com sua visão e por confrontos com presidentes como o da Colômbia.

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Este já foi um ano marcado por eleições, com a vitória recente do partido do presidente argentino Javier Milei nas eleições legislativas de seu país; a vitória de Daniel Noboa, de direita, nas eleições do Equador; e a derrota do Movimento para o Socialismo na Bolívia após 20 anos no poder.

Na Argentina, “o apoio dos EUA ao país beneficiou Milei”, enquanto o Canadá e o Brasil enfrentaram “uma política externa que puniu os países”.

Sallouti disse que as tarifas retaliatórias dos EUA foram principalmente uma resposta à “discordância ideológica”, embora ambos os países tenham diminuído as tensões após a recente reunião entre Trump e o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, com sinalizações de um acordo mais adiante.

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O CEO do BTG Pactual disse que a reunião na Malásia foi uma “postura muito pragmática de ambos os lados”, deixando “a ideologia de lado”, o que ele considera “muito positivo para os dois países”.

Roberto Sallouti, CEO de BTG Pactual

“Somos sempre positivos, sempre otimistas com relação à América Latina. A América Latina tem seus ciclos, e temos de saber como usá-los a nosso favor. Somos sempre muito disciplinados quando se trata de detectar quando há excessos e ser mais cautelosos”, disse ele.

Em meio às incertezas tarifárias, Sallouti disse que “a China e o Brasil podem ter passado por seu pior momento [na relação com os EUA]”, mas ressaltou que cada caso é individual.

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Recuperação das bolsas

Sallouti disse que “o mercado acionário deve se recuperar com a queda nas taxas de juros” que está sendo projetada globalmente, enquanto o mercado de dívida provavelmente permanecerá muito ativo.

De acordo com o CEO do BTG Pactual (BPAC11), o mundo está entrando em um ciclo global de cortes de taxas, inclusive em países como Colômbia e Brasil. Mas, devido ao contexto fiscal, essa redução pode ser mais moderada do que seria ideal.

“Se tivéssemos uma política fiscal mais rígida no momento, seria possível implementar uma flexibilização mais forte da política monetária”, disse. “Mas, de qualquer forma, isso é muito positivo para as economias em geral.”

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O executivo disse acreditar que há espaço para a flexibilização da política monetária no Brasil, que tem uma das taxas de juros mais altas da América Latina, em 15% ao ano. “Acho que ela [a taxa de referência] começará a cair e que terminará o ano que vem em torno de 12% [ao ano]."

Desde o início do ano passado até o presente, disse Sallouti, houve uma saída de capital dos Estados Unidos que beneficiou todos os mercados.

“Se você observar os mercados de ações de Brasil, Chile, Colômbia, Europa, China ou Japão, todos estão subindo e suas moedas estão se valorizando.”

“É um movimento global em direção à diversificação, reduzindo a concentração nos Estados Unidos, e isso é muito positivo para a América Latina”, disse.

Desafios fiscais

O CEO do BTG Pactual mencionou as preocupações com os déficits fiscais e com suas consequências.

“Os spreads de crédito em todo o mundo estão muito comprimidos em um momento em que há excessos fiscais em nível global”, disse Roberto Sallouti, referindo-se a casos como os dos Estados Unidos, da França, do Brasil e da Colômbia.

De modo geral, ele disse que o cenário é marcado por governos que não conseguiram reduzir os gastos e trazê-los de volta aos níveis pré-pandemia e alertou que os elevados déficits fiscais e os gastos excessivos em geral estão criando distorções no mercado de crédito.

Títulos de alta qualidade - com grau de investimento - oferecem rendimentos muito baixos, ou seja, os spreads estão muito apertados, enquanto instrumentos derivativos, como os spreads de swap, refletem tensão e maior incerteza.

Isso reflete o fato de que, apesar da aparente estabilidade de alguns títulos, muitos investidores estão buscando segurança ao comprar créditos privados de alta qualidade (AAA).

Sua visão sobre a IA

O CEO do PTG Pactual disse que a inteligência artificial tem impulsionado o aumento da produtividade e o crescimento do setor, mas questionou se não há um “investimento excessivo na capacidade de IA”.

“Pela primeira vez, as grandes empresas de tecnologia estão investindo uma grande parte de seu fluxo de caixa em capex”, disse ele.

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“Antes, geravam receita com mecanismos de busca, mídia social ou software, sem mobilizar tanto em capex. Agora, esse capex beneficiará as empresas ou os usuários? Essa é uma questão.”

O executivo descreveu como “totalmente transformador” o uso de plataformas digitais e inteligência artificial, o que permitiu que o BTG Pactual se tornasse um banco completo no Brasil.

A instituição ampliou seu foco: se antes atendia principalmente pessoas físicas de alto patrimônio e grandes corporações, agora também oferece serviços a pessoas físicas de alto patrimônio no segmento de varejo e a empresas de médio porte e PMEs.

O banco observou que essas ferramentas foram fundamentais para alcançar os níveis robustos de crescimento registrados nos últimos anos.

Segundo ele, a IA está sendo cada vez mais usada para ajudar a determinar em quais veículos ou instrumentos investir, embora o banco enfatize que, especialmente na assessoria de investimentos, o fator humano continua sendo fundamental.

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