Bloomberg Opinion — O setor de luxo pode não estar em alta novamente, mas certamente está na direção certa. Essa é a mensagem da LVMH Möet Hennessy Louis Vuitton, maior vendedora de produtos de luxo do mundo.
Ainda assim, da mesma forma como investidores puniram excessivamente o setor no início do ano, eles podem estar apostando em uma superação que pode provar ser uma ilusão.
Na terça-feira (14), a LVMH divulgou que o faturamento, excluindo movimentações cambiárias e fusões e aquisições, aumentou 1% no trimestre encerrado em 30 de setembro – o primeiro aumento da receita este ano.
As vendas orgânicas da divisão essencial de moda e produtos de couro caiu 2%, mas o resultado foi muito melhor que a queda de 3,5% esperada pelos analistas e a queda de 9% observada no segundo trimestre.

As ações subiam até 14% no início das operações na quarta-feira (15).

O desempenho da LVMH ressalta que o pior provavelmente já passou para o setor de luxo. A demanda nos Estados Unidos se recuperou desde abril, quando até mesmo os consumidores mais abastados entraram em greve de compras, motivados pela combinação do aumento acentuado nos preços das bolsas e pela queda nas bolsas de valores após a imposição de tarifas pelos EUA.
Com a recuperação das ações, os americanos passaram a comprar mais champanhe, e não apenas por causa do estoque acumulado antes do aumento das tarifas. E, à medida que os EUA se recuperam, o outro motor de crescimento, a China, se estabiliza, e as vendas de roupas e bolsas de grife no continente apresentam resultados positivos no terceiro trimestre.
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Embora a LVMH tenha se beneficiado da comparação com as condições difíceis do ano anterior, suas próprias iniciativas deram frutos, como a The Louis, uma loja em Xangai com formato de navio que não só está se tornando uma atração turística, mas também impulsionando as vendas de bolsas. Novos designers, incluindo as marcas Dior e Celine da LVMH, criaram entusiasmo em torno da moda mais uma vez.
E as melhorias não vêm apenas dos aumentos de preços. Os compradores abastados estão de volta — e comprando. O cenário mais encorajador explica por que as ações de luxo se recuperaram. As ações da LVMH subiram quase 24% nos últimos seis meses.
As ações do setor de luxo estavam claramente sobrevendidas no início do ano, em meio a temores de que a demanda tivesse sido permanentemente prejudicada pela chamada “greedflation” (aumento dos preços para aumentar margens de lucros) das grandes marcas. Mas, assim como os investidores estavam muito pessimistas naquela época, agora eles podem estar se precipitando.

Com exceção de algumas peças da primeira coleção de Demna Gvasalia para a Gucci, da rival Kering — disponíveis por pouco mais de duas semanas para aumentar a desejabilidade — e da Celine, da LVMH, a maioria dos produtos de moda apresentados nas passarelas não aparecerá até o início do próximo ano.
Enquanto isso, as vendas nos próximos meses serão comparadas com o último trimestre de 2024, quando a exuberância após as eleições nos EUA impulsionou uma onda de demanda pelos relógios Cartier da Richemont e pelos lenços da britânica Burberry Group.
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E assim como a perspectiva de tarifas — e as consequentes quedas no mercado de ações — acabaram com a recuperação do ano passado, existe o risco de que o retorno das tensões comerciais, as recentes oscilações nas ações e as criptomoedas se transformem em uma derrota ainda maior ou um aumento no desemprego nos EUA, o que poderia prejudicar os gastos com produtos de luxo desta vez.
Mas o maior fator que determinará se a recuperação do setor de luxo é sustentável é a China. A LVMH afirmou que, embora as vendas nacionais para os consumidores chineses estejam agora a crescer a uma taxa percentual entre os 5% e os 9%, os seus gastos no estrangeiro — que tendem a ser mais extravagantes — continuam a registrar uma queda de dois dígitos.

Mesmo que a recuperação se consolide, poderá não ser sentida de forma uniforme em todo o setor. A LVMH, dada a sua escala considerável, deverá ser uma das vencedoras. Ela tem dois dos novos designers mais comentados — Jonathan Anderson na Dior e Michael Rider na Celine.
A empresa também anunciou na terça-feira que a ex-designer da Dior, Maria Grazia Chiuri, se tornaria a diretora criativa da Fendi. Ela pode usar sua influência de marketing para permanecer na vanguarda da mente dos consumidores, como mostra o sucesso da The Louis.
Na rival Kering, a reviravolta depende principalmente do designer da Gucci, Demna. Ele teve um início forte, mas a marca deve aproveitar essa promessa inicial. Enquanto isso, as empresas que prosperaram em um mercado dominado por joias e moda discreta podem não se sair tão bem em uma recuperação.
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A Hermès International tende a ter um desempenho superior em tempos difíceis, pois tem mais demanda por suas bolsas — Birkin, Kelly e Constance — do que pode atender. Mas, da mesma forma, suas restrições de produção significam que ela não pode vender muito mais dessas bolsas em tempos de boom.
A Richemont também aproveitou a onda das joias, já que os aumentos nos preços das bolsas tornaram as bijuterias mais econômicas. Mas os aumentos mais moderados nos preços dos artigos de couro, bem como a reformulação criativa, significam mais concorrência para as joias.
Por enquanto, a demanda por produtos de alta qualidade parece mais promissora do que nos últimos dois anos e meio, apesar do breve boom pós-eleitoral. Mas, como qualquer pessoa que gosta das últimas tendências sabe, a moda é notoriamente inconstante.
Os investidores em artigos de luxo esperam que a recuperação incipiente seja o início de uma tendência duradoura, e não um pico impulsionado pela dopamina que desaparecerá rapidamente.
Esta coluna reflete as opiniões pessoais do autor e não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Andrea Felsted é colunista da Bloomberg Opinion e escreve sobre os setores de varejo e bens de consumo. Anteriormente, escrevia para o Financial Times.
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