Bloomberg Opinion — Estudei economia na Universidade de Edimburgo, o que significava ler muito sobre a história econômica do norte do Reino Unido — e isso, por sua vez, significava ler muito Joel Mokyr, um dos três economistas que ganharam o Prêmio Nobel na segunda-feira (13).
Mais tarde, quando iniciei minha carreira como economista, passei a conhecê-lo pessoalmente, e suas pesquisas mais recentes continuam a moldar minha compreensão sobre o crescimento.
Sempre que me sinto insegura sobre o futuro da economia, recorro a Mokyr. Seu trabalho é a base da minha compreensão sobre por que algumas economias prosperam, outras estagnam e outras entram em declínio.
Ele oferece esperança e um alerta aos países que navegam pela atual incerteza econômica e lança alguma luz sobre grandes questões sobre os efeitos da inteligência artificial e a viabilidade do modelo chinês.
Como admiradora de seu trabalho e em homenagem ao seu Nobel, pensei em apresentar as cinco lições mais importantes de Joel Mokyr.
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O crescimento muitas vezes encontra resistência
O crescimento econômico tem sido fundamental para a prosperidade — é por isso que as pessoas vivem mais e têm uma vida mais confortável, livre do trabalho árduo. Mas ele muitas vezes encontra resistência, porque envolve turbulência e incerteza.
Mokyr me explicou uma vez como, no início, os homens se recusavam a trabalhar nas fábricas. Eles estavam acostumados a trabalhar por conta própria, como pequenos agricultores ou artesãos, mesmo sendo pobres e tendo uma vida difícil.
Era o que eles conheciam. O conceito de trabalho moderno — estar em algum lugar em um determinado horário, ficar o dia todo, receber ordens de um chefe com quem não se tinha nenhuma relação — era tão ofensivo e humilhante para os homens que, durante anos, as fábricas tiveram que contratar mulheres e crianças. Foram necessárias algumas gerações de condicionamento social para que os homens fizessem a transição.
Crescimento leva tempo
A industrialização foi possibilitada por algumas inovações importantes que mudaram a natureza do trabalho e da produção.
Mas houve invenções críticas que ninguém sabia o que fazer com elas no início, como o motor a vapor, que alimentava as fábricas e tornava possível a produção industrial. Levou mais de 100 anos para que sua contribuição aparecesse nas estatísticas de produtividade.
Muitas vezes, as invenções mais importantes levam anos para encontrar seu melhor uso, e de maneiras que ninguém poderia ter previsto. É verdade que a velocidade com que as inovações são adotadas aumenta a cada ano. Também é verdade que existem invenções atuais que terão um enorme impacto no mundo daqui a muitos anos.
Imprevisibilidade
As inovações destroem empregos, mas também criam novos — e é inútil tentar antecipar quais serão esses novos empregos.
As inovações transformam a economia de maneiras impossíveis de compreender. Como Mokyr me disse certa vez: “Imagine explicar a alguém em 1920 o que é um especialista em cibersegurança.”
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O crescimento é cultural
Uma questão impulsionou a literatura sobre história econômica durante décadas: por que a Grã-Bretanha foi o primeiro país a se industrializar e enriquecer? Outros países também estavam inventando coisas, ou tinham mais riqueza e recursos naturais, ou um clima melhor.
O trabalho de Mokyr frequentemente se concentra na cultura do crescimento, que é fundamental. Tudo se resume a uma abertura ao risco e à experimentação.
Isso foi uma parte importante do Iluminismo escocês, onde as populações eram relativamente instruídas, sua humanidade era enfatizada e a curiosidade e a individualidade eram valorizadas.
Não basta uma nação investir dinheiro e construir infraestrutura; não é possível para um governo planejar centralmente seu caminho para a prosperidade. As inovações mais importantes são frequentemente descobertas por meio de tentativa e erro.
Inevitabilidade
Durante séculos, as economias do mundo mal cresceram. Houve algum progresso, mas foi pequeno e, quando os impérios acabaram, muitas vezes o progresso também acabou. É isso que torna os últimos séculos tão excepcionais.
É verdade que o crescimento tende a acelerar e que as inovações que fazem a economia crescer geram invenções maiores. Mas se as condições certas para o crescimento não forem mantidas, ele não será garantido.
À medida que o mundo enfrenta um futuro de menor crescimento, há uma tentação entre os formuladores de políticas de fazer com que o governo assuma um papel mais ativo na economia.
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A política certamente tem um papel a desempenhar. Mas todos os governos devem perceber que a abundância não vem de um melhor planejamento. O elemento crucial do crescimento é a abertura — ao risco, à incerteza, à mudança e à criatividade. Essa é a grande lição de Joel Mokyr e é por isso que seu trabalho é tão relevante como sempre.
Esta coluna reflete as opiniões pessoais do autor e não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Allison Schrager é colunista da Bloomberg Opinion e escreve sobre economia. É pesquisadora sênior do Manhattan Institute e autora de “An Economist Walks Into a Brothel: And Other Unexpected Places to Understand Risk”.
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