Bloomberg — A nova megatorre do JPMorgan Chase em Manhattan será inaugurada oficialmente ainda neste mês, coroando um dos projetos de construção mais caros da história de Nova York. Mas, quando Jamie Dimon, o bilionário CEO do banco, cortar a fita no número 270 da Park Avenue, ele também vai inaugurar algo ainda mais ambicioso.
No coração da maior cidade dos Estados Unidos, o maior banco do país tem montado seu próprio campus que ocupa vários quarteirões — o seu próprio bairro JPMorgan.
À medida que os funcionários se instalam na nova torre projetada por Norman Foster, o banco pretende investir cerca de US$ 1 bilhão na reforma do antigo prédio do Bear Stearns, do outro lado da rua, no número 383 da Madison Avenue, que tem servido como sede provisória nos últimos anos.
A uma quadra dali, o banco também é dono do edifício 250 Park, que pode se transformar em um hotel para funcionários.
Somando os imóveis próximos alugados, o JPMorgan reúne quase 560.000 metros quadrados de escritórios em poucos quarteirões — quase o mesmo que o rival Goldman Sachs possui em toda a América do Norte e do Sul.
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Mais do que um investimento em Nova York, ou mesmo um símbolo da exigência de Dimon para que os funcionários trabalhem presencialmente, trata-se de uma visão para uma cidade cujo futuro está em disputa.
Num momento em que o socialista democrata Zohran Mamdani desponta como favorito para se tornar o próximo prefeito, os planos do JPMorgan em Midtown — cujo custo já gira em torno de US$ 5 bilhões — reafirmam o papel do setor financeiro em Nova York.
O banco nunca foi tão grande. Há uma década, dividia o topo com Wells Fargo, Bank of America e Citigroup. Hoje, valendo mais do que os três juntos, o JPMorgan ocupa uma categoria própria.
No ano passado, obteve o maior lucro já registrado por um banco na história das finanças americanas, superando seu próprio recorde do ano anterior e mais que dobrando o resultado de seu concorrente mais próximo.
Desde que Dimon assumiu o cargo de CEO, no início de 2006, ele praticamente quadruplicou o balanço patrimonial, que agora gira em torno de US$ 4,6 trilhões.
Esta reportagem se baseia em conversas com meia dúzia de pessoas próximas ao projeto, que pediram anonimato para discutir detalhes não públicos.
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Para dar lugar à nova sede de 60 andares, capaz de abrigar cerca de 10.000 funcionários, o JPMorgan demoliu seu antigo prédio — o edifício mais alto dos Estados Unidos já derrubado de forma voluntária.
Dimon se envolveu tão de perto que colegas o viam como uma espécie de arquiteto informal: ele queria uma cidade dentro da cidade, em que a forma seguisse a função, e ordenou aos executivos que cuidassem de cada detalhe.
Um toque personalizado exigiu até a importação de equipamentos específicos para servir uma autêntica pint de Guinness no pub do 13º andar.
Dimon dividiu sua alta cúpula em subcomitês, cada um responsável por supervisionar um aspecto do edifício. Os centros de atendimento a clientes, incluindo um no último andar, ficaram sob os cuidados de Mary Erdoes e Marianne Lake; os andares de negociação, com Daniel Pinto e Troy Rohrbaugh.
Executivos que defenderam a criação de uma academia enfrentaram resistência: Dimon nunca gostou de academias dentro do escritório e precisou ser convencido a aprovar esta como parte de um andar voltado ao bem-estar.
Durante a construção, os executivos perceberam que precisariam de ainda mais espaço — especialmente quando Dimon passou a exigir o retorno de uma parcela crescente dos funcionários ao trabalho presencial.
Então começaram a planejar a renovação de outro prédio, bem em frente à East 47th Street, no número 383 da Madison Avenue. O JPMorgan adquiriu essa torre ao comprar o Bear Stearns durante a crise financeira de 2008. Agora o plano é fechá-la no início do próximo ano, revestir a fachada de vidro, reformar o interior e reabri-la até o fim de 2027.
Ainda assim, o espaço não será suficiente. No ano passado, o JPMorgan comprou um prédio vizinho aos dois arranha-céus — o 250 Park Avenue — por mais de US$ 300 milhões.
Os planos seguem em aberto: as opções vão desde mantê-lo como está até demoli-lo para erguer uma nova torre de escritórios, ou transformá-lo em um hotel para funcionários que visitam a cidade. Os executivos também não decidiram se manterão ou venderão o edifício 410 Madison Avenue, comprado em 2020, nos piores dias da pandemia, e usado como escritório do projeto de construção da nova sede.
O que importa para os executivos do banco é que estão criando uma espécie de centro de gravidade dentro de Nova York. Descrever o JPMorgan apenas como um dos maiores empregadores privados da cidade não faz justiça à sua influência e importância locais.
A empresa mais antiga que deu origem à instituição, o Manhattan Co., foi fundada por Aaron Burr cinco anos antes de seu duelo com Alexander Hamilton — com pistolas que hoje pertencem ao JPMorgan e às vezes são exibidas. Outra empresa antecessora ajudou a financiar a construção da Ponte do Brooklyn.
Nenhum braço do império é mais imponente do que a própria House of Morgan. Fundada em 1871 como Drexel, Morgan & Co. e rebatizada J.P. Morgan & Co. em 1895, a instituição montou a U.S. Steel em 1901, financiou o Canal do Panamá três anos depois e ajudou a salvar a cidade de Nova York da inadimplência em 1907.
Sua sede neoclássica foi inaugurada no número 23 da Wall Street em 1914, um monumento à crescente riqueza e influência da firma. Uma bomba explodiu diante de suas portas seis anos depois, em um dos ataques terroristas mais mortais da história dos Estados Unidos; as marcas de estilhaços ainda são visíveis.
O banco permaneceu no centro financeiro até a fusão com o Chase Manhattan, em 2000, quando se mudou para a sede na Park Avenue, número 270. O JPMorgan comprou o Bank One alguns anos depois, e Dimon assumiu o comando logo em seguida. Foi de seu escritório no 48º andar que construiu o maior banco do país, até se mudar para o outro lado da rua em 2018, para permitir a demolição e reconstrução do edifício.
Naquele momento, os executivos já vinham refletindo sobre a base da empresa havia anos. Eles chegaram a negociar com autoridades a construção de duas torres em Hudson Yards, mas o projeto foi abandonado por divergências sobre subsídios. Esse foi apenas um dos exemplos da relação do banco com Nova York, marcada por uma mistura de orgulho local e tensão.
“Nenhuma cidade tem direito divino ao sucesso”, afirmou Dimon no ano passado, criticando políticas públicas mesmo enquanto a nova sede subia.
O banco vem contratando pessoas em outros estados num ritmo tão acelerado que já tem mais funcionários no Texas do que em Nova York. Ainda assim, quando a região de Midtown East foi rezoneada em 2017 para incentivar novas construções, o JPMorgan foi o primeiro a se inscrever.
O novo edifício pode ser visto como uma expressão do domínio do JPMorgan sobre as finanças globais — e do comando de Dimon sobre a empresa. Décadas atrás, ele era o herdeiro natural de outro grande banco nova-iorquino, o Citigroup, até que seu mentor de longa data, Sandy Weill, o demitiu.
Dimon deixou a cidade onde nasceu e cresceu para comandar o Bank One em Chicago, antes de o acordo com o JPMorgan trazê-lo de volta para casa. Desde então, consolidou ainda mais seu poder, não apenas superando crises, mas transformando-as em oportunidades. Aos 69 anos, Dimon é considerado tão importante para Wall Street em sua época quanto J. Pierpont Morgan foi há mais de um século.
Numa terça-feira recente, o JPMorgan fechou um quarteirão da 47th Street para promover um grande churrasco em homenagem aos operários que construíram a nova sede. O som alto das músicas se misturava ao chiado dos cachorros-quentes nas grelhas, enquanto o líder do sindicato da construção civil de Nova York elogiava Dimon. Depois, o próprio CEO do banco discursou.
“Este é o melhor local, na melhor cidade, no melhor país do mundo — é inacreditável”, disse Dimon. “Vamos ficar aqui por muito tempo — obviamente.”
Em 2018, pouco antes de o banco anunciar a nova sede, Dimon afirmou que ele e o conselho haviam concordado que permaneceria no cargo por cerca de mais cinco anos. Um ex-executivo chegou a comparar Dimon e a torre a Moisés guiando os israelitas à terra prometida. Mas a comparação não se sustentou: Dimon, ao contrário de Moisés, chegou lá.
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