Opinión - Bloomberg

Falta de apetite por risco faz Broadway viver paradoxo que pode explicar seu declínio

Nenhum dos 18 novos espetáculos musicais que estrearam em 2024 gerou lucro até o momento; além dos altos custos de montar uma peça teatral, decadência também está atrelada à queda no turismo, que praticamente sustenta o setor, e à falta de roteiros originais

Teatro
Tempo de leitura: 3 minutos

Bloomberg Opinion — Os grandes musicais da Broadway estão fracassando a um ritmo alarmante. Nenhum dos 18 que estrearam em 2024 deu lucro até agora.

Alguns críticos de teatro certamente dirão que isso se deve ao fato de muitos desses espetáculos serem derivados de outras obras e optarem por roteiros seguros, mas eu sou economista, então minha explicação é um pouco diferente: são os produtores que não estão se arriscando o suficiente.

A maioria dos musicais não toma mais como base um conteúdo original, e a maioria dos frequentadores de teatro acha difícil justificar gastar mais de US$ 800 para assistir a mais uma adaptação de filme ou ao repertório de um artista conhecido.

No entanto, a evolução da economia da Broadway está levando os produtores a assumir menos riscos com material original. Paradoxalmente, sua busca por “algo seguro” pode ser sua ruína.

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Os custos de montar um grande musical aumentaram nos últimos anos, com o aumento da inflação e dos custos de mão de obra, mesmo com os preços dos ingressos permanecendo estáveis ou até mesmo caindo, em relação à inflação.

Contudo, a frequência ainda está baixa em comparação com antes da pandemia e muitos teatros não estão lotados — pressionando os lucros. Isso sugere que não há demanda suficiente para sustentar um aumento de preços.

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Existem várias explicações possíveis para essa menor demanda. Por um lado, a Broadway depende amplamente dos turistas, e várias políticas, regulamentações e impostos dos hotéis da cidade encareceram Nova York para os turistas. Em 2023, o número de turistas domésticos caiu 4,7% em comparação com 2019, e o turismo internacional caiu 14,1%.

Gráfico

Para ver como a dependência da Broadway dos turistas afeta sua produção, compare-a com o West End de Londres. Em 2023, apenas cerca de 35% dos frequentadores dos teatros da Broadway eram da região metropolitana de Nova York — e 17% eram de outros países.

Isso cria incentivos para a Broadway apresentar grandes musicais com músicas e histórias que as pessoas já conhecem, mesmo que não falem inglês. Nos últimos 30 anos, apenas 18% dos novos musicais não foram adaptações de algum tipo.

Os teatros da Broadway também tendem a ser maiores, o que significa que é mais caro montar um espetáculo. Os custos fixos mais elevados envolvidos com teatros maiores são uma das razões pelas quais há pressão para demonstrar que um espetáculo ficará em cartaz por pelo menos vários anos.

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Recentemente, conversei com produtores das duas cidades, e o consenso foi que os locais menores e o público mais local do West End permitem mais paciência e experimentação. Em Londres, os produtores podem montar espetáculos que podem ficar em cartaz por apenas alguns meses.

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Enquanto isso, os produtores da Broadway gravitam em torno de histórias e músicas com as quais as pessoas estão familiarizadas — o que muitas vezes torna a experiência teatral menos atraente.

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Dos musicais de maior sucesso ao longo dos anos — O Rei Leão, Wicked, O Fantasma da Ópera, Hamilton, The Book of Mormon — todos, exceto O Rei Leão, são adaptações de algum tipo, com música original e baseados em uma história que poucas pessoas conheciam. O último espetáculo que me lembro de muitos dos meus colegas nova-iorquinos terem assistido, se conseguissem ingressos, foi Hamilton.

Os produtores da Broadway estão presos em um equilíbrio ruim. Um musical grande e aparentemente de baixo risco é mais fácil de financiar. Mas também é menos interessante do ponto de vista criativo, o que limita o público potencial. Não há uma solução clara ou direta, além de tornar mais barato para os turistas ficarem na cidade.

Mais uma vez, sou economista, não crítico de teatro, mas estudo o conceito de risco econômico e de investimento há décadas. E está claro para mim que os produtores da Broadway precisam se sentir mais à vontade com o risco — tanto criativo quanto financeiro.

Esta coluna reflete as opiniões pessoais do autor e não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Allison Schrager é colunista da Bloomberg Opinion. É pesquisadora sênior do Manhattan Institute e autora de “An Economist Walks Into a Brothel: And Other Unexpected Places to Understand Risk”.

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