Bloomberg Opinion — Durante meses, cresceram as especulações sobre qual superestrela global seria a atração principal do show do intervalo do Super Bowl LX.
Taylor Swift e Adele eram as favoritas — pelo menos no coração de seus fãs. Mas, na noite de domingo da semana passada (28), a NFL anunciou que Bad Bunny era sua escolha.
Muitos comemoraram o fato de que o astro porto-riquenho vencedor do Grammy traria sua fusão de trap latino, reggaeton e outros gêneros para o maior palco do futebol americano em 8 de fevereiro de 2026. Então veio a reação negativa.
Críticos denunciaram a escolha como “propaganda de lacração”, fixando-se em dois pontos: Bad Bunny se apresenta principalmente em espanhol e criticou abertamente as políticas de imigração do governo de Donald Trump — particularmente o uso agressivo de agentes da Imigração e Alfândega (ICE).
Algumas pessoas na internet chegaram a sugerir que o artista deveria ser deportado durante sua apresentação — esquecendo, ou talvez sem saber, que porto-riquenhos são cidadãos americanos.
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Mas a ignorância não termina aí.
Enquadrar a decisão da Liga Nacional de Futebol Americano como mais um ponto de conflito na guerra cultural ignora uma realidade mais simples: escolher Bad Bunny, que representa a diáspora latina, é uma jogada comercial astuta da NFL.
Seu enorme apelo internacional o torna a escolha ideal para ajudar a liga a avançar em sua ambição de construir uma fanbase global.
Esses desejos remontam à década de 1960, pelo menos, mas realmente decolaram em 1986, quando a NFL começou uma série de jogos de pré-temporada no Reino Unido.
Neste ano, a liga vai realizar sete jogos da temporada regular em cinco países em dois continentes e acaba de anunciar um acordo para jogar pelo menos três jogos da temporada regular ao longo de cinco anos no Rio de Janeiro.
Os jogos internacionais tiveram bom desempenho e lotaram estádios em todo o mundo. Mas a liga não está deixando nada ao acaso.
Além de jogar em mercados internacionais, ela também se empenhou em despertar o interesse popular pelo esporte, patrocinando festas para assistir aos jogos e ligas juvenis, entre outras iniciativas, em regiões específicas.
A estratégia funcionou. No ano passado, por exemplo, a NFL estimou que a Alemanha tem 19 milhões de fãs da NFL, dos quais 3,6 milhões assistem regularmente.
No entanto, de longe, a maior fanbase internacional está na América Latina. O México, de acordo com a liga, tem 40 milhões de fãs. Enquanto isso, os telespectadores latinos — nos Estados Unidos e fora dele — estão aumentando, assim como as transmissões em espanhol.
Parte desse crescimento provavelmente se deve à fronteira compartilhada do México com os Estados Unidos e seus laços culturais (alguma versão do futebol americano é praticada lá desde a década de 1920), e parte se deve, sem dúvida, aos esforços de marketing da NFL na região.
Como de costume, a liga quer mais. O comissário Roger Goodell recentemente falou sobre seu interesse em expandir a programação internacional da NFL para 16 jogos por temporada e a possibilidade de realizar um Super Bowl no exterior.
Alcançar essas metas poderia gerar bilhões em novas receitas e atrair legiões de fãs. Mas o futebol americano por si só não levará a NFL até lá, nem mesmo na América Latina. A liga também deve se posicionar como uma força cultural que vai além do jogo, assim como fez nos EUA.
O show do intervalo do Super Bowl é uma plataforma ideal para isso.
Embora tenha começado como pouco mais do que um preenchimento de tempo com bandas marciais, tornou-se uma ferramenta sofisticada para a liga conquistar o público que deseja como fãs.
Por exemplo, em meados da década de 2010, a NFL procurou atrair a geração dos millenials para suas transmissões ao levar artistas como Beyoncé, Katy Perry e Coldplay.
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O show do intervalo não se resume a destacar os artistas favoritos de uma geração. Ele também é elaborado para apresentar quem está no palco de uma forma que pareça autêntica para o público-alvo.
Nos últimos Super Bowls, isso significou criar momentos feitos sob medida para vídeos curtos que podem ser compartilhados no Instagram e no TikTok.
A participação especial de Serena Williams durante a apresentação de Kendrick Lamar no Super Bowl LIX, em fevereiro, foi o exemplo perfeito desse tipo de conteúdo.
Com base nas minhas próprias redes sociais, muitas das pessoas que compartilham esses clipes não são (ou não eram) fãs da NFL.
E uma pesquisa recente realizada pela Seton Hall University descobriu que 25% das pessoas que assistem ao Super Bowl o fazem porque esperam mais pelo show do intervalo do que pelo jogo (ou pelos comerciais). Para aqueles que se identificam como não fãs, o percentual sobe para 38%.
Muitos desses espectadores do intervalo podem nunca se tornar fãs sérios da NFL. Mas eles podem simplesmente assistir a outro show do intervalo. Isso provavelmente é bom o suficiente para a liga, pois prova sua relevância nos mercados internacionais, em que compete com favoritos locais, como o futebol.
Bad Bunny só pode ajudar nessa empreitada.
Os críticos que reclamam que o artista não é uma representação do futebol americano não estão familiarizados com o jogo de longo prazo da NFL. O objetivo é fazer com que mais pessoas reconheçam a NFL como uma marca internacional que transcende a política dos países.
Esta coluna reflete as opiniões pessoais do autor e não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Adam Minter é colunista da Bloomberg Opinion e cobre os negócios esportivos. É autor de “Secondhand: Travels in the New Global Garage Sale”.
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