Bloomberg Línea — A Nu Asset, gestora do Nubank, elegeu os ETFs (fundos de índice) como diferencial para conquistar o investidor brasileiro, ainda que representem uma fatia pequena de seu portfólio.
Dos R$ 6,1 bilhões em ativos sob gestão na Nu Asset, apenas R$ 220 milhões estão em ETFs – o restante está alocado em seus 21 fundos de investimento.
A expectativa, no entanto, é que a categoria ganhe força com a entrada da Nu Asset no universo de renda fixa, segmento preferido do investidor brasileiro.
A gestora lança nesta quarta-feira (17) seus dois primeiros ETFs de crédito privado, o HGBR11 e o HYBR11, atrelados a índices de dívida corporativa dos Estados Unidos.
Para Andrés Kikuchi, CIO da Nu Asset, a ambição é ampliar de forma relevante a fatia de ETFs no portfólio a partir da nova categoria.
“Queremos ter um avanço significativo no volume de recursos em nossos ETFs. A entrada em renda fixa traz uma expectativa alta – e tem que ser alta porque este é o maior segmento no mercado local", afirmou Kikuchi em entrevista à Bloomberg Línea.
No primeiro semestre deste ano, o investimento de pessoas físicas na renda fixa brasileira somou R$ 4,7 trilhões e representou 60% dos investimentos feitos no período, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). A renda variável, por sua vez, somou R$ 1 trilhão.
No caso dos ETFs da Nu Asset, a demanda é local, mas os produtos oferecidos são americanos. Os dois ETFs seguem índices criados pelo S&P Global: o HGBR11 investe em títulos high grade (com nota mais alta de crédito e, portanto, de menor risco e menor retorno), e o HYBR11, em high yield (ativos mais arriscados que pagam mais).
Segundo o CIO, o mercado de crédito local não estava pronto para receber a criação de um novo índice, especialmente porque a baixa liquidez ainda dificulta a criação de índices representativos.
Já o ambiente de negociações americano é muito mais desenvolvido e não tem as mesmas limitações.
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Apesar de ser uma estratégia global, os ETFs de renda fixa da Nu Asset ganharam uma “embalagem” brasileira para emular características do crédito privado local.
Ambos contam com estratégias de proteção cambial (hedge) em real e uma parcela de alocação local via LFTs (Tesouro Selic). O objetivo é evitar uma volatilidade cambial que pode chegar a 20% nos cálculos do Nubank.
“Quisemos trazer a dimensão do mercado global de alocação em crédito privado com o benefício do diferencial de juros e do carrego, para oferecer duas estratégias que podem competir com o mercado de crédito local”, explicou.

Para conquistar o investidor local, os produtos também miram entregar retornos-alvo familiares a outros produtos de renda fixa, próximos de CDI +0,5% no caso do HGBR11 e de CDI +2% para o HYBR11.
Segundo Kikuchi, os rendimentos podem ganhar ainda mais atratividade em um ambiente de queda de juros tanto no Brasil quanto no exterior.
“Quando os juros baixarem, será possível capturar esse prêmio do crédito privado global, que costuma ser, inclusive, menor do que o próprio risco soberano do Brasil.”
O CIO disse também não descartar o lançamento de novos ETFs atrelados a renda fixa local, especialmente com relação a títulos públicos, segmento considerado estratégico pela gestora.
“Não vamos parar por aqui. Estamos bem próximos de trazer novidades sobre o mercado local nos próximos meses.”
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A expectativa é que os produtos sejam capazes também de aumentar a penetração da gestora no mercado brasileiro, atualmente em 1,5 milhão de investidores.
Há espaço para crescer, inclusive, dentro da base do Nubank, que tem 107 milhões de clientes no Brasil, único país em que a Nu Asset opera até aqui.
Os ETFs são isentos de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e “come-cotas”, e a tributação sobre os ganhos de capital é de 15% – fatores que podem atrair o investidor que hoje opera via fundos tradicionais.
Na outra ponta, os alocadores de recursos poderiam se beneficiar da liquidez do ETF de renda fixa, em D+1.
“É um produto equivalente a uma estratégia local, aliado a uma diversificação global. É uma nuance que os alocadores valorizam”, disse o gestor.
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