Opinión - Bloomberg

‘Guerreiras do K-Pop’ simboliza a força do soft power da Coreia do Sul para o mundo

Filme se tornou o mais assistido da Netflix e quebrou recordes nas bilheteiras americanas, enquanto sua trilha sonora ocupou quatro posições no top 10 da Billboard Hot 100. Apesar de Trump, mundo está cada vez mais interconectado

Kpop Demon Hunters
Tempo de leitura: 4 minutos

Bloomberg Opinion — O filme de grande sucesso da temporada que pegou todo mundo desprevenido acabou se tornando um musical animado sobre estrelas pop coreanas que lutam contra demônios.

Esse é o exemplo mais recente de como o soft power da Coreia do Sul molda as tendências globais. Agora, Seul precisa garantir que se beneficie dessa narrativa única tanto quanto a Netflix (NFLX).

Guerreiras do K-Pop se tornou o filme original da Netflix mais assistido de todos os tempos.

Sua exibição de dois dias nos cinemas superou as bilheterias dos EUA e se tornou a primeira trilha sonora a ter quatro músicas no top 10 da Billboard Hot 100.

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A grande popularidade entre crianças e pré-adolescentes fez com que muitos comparassem o potencial da franquia a Frozen, que, segundo estimativas, rendeu bilhões de dólares à Walt Disney (DIS).

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Analistas veem claramente esse potencial. Em uma teleconferência de resultados na semana passada para a varejista americana Five Below, um deles fez uma pergunta direta sobre a mercadoria: “Três palavras: Guerreiras do K-Pop?"

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A Netflix pensou que estava fazendo um filme para o público de K-pop e anime. Em um mundo cada vez mais interconectado, essas linhas estão mais tênues do que nunca.

A retórica política e uma guerra comercial instigada por Washington podem fazer parecer que a era do globalismo está morrendo. Mas os jovens sempre demonstram apetite por um mundo multicultural.

O filme se passa em Seul, foca em um grupo feminino de K-pop e se inspira na mitologia e na demonologia coreanas. Embora o diálogo seja em inglês, está longe de ser uma narrativa de brancos para o público americano. E não é apenas a diáspora coreana que comemora a representação asiática do filme.

Hollywood não tem mais motivos para se surpreender quando um conteúdo aparentemente “estrangeiro” se torna um grande sucesso. A onda coreana há muito tempo vem impulsionando as tendências globais da cultura pop.

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Um relatório do Fundo Monetário Internacional no ano passado identificou a Coreia do Sul como tendo o mais alto nível de “soft power”.

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A série estrangeira (em um idioma que não é inglês) mais popular da Netflix de todos os tempos é Round 6. A plataforma de streaming disse no ano passado que mais de 80% dos assinantes globais assistiram a conteúdo coreano na plataforma.

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Lideradas pela Netflix, as gigantes globais da tecnologia aceleraram e lucraram com a enorme popularidade das exportações culturais da Coreia.

Plataformas como TikTok e Instagram ajudaram a viralizar desde marcas de produtos de beleza coreanos até o ramen Buldak da Samyang Foods e os vídeos de danças e dublagens de Guerreiras do K-Pop.

Esses intercâmbios culturais são uma coisa boa.

A codiretora Maggie Kang, cineasta coreana-canadense, relembrou em uma entrevista como sua professora do ensino fundamental não conseguia sequer apontar a Coreia do Sul no mapa.

Durante uma exibição em Seul, Kang disse que seu conselho para aspirantes a criadores de conteúdo local era nunca tentar atender às opiniões dos outros.

“Essa é a única maneira de o conteúdo coreano atingir um público ainda mais amplo - mostrar nossa cultura exatamente como ela é, com confiança”, disse ela.

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Agora, a Coreia do Sul precisa garantir que as empresas ocidentais não sejam as únicas que lucrem com a moda.

Muito debate nos EUA girou em torno do fato de a Netflix ter perdido dinheiro ao limitar o lançamento do filme nos cinemas ou não ter previsto a demanda crescente por mercadorias (sem mencionar a decisão da Sony Pictures Animation de vender os direitos do filme para o serviço de streaming por um valor que, em retrospecto, foi muito baixo).

Mas esse discurso deixa de lado uma questão mais ampla.

Em um momento em que a demanda global por conteúdo coreano cresce, garantir que as empresas coreanas mantenham os direitos de propriedade intelectual de franquias globais como Guerreiras do K-Pop é um ponto de partida importante.

Para as plataformas que tentam capitalizar o soft power da Coreia do Sul, há uma lição: nem tudo precisa ser culturalmente diluído para o público americano.

A equipe por trás do filme se esforçou muito para garantir que a história mantivesse sua autenticidade ao representar a Coreia para o mundo. Os esforços claramente valeram a pena.

A Netflix deve ser elogiada por reconhecer o apelo internacional da narrativa coreana e investir nela desde o início. Mas agora é hora de a Coreia do Sul proteger e lucrar com suas franquias culturais.

Esta coluna reflete as opiniões pessoais do autor e não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Catherine Thorbecke é colunista da Bloomberg Opinion e cobre tecnologia na Ásia. Já foi repórter de tecnologia na CNN e na ABC News.

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