Opinión - Bloomberg

Por que os baby boomers têm mais dinheiro do que outras gerações nos EUA

De acordo com um estudo, os americanos com mais de 75 anos têm um patrimônio líquido muito maior do que aqueles com menos de 35 anos; diferença está relacionada à propriedade de imóveis e ações

Aula de hidroginástica
Tempo de leitura: 4 minutos

Bloomberg Opinion — Estamos nos tempos mais ricos – mas também os mais desiguais. A diferença de riqueza e renda entre os 1% mais ricos e o resto dos Estados Unidos tende a receber mais atenção, mas uma das disparidades de riqueza mais marcantes é a geracional: os americanos mais velhos são muito mais ricos do que os mais jovens.

A boa notícia é que a maioria dos americanos, de todas as idades, nunca teve tanta riqueza. Mas estimativas de uma nova pesquisa de Edward Wolff, economista da Universidade de Nova York que há muito estuda a riqueza nos EUA, mostram uma grande e crescente diferença no patrimônio líquido entre os americanos com mais de 75 anos e aqueles com menos de 35. Não é de se admirar que todos odeiem os baby boomers.

Várias tendências econômicas contribuíram para essa divergência. Uma delas é o aumento da propriedade de ações: em 1989, apenas 32% dos americanos (de todas as idades) possuíam ações; em 2022, o percentual era de 58%.

Isso se deve em grande parte ao fato de que os planos de aposentadoria com ações se tornaram mais comuns e, de acordo com o artigo, substituíram formas de poupança mais líquidas e menos remuneradoras, como contas correntes.

PUBLICIDADE

Leia também: Alemanha debate imposto a ‘junk food’ enquanto obesidade sobrecarrega saúde pública

Os baby boomers foram a primeira geração a receber ofertas de planos de aposentadoria com ações quando eram jovens e contribuíram para sua riqueza na aposentadoria. Por serem mais baratos para os empregadores do que os planos com benefícios definidos, mais pessoas os adotam e mais pessoas têm benefícios na aposentadoria.

De acordo com o artigo, as ações como parte das carteiras de aposentadoria dos americanos mais que dobraram entre 1983 e 2022, principalmente porque o mercado teve um desempenho muito bom – o S&P 500 subiu quase 20 vezes desde 1989. Tem sido um bom momento para possuir ações.

PUBLICIDADE

A outra grande mudança é o aumento da propriedade de imóveis. Entre 1983 e 2022, ela subiu 5,2 pontos percentuais, chegando a 67,4%. O artigo estima que as taxas de propriedade de imóveis permaneceram estáveis para pessoas com menos de 35 anos, mas os americanos mais velhos passaram a ter mais chances de possuir sua própria casa. A taxa de propriedade de imóveis entre americanos com 65 anos ou mais aumentou mais de 7 pontos percentuais.

Enquanto isso, assim como as ações, o valor dos imóveis aumentou desde a década de 1980. Isso se deve, em parte, à oferta limitada de moradias em relação ao crescimento da população, bem como a casas melhores, maiores e com mais comodidades.

Por outro lado, a dívida hipotecária também aumentou para todas as faixas etárias, principalmente para os jovens que tentam comprar sua primeira casa. Essa dívida maior está contribuindo para a crescente desigualdade entre as faixas etárias.

A desigualdade é frequentemente considerada a principal questão econômica de nossa era. Mas quando a desigualdade é entre jovens e idosos, ou dentro de uma família, pode ser menos problemática.

PUBLICIDADE

Por um lado, os idosos não necessariamente enriqueceram às custas dos jovens. Por outro, essa desigualdade pode simplesmente refletir uma sociedade de proprietários, na qual mais pessoas economizam para a aposentadoria e possuem suas próprias casas.

Esse mundo seria mais desigual porque os idosos tiveram mais anos para acumular riqueza e desfrutar dos benefícios dos rendimentos compostos.

Em outras palavras: os jovens de hoje ainda podem ter seu momento. Certamente não há garantia de que os próximos 40 anos serão tão prósperos quanto os últimos, mas há motivos para acreditar que sim. Alguns jovens também podem herdar parte do dinheiro de seus antepassados.

PUBLICIDADE

Reconheço que existe uma visão sedutora de soma zero sobre essa diferença de riqueza. É mais ou menos assim: primeiro, os mais velhos se beneficiaram da compra de casas quando elas eram mais baratas (embora as taxas de hipoteca fossem mais altas).

Mas a oferta de moradias é finita e os preços subiram, excluindo os compradores mais jovens. Enquanto isso, grande parte dessa acumulação de riqueza ocorreu quando o governo assumiu mais dívidas para pagar benefícios ou reduzir impostos, e isso não pode continuar.

Os americanos mais jovens terão que pagar toda essa dívida, ou ela pesará sobre a economia – de qualquer forma, sua velhice será pior do que a dos baby boomers.

É claro que a diferença de riqueza levanta a questão de por que os idosos são os beneficiários de tanta generosidade do governo. Também vale a pena notar que os jovens de hoje podem estar em uma situação pior em relação aos americanos mais velhos.

Gráfico

No entanto, os jovens de hoje estão em melhor situação, em termos absolutos, do que os jovens do passado – principalmente os baby boomers quando eram jovens.

O patrimônio líquido médio e mediano aumentou ao longo do tempo para todas as faixas etárias, principalmente nos últimos cinco anos. Isso pode ser um pequeno consolo se sua avó estiver fazendo com que você tenha que sair do seu bairro. Mas é sempre importante, tanto em questões econômicas quanto familiares, manter o senso de perspectiva.

Esta coluna reflete as opiniões pessoais do autor e não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Allison Schrager é colunista da Bloomberg Opinion. É pesquisadora sênior do Manhattan Institute e autora de “An Economist Walks Into a Brothel: And Other Unexpected Places to Understand Risk”.

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também

Tribunal dos EUA considera tarifas de Trump ilegais, mas mantém taxas em vigor

Por que o mundo vive assombrado pela Casa Branca de Donald Trump