BlackRock quer crescer em LatAm de olho em crédito privado, diz chefe para a região

Em entrevista à Bloomberg News, Aitor Jauregui diz que a maior gestora do mundo está adicionando capacidades e recursos para atender países como Brasil, México, Chile, Colômbia e outros

Expansão da BlackRock contrasta com a retração do HSBC, que vem reduzindo suas operações na região. (Foto: Jeenah Moon/Bloomberg)
Por Cristiane Lucchesi - Giovanna Belotti Azevedo
31 de Julho, 2025 | 01:15 PM

Bloomberg — A BlackRock, a maior gestora de recursos de terceiros do mundo, planeja continuar expandindo na América Latina após três aquisições no ano passado, que, segundo o responsável regional da empresa, ajudarão a impulsionar o crescimento na região.

As metas de crescimento incluem Chile, Peru, Colômbia e América Central, de acordo com Aitor Jauregui, que lidera a região pela BlackRock.

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A empresa está “adicionando capacidades e recursos para atender a região das Américas a partir do México, contratando principalmente para tecnologia e engenharia em Monterrey e na Cidade do México”, disse Jauregui em entrevista à Bloomberg News, acrescentando que a BlackRock também contratou um executivo no Brasil no início deste ano.

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A expansão da BlackRock contrasta com a retração do HSBC, que vem reduzindo suas operações na região.

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No início desta semana, o BTG Pactual anunciou a compra da unidade do HSBC no Uruguai e, no ano passado, o banco sediado em Londres vendeu seus negócios na Argentina para o Grupo Financiero Galicia.

Outras saídas incluem o Julius Baer, que vendeu sua unidade no Brasil para o BTG Pactual em março, e o Bank of Nova Scotia, que anunciou em janeiro que transferiria suas operações na Colômbia, Costa Rica e Panamá para o Banco Davivienda da Colômbia.

A BlackRock, por outro lado, vê oportunidades.

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“Os governos não têm capital suficiente para investir em infraestrutura ou para promover o crescimento econômico, e acreditamos que parcerias ou colaborações público-privadas impulsionarão muitos dos investimentos”, disse Jauregui.

Isso inclui não apenas ferrovias, portos e aeroportos, mas também infraestrutura digital, disse ele, especialmente investimentos em data centers e inteligência artificial.

Em outubro, a BlackRock concluiu a compra do fundo Global Infrastructure Partners (GIP), que em março anunciou um acordo de US$ 1 bilhão para formar uma joint venture com a Vale, na qual adquiriu uma participação de 70% na Aliança Geração de Energia, a unidade de energia renovável da mineradora brasileira.

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A BlackRock tem investido US$ 38 bilhões em ações e dívida do Brasil, tanto no mercado privado quanto público, e Jauregui disse que mais está por vir.

A BlackRock, que tem US$ 12,5 trilhões sob gestão, comprou a gestora de crédito privado HPS Investment Partners no início deste mês e adquiriu a Preqin, provedora de dados de mercados privados, em março.

Jauregui disse que esses negócios ajudarão na expansão na América Latina, onde ele vê uma demanda crescente por investimentos em crédito privado e infraestrutura por parte de fundos de pensão da região.

Os fundos de pensão mexicanos, conhecidos como Afores, são “grandes adeptos de mercados privados”, com até 18% de seus portfólios de US$ 380 bilhões investidos nesses produtos, de acordo com Jauregui, que estimou que essa participação crescerá 10% nos próximos anos.

Ele também espera que os ativos dos Afores dobrem em cinco anos, para cerca de US$ 750 bilhões, devido ao aumento das taxas de contribuição de 6% para 15% e ao maior número de funcionários com acesso a eles.

“O crédito privado também é muito comum no ecossistema brasileiro, mas é mais local”, disse ele, acrescentando que está observando uma demanda maior por maneiras de diversificar essa exposição por meio de investimentos no exterior.

As altas taxas de juros no Brasil aumentam o apetite dos investidores por títulos públicos e corporativos locais, e os fundos de pensão locais geralmente investem no máximo 7% de suas carteiras no exterior.

A BlackRock tem cerca de US$ 19 bilhões em ativos sob gestão de clientes brasileiros.

Com funcionários em Miami e Nova York atendendo a América Latina, a BlackRock tem cerca de 400 pessoas trabalhando para a região, sendo 300 delas no México.

Em novembro último, a gestora tinha cerca de 250 pessoas no México. No início deste ano, contratou Fernando Garcia, ex-Morgan Stanley no Brasil, para atender às gestoras locais de fundos de investimento, que possuem R$ 9,9 trilhões em ativos.

“Garcia ajuda os gestores a alinhar nossas soluções com suas estratégias de investimento, atuando mais como um consultor estratégico”, disse Bruno Barino, country manager da BlackRock para o Brasil.

A BlackRock também está investindo em Brazilian Depositary Receipts de ETFs (fundos negociados em bolsa) offshore, para ajudar investidores locais a comprar cotas desses fundos sem precisar sair do mercado brasileiro, disse Barino.

A BlackRock possui cerca de 152 BDRs de ETFs offshore listados localmente no Brasil e planeja adicionar mais 29.

Mesmo com o aumento de tarifas do governo Trump afetando as exportações da região, ainda existem muitas oportunidades, de acordo com a BlackRock.

“Chile e Peru produzem alguns minerais essenciais para a descarbonização”, disse Jauregui, acrescentando que o México também continua atraente.

“É realmente difícil interromper as cadeias de suprimentos em um período muito curto, então ainda acreditamos que há ventos favoráveis para a economia mexicana.”

No Brasil, o setor do agronegócio é especialmente atraente, disse ele.

“Acreditamos que os mercados agora oferecem boas oportunidades táticas para investir, e estamos muito otimistas quanto à resiliência da economia americana”, disse Jauregui.

“Em particular, precisamos de inteligência artificial, tecnologia, tudo o que a economia americana pode oferecer.”

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