Opinión - Bloomberg

Acordos comerciais dos EUA parecem conquistas, mas país será o mais prejudicado

Com o tempo, novas tarifas vão desacelerar a inovação e deprimir os padrões de vida com a queda na competitividade de produtores e o aumento dos preços para o consumidor – isso se a guerra tarifária acabar agora

Donald Trump e Ursula von der Leyen
Tempo de leitura: 3 minutos

Bloomberg Opinion — A Casa Branca alardeou seu novo acordo comercial com a União Europeia, após um acordo semelhante com o Japão, como uma grande vitória.

Ambos os pactos impõem tarifas de 15% sobre a maioria das exportações para os Estados Unidos, além de outras concessões – o que, aparentemente, afasta a ameaça de uma guerra comercial sem fim e reafirma o domínio do país. Os mercados financeiros avançaram com as notícias.

Na verdade, não há nada para comemorar. Ambos os acordos são uma perda para todos os envolvidos. O melhor que se pode esperar é que o governo passe agora para outras prioridades antes que mais danos sejam causados.

Em relação à economia, a alegação de que os Estados Unidos saíram vencedores de ambos os conjuntos de negociações é simplesmente falsa. Tarifas são impostos. Em pouco tempo, os consumidores americanos pagarão a maior parte, se não todo, o aumento dos custos.

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E o problema não é apenas o fato de que as importações ficarão mais caras. Os produtores americanos enfrentarão menos pressão externa para competir e inovar, e também aumentarão seus preços.

No devido tempo, essas forças reduzirão os padrões de vida dos Estados Unidos. Lembre-se sempre de que o maior prejudicado pelas tarifas é, invariavelmente, o país que as impõe.

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Esses custos podem ser gerenciáveis a longo prazo, desde que os acordos ponham um fim às recentes disputas comerciais.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que fechou o acordo com os Estados Unidos no fim de semana, enfatizou esse ponto ao justificar a rendição do bloco às exigências americanas – elogiando o acordo por restaurar a estabilidade e a previsibilidade tanto para os consumidores quanto para os produtores.

Quem dera. Para começar, ambos os pactos, assim como o firmado anteriormente com o Reino Unido, são mais bem vistos como acordos-quadro do que como acordos concluídos.

Por exemplo, o que o compromisso do Japão de financiar um fundo de investimento dos Estados Unidos administrado pela Casa Branca realmente implica?

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É difícil dizer. Ele foi retratado como um “bônus de assinatura” de US$ 550 bilhões. As autoridades japonesas provavelmente não o veem dessa forma.

De acordo com o pacto entre os Estados Unidos e a UE, alguns produtos europeus receberão acesso livre de tarifas aos Estados Unidos. Quais? Ninguém sabe.

Em ambos os casos, muitos detalhes importantes ainda não foram finalizados. Enquanto isso, os cidadãos do Japão e da Europa viram seus governos serem humilhados, o que torna muito provável o aumento da oposição política e da incerteza.

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Se ou quando esses acordos específicos forem concluídos, haverá novos acordos a serem fechados – e as questões contestadas não se limitam à política comercial.

Se, no futuro, a Casa Branca pretender resolver todas essas disputas reavivando a ameaça de tarifas punitivas ou ameaçando tacitamente reter a cooperação em matéria de segurança, a visão de estabilidade e previsibilidade de von der Leyen será confirmada como uma miragem.

O mais perigoso é que os supostos triunfos do governo podem agora afirmar sua crença de que os Estados Unidos são poderosos o suficiente para exigir submissão, em vez de uma parceria genuína, de países que antes eram vistos como amigos.

Se assim for, o aumento da instabilidade – letal para o planejamento de longo prazo, o investimento e a cooperação global em geral – não será apenas uma fase passageira.

A força por meio da ruptura é uma estratégia autodestrutiva. Mais cedo ou mais tarde, isso se tornará dolorosamente óbvio.

O Conselho Editorial publica as opiniões dos editores sobre uma série de assuntos de interesse global.

—Editores: Clive Crook, Nisid Hajari.

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