Bloomberg Línea — O Banco do Brasil definiu uma agenda prioritária na área de sustentabilidade: o mercado de carbono.
A ambição do banco estatal é se tornar o principal intermediário do segmento no país, com a criação de uma mesa de negociação proprietária que deve ultrapassar R$ 100 milhões em volume negociado acumulado até 2030 – ano em que o mercado regulado deve estar em pleno funcionamento.
“Queremos ser os principais players do mercado de carbono. É uma área em que pretendemos ganhar escala”, disse José Sasseron, vice-presidente de Sustentabilidade do BB, em entrevista à Bloomberg Línea.
O mercado de carbono foi regulado no Brasil em dezembro de 2024, mas o ambiente secundário para compra e venda dos créditos ainda é incipiente, com a maior parte das negociações sendo realizadas via balcão, em que as operações ocorrem diretamente entre as partes interessadas.
Leia mais: Nestlé mira restaurar 8.000 hectares em biomas com impacto a produtores no Brasil
O Banco do Brasil (BBAS3) quer se posicionar como intermediário nesse mercado com a criação de uma mesa de negociação.
“Ainda não existe um hub no Brasil como uma bolsa para o mercado de carbono. Existem algumas iniciativas pulverizadas que não têm grande volume. Nós queremos ocupar esse espaço no mercado brasileiro”, afirmou Marcelo de Campos e Silva, especialista em sustentabilidade do banco, na mesma entrevista.
Mais que a intermediação, o BB pretende se tornar uma espécie de “one-stop-shop” do segmento, oferecendo soluções de ponta a ponta no mercado.
Entre os serviços estariam conexão com desenvolvedores, comercialização de créditos e assessoria para estimar o potencial compensado nas emissões.

Um dos diferenciais destacados pelo Banco do Brasil para viabilizar a empreitada é a base de 85 milhões de clientes.
A carteira de crédito de R$ 1,27 trilhão é dividida quase que igualmente entre pessoas físicas, pessoas jurídicas e agronegócio – sendo os dois últimos grupos potenciais clientes do mercado de carbono.
Silva destacou ainda os benefícios de contar com o histórico do cliente no banco, o que permite um processo de diligência que proporciona segurança às duas pontas da negociação.
“Conseguimos garantir, por exemplo, que o projeto está sendo desenvolvido em uma área em que a matrícula está OK e em que não houve nenhum tipo de irregularidade em toda a cadeia”, afirmou.
Segundo os executivos, a confiança entre as partes se torna um diferencial importante para um mercado que ainda está em fase incipiente.
“Já tivemos depoimentos de clientes que descobriram no meio da operação que o crédito não existia. Ter a confiança do cliente é fundamental nesse mercado”.
Leia também: Vale investe em carbono zero e transição energética para se manter relevante
A força da marca do banco, que está presente em 90% dos municípios brasileiros, também entra como uma vantagem competitiva.
O BB pode acessar produtores rurais ainda não familiarizados com o mercado de carbono para desenvolver projetos, que acabam saindo do papel pela confiança que o cliente tem no relacionamento prévio com o banco.
“Entre os cerca de 70 projetos de carbono em desenvolvimento no Brasil, 25 são nossos. Acreditamos que algumas áreas, como a agricultura de baixo carbono, tenham um número mais expressivo”, disse Sasseron.
O BB ainda aguarda regulações da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e do Banco Central para oferecer maior segurança jurídica à sua mesa de operações, mas a expectativa é que o lançamento aconteça ainda neste ano, que será marcado pela organização da COP 30 em Belém, no Pará, em novembro.
Os testes começaram inicialmente com a intermediação da transação entre bancos – nacionais e estrangeiros –, além da venda de créditos para empresas brasileiras interessadas em neutralizar as emissões.
O cliente fica com um percentual de 55% a 65% dos negócios gerados, e o BB é remunerado em crédito de carbono, para reforçar o comprometimento com a agenda.
A expectativa interna do Banco do Brasil é que o mercado de carbono encontre mais oportunidades de desenvolvimento ao longo dos próximos anos.
“Já tivemos a experiência de um cliente que pagou uma dívida com o banco usando crédito de carbono. É um sinal de que esse mercado tende a ganhar uma dimensão maior ao longo do tempo”, disse Silva.
Leia também
Mercado de carbono precisa de regra para o agro, diz head de ESG Research do Itaú BBA