Bloomberg Línea — O Nubank chegou ao mercado em 2013 com uma proposta simples do ponto de vista de produto: um cartão de crédito sem anuidade, que, por muitos anos, serviu como porta de entrada para os clientes do banco.
Mais de uma década depois, a Nu Asset, gestora do banco digital, tem buscado repetir essa fórmula em investimentos com uma aposta em ETFs (fundos de índice) como produto de introdução para milhões de pessoas.
É uma estratégia tem sido mantida, e vai continuar assim, a despeito do apetite do brasileiro por outras categorias de produtos de investimento.
“Acreditamos definitivamente que os ETFs podem ser o nosso diferencial de crescimento”, afirmou Andrés Kikuchi, CIO (Chief Investment Officer) da Nu Asset, em entrevista à Bloomberg Línea.
A gestora conta atualmente com R$ 6 bilhões em ativos sob gestão divididos entre cinco ETFs e 21 fundos de investimentos, essencialmente de renda fixa e multimercados. Os ETFs ainda representam uma categoria de menor relevância, com R$ 160 milhões.
Leia mais: Vamos ser duros com assessores para melhorar a qualidade do serviço, diz Benchimol
O patrimônio total de R$ 6 bilhões é duas vezes o registrado há 12 meses. A meta é dobrar novamente o valor de ativos sob gestão, mas sem horizonte de tempo definido.
“Não trabalhamos com um número exato. O objetivo é entender qual é o potencial de penetração que temos com os ativos que possuímos e em como abrir o mercado endereçável”, disse.
A Nu Asset ainda é uma gestora pequena em termos comparativos de patrimônio líquido: está na 127ª colocação no ranking de fundos da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).
A BB Asset lidera com R$ 1,7 trilhão; entre as 10 primeiras colocadas, o patrimônio líquido é de, no mínimo, R$ 140 bilhões.
Mas há um potencial relevante a partir da base de clientes do próprio banco, que chegava a 104,6 milhões ao fim do primeiro trimestre deste ano no Brasil, único mercado por ora atendido pela gestora.
A asset do grupo contava com um número menor, de 1,5 milhão de investidores. No Brasil, o total de investidores fica em 59 milhões, segundo a Anbima.
Kikuchi disse avaliar que os números atuais estão em linha com a tendência de crescimento acelerado que tem sido uma marca do Nubank em outros segmentos.
Leia mais: Nubank corta níveis de gestão pela metade e contratará para o alto escalão, diz Vélez
“É um prazo de maturidade do negócio. Assim como vemos acontecer com o próprio Nubank, primeiro há um crescimento de volume de clientes principalmente porque eles passam a utilizar o serviço e sentem confiança. A evolução do volume sob gestão é quase a consequência natural disso”, disse.
O “braço” de gestão do Nubank (NU) foi lançado em 2018, mas ganhou corpo a partir de 2020, quando o executivo, ex-portfolio manager no UBS, responsável pela área de wealth, foi contratado para reformular o segmento.
Kikuchi tinha a ambição de oferecer, no Nubank, soluções “envelopadas” para o cliente que se assemelhassem à perspectiva adotada na gestão de fortunas. O ETF funcionaria como o veículo ideal para esse projeto, ao oferecer uma “estrutura otimizada de um fundo tradicional”.

“É um produto com liquidez, padronização de informações, possibilidade de diversificação, acesso via bolsa e eficiência: o ETF é muitas vezes mais barato em taxa de administração”, disse o executivo.
Os fundos de índice, apontados como “gatilhos” para a aceleração do portfólio, são parte de um mercado robusto que atingiu US$ 16,9 trilhões globalmente em junho deste ano, segundo a consultoria ETFGI.
No mercado brasileiro, o segmento completou 20 anos, mas ainda não deslanchou: somava R$ 56,1 bilhões em patrimônio em junho, segundo dados da B3. O valor representava apenas 0,57% dos R$ 9,9 trilhões da indústria de fundos.
Leia também: Avenue aposta em ETFs com regulação europeia, de olho em vantagem fiscal e sucessória
Um ponto que poderia aumentar o apetite do mercado foi o início de vigência da resolução 179 da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) em novembro do último ano.
A regra exige maior transparência na remuneração aos agentes de mercado e poderia beneficiar produtos com taxas menores, como costumam ser os ETFs.
A gestora, no entanto, enxerga um potencial implícito de aceitação dos produtos à medida que entrem no radar dos investidores.
O exemplo vem do NDIV11, primeiro ETF lançado pela Nu Asset em setembro de 2023. Foi produto pioneiro no Brasil na distribuição de dividendos.
“Em pouco mais de um ano, o NDIV11 superou a marca de 10.000 cotistas, enquanto o BOVA11, principal ETF do mercado, demorou 16 anos para ultrapassar essa marca”, disse o CIO.
[Essa aceitação] mostra que era uma carência do mercado. Foi um produto bem recebido e que tem um potencial enorme de crescimento que ainda queremos desenvolver", afirmou o executivo.
A primeira prateleira de ETFs do Nubank foi lançada entre 2023 e 2024 com produtos de renda variável e alternativas que vão da distribuição mensal de dividendos a um mix de ações brasileiras com BDRs. Os próximos passos incluem a ampliação do portfólio para incluir produtos de renda fixa.
“Nós acreditamos que o crescimento dos ETFs no Brasil vai repetir o que aconteceu nos EUA. É uma tendência irreversível”, afirmou.
No mercado americano, estima-se que haja cerca de 17 milhões de investidores em ETFs, ou 13% do total, com um patrimônio somado acima de US$ 11 trilhões.
Leia também
Mercado subestima Nubank e sua força em crédito consignado, diz Morgan Stanley
Startup quer popularizar a previdência no Brasil. E isso inclui jornada no WhatsApp
Guerra dos cofrinhos: Nubank e Mercado Livre acirram disputa por clientes