Na disputa pelo investidor, Nubank vê avanço de ETFs como ‘tendência irreversível’

Em entrevista à Bloomberg Línea, Andrés Kikuchi, CIO da Nu Asset, diz que gestora tem potencial de acompanhar expansão acelerada registrada por outros produtos do banco digital

Nubank headquarters
22 de Julho, 2025 | 05:00 AM

Bloomberg Línea — O Nubank chegou ao mercado em 2013 com uma proposta simples do ponto de vista de produto: um cartão de crédito sem anuidade, que, por muitos anos, serviu como porta de entrada para os clientes do banco.

Mais de uma década depois, a Nu Asset, gestora do banco digital, tem buscado repetir essa fórmula em investimentos com uma aposta em ETFs (fundos de índice) como produto de introdução para milhões de pessoas.

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É uma estratégia tem sido mantida, e vai continuar assim, a despeito do apetite do brasileiro por outras categorias de produtos de investimento.

“Acreditamos definitivamente que os ETFs podem ser o nosso diferencial de crescimento”, afirmou Andrés Kikuchi, CIO (Chief Investment Officer) da Nu Asset, em entrevista à Bloomberg Línea.

A gestora conta atualmente com R$ 6 bilhões em ativos sob gestão divididos entre cinco ETFs e 21 fundos de investimentos, essencialmente de renda fixa e multimercados. Os ETFs ainda representam uma categoria de menor relevância, com R$ 160 milhões.

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O patrimônio total de R$ 6 bilhões é duas vezes o registrado há 12 meses. A meta é dobrar novamente o valor de ativos sob gestão, mas sem horizonte de tempo definido.

“Não trabalhamos com um número exato. O objetivo é entender qual é o potencial de penetração que temos com os ativos que possuímos e em como abrir o mercado endereçável”, disse.

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A Nu Asset ainda é uma gestora pequena em termos comparativos de patrimônio líquido: está na 127ª colocação no ranking de fundos da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).

A BB Asset lidera com R$ 1,7 trilhão; entre as 10 primeiras colocadas, o patrimônio líquido é de, no mínimo, R$ 140 bilhões.

Mas há um potencial relevante a partir da base de clientes do próprio banco, que chegava a 104,6 milhões ao fim do primeiro trimestre deste ano no Brasil, único mercado por ora atendido pela gestora.

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A asset do grupo contava com um número menor, de 1,5 milhão de investidores. No Brasil, o total de investidores fica em 59 milhões, segundo a Anbima.

Kikuchi disse avaliar que os números atuais estão em linha com a tendência de crescimento acelerado que tem sido uma marca do Nubank em outros segmentos.

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“É um prazo de maturidade do negócio. Assim como vemos acontecer com o próprio Nubank, primeiro há um crescimento de volume de clientes principalmente porque eles passam a utilizar o serviço e sentem confiança. A evolução do volume sob gestão é quase a consequência natural disso”, disse.

O “braço” de gestão do Nubank (NU) foi lançado em 2018, mas ganhou corpo a partir de 2020, quando o executivo, ex-portfolio manager no UBS, responsável pela área de wealth, foi contratado para reformular o segmento.

Kikuchi tinha a ambição de oferecer, no Nubank, soluções “envelopadas” para o cliente que se assemelhassem à perspectiva adotada na gestão de fortunas. O ETF funcionaria como o veículo ideal para esse projeto, ao oferecer uma “estrutura otimizada de um fundo tradicional”.

Andrés Kikuchi, CIO da Nu Asset

“É um produto com liquidez, padronização de informações, possibilidade de diversificação, acesso via bolsa e eficiência: o ETF é muitas vezes mais barato em taxa de administração”, disse o executivo.

Os fundos de índice, apontados como “gatilhos” para a aceleração do portfólio, são parte de um mercado robusto que atingiu US$ 16,9 trilhões globalmente em junho deste ano, segundo a consultoria ETFGI.

No mercado brasileiro, o segmento completou 20 anos, mas ainda não deslanchou: somava R$ 56,1 bilhões em patrimônio em junho, segundo dados da B3. O valor representava apenas 0,57% dos R$ 9,9 trilhões da indústria de fundos.

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Um ponto que poderia aumentar o apetite do mercado foi o início de vigência da resolução 179 da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) em novembro do último ano.

A regra exige maior transparência na remuneração aos agentes de mercado e poderia beneficiar produtos com taxas menores, como costumam ser os ETFs.

A gestora, no entanto, enxerga um potencial implícito de aceitação dos produtos à medida que entrem no radar dos investidores.

O exemplo vem do NDIV11, primeiro ETF lançado pela Nu Asset em setembro de 2023. Foi produto pioneiro no Brasil na distribuição de dividendos.

“Em pouco mais de um ano, o NDIV11 superou a marca de 10.000 cotistas, enquanto o BOVA11, principal ETF do mercado, demorou 16 anos para ultrapassar essa marca”, disse o CIO.

[Essa aceitação] mostra que era uma carência do mercado. Foi um produto bem recebido e que tem um potencial enorme de crescimento que ainda queremos desenvolver", afirmou o executivo.

A primeira prateleira de ETFs do Nubank foi lançada entre 2023 e 2024 com produtos de renda variável e alternativas que vão da distribuição mensal de dividendos a um mix de ações brasileiras com BDRs. Os próximos passos incluem a ampliação do portfólio para incluir produtos de renda fixa.

“Nós acreditamos que o crescimento dos ETFs no Brasil vai repetir o que aconteceu nos EUA. É uma tendência irreversível”, afirmou.

No mercado americano, estima-se que haja cerca de 17 milhões de investidores em ETFs, ou 13% do total, com um patrimônio somado acima de US$ 11 trilhões.

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Beatriz Quesada

Jornalista especializada na cobertura econômica. Formada pela USP, escreve sobre mercados, negócios e setor imobiliário. Tem passagens por Exame, Capital Aberto e BandNews FM.