Plataforma que conecta investidor a projetos na natureza diz que Brasil é prioridade

Co-fundador da Capital for Climate, Tony Lent, diz à Bloomberg Línea que o mercado brasileiro tem o ambiente mais propício do mundo para investimentos em transição energética e está no alvo de players globais como fundos de pensão

Medioambiente
04 de Julho, 2025 | 12:37 PM

Bloomberg Línea — Reflorestamento, recuperação de pasto degradado, preservação da biodiversidade: o investimento em soluções ligadas à natureza não se tornou objeto de discussões polarizadas, diferentemente do que acontece com o clima, de acordo com o cofundador da Capital for Climate, Tony Lent.

À frente da plataforma global que mapeia projetos de soluções baseadas na natureza (Nature Based Solutions, ou NBS, na sigla em inglês), a NbS Investment Platform, o executivo defendeu o potencial do Brasil para atração de recursos para esse fim.

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“Eu diria que não há país no mundo com um ambiente de investimento melhor nesta área”, afirmou Lent à Bloomberg Línea após o evento Brazil Climate Investment Week, promovido em São Paulo em junho.

A plataforma, que conecta investidores a oportunidades no setor, reúne projetos que somam investimentos potenciais da ordem de US$ 12 bilhões, sendo a maior parte relacionada ao Brasil.

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Somente em 2024, cerca de US$ 2,1 trilhões foram investidos em transição energética globalmente, um avanço de 11% sobre o ano anterior, de acordo com relatório da BloombergNEF. Lent apontou que esse é um sinal de que os esforços para redução das emissões seguem fortalecidos.

“Não há indícios de que a transição energética esteja desacelerando”, disse.

Os investimentos em soluções baseadas na natureza incluem oportunidades diversas, que vão de agricultura regenerativa até reflorestamento e recuperação de pasto.

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“Essas soluções representam uma gama de oportunidades lucrativas. Por meio delas, podemos servir à biodiversidade, à redução e à absorção de gases de efeito estufa.”

Ele acrescentou que algumas das soluções mais adequadas para mitigar as emissões estão no Brasil.

A ideia é que as empresas interessadas em reduzir sua pegada de carbono paguem por esses serviços ambientais para atingir suas metas.

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Em sua visão, as principais oportunidades de negócios residem na proteção e na restauração de florestas nativas. “Essas duas soluções representam a maior parcela do potencial de redução [das emissões]”, disse.

Ele acrescentou que existem ainda outras soluções no Brasil com potencial elevado de retorno, como a restauração de pastagens degradadas.

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“Uma das principais fontes de emissões de carbono e também de degradação da biodiversidade é a conversão de terras florestais para agricultura”, afirmou.

“É isso que está acontecendo em vários biomas no Brasil. À medida que pastagens degradadas são restauradas, isso alivia a pressão sobre as florestas, é um mecanismo de proteção importante e, por si só, lucrativo, um plano de investimento em ativos reais.”

Lent destacou que uma das soluções mais atraentes para investimento na área é a aplicação de recursos em sistemas agroflorestais, que combinam múltiplas culturas com as árvores. Os exemplos incluem açaí, coco, café, entre outros.

“Esse tipo de produção tem sido discutido na literatura acadêmica há mais de 40 anos, mas agora começa a ser escalado comercialmente, com o Brasil tendo o maior potencial tanto para volumes quanto para retornos comerciais sólidos.”

Brasil no radar de fundos de pensão

Lent disse que a Capital for Climate mapeou oportunidades de investimentos nos últimos três anos, com a avaliação de mais de mil projetos.

Cerca de 700 foram “hospedados” na plataforma digital, que está acessível para investidores profissionais.

Diversos países estão em busca de oportunidades no Brasil, relatou o executivo, como, por exemplo, fundos de pensão canadenses e americanos.

Ele lembrou que a transição energética envolve duas frentes: redução das emissões ou retirada de dióxido de carbono da atmosfera. Em sua avaliação, a segunda alternativa é significativamente mais eficiente em termos de capital empregado.

“Como o mundo todo tem restrições de capital, é inevitável que os investidores comecem a buscar oportunidades baseadas na natureza, que são mais eficientes”, disse.

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Juliana Estigarríbia

Jornalista brasileira, cobre negócios há mais de 12 anos, com experiência em tempo real, site, revista e jornal impresso. Tem passagens pelo Broadcast, da Agência Estado/Estadão, revista Exame e jornal DCI. Anteriormente, atuou em produção e reportagem de política por 7 anos para veículos de rádio e TV.