Bloomberg Línea — O primeiro semestre de 2025 caminha para ser um período de baixa para o dólar, com reversão da tendência de valorização do ano passado, quando subiu 27% versus o real. Neste ano, a moeda americana acumula baixa perto de 10%.
Nem mesmo as incertezas e os ruídos em torno da política fiscal do governo Lula e da trajetória da dívida pública alteram ou amenizam essa tendência – é um sinal de que o movimento deve continuar nos próximos meses, na visão de André Leite, CIO da TAG Investimentos, gestora com R$ 15 bilhões sob gestão.
“Quando o fluxo de capital chega, o fundamento vai para o banco do carona e quem assume o volante é o fluxo”, disse o head de investimentos da TAG em entrevista à Bloomberg Línea. “É um movimento que tem chance de continuar.”
A explicação para a resiliência do movimento diante da turbulência fiscal passa pelo apetite dos investidores estrangeiros pelo Brasil.
A TAG decompôs o movimento de valorização do real entre fatores externos e internos e chegou à conclusão que 71% dos ganhos foram apoiados pelo exterior.
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O fluxo acompanha a saída de recursos dos Estados Unidos na esteira das incertezas causadas pelas políticas do presidente americano Donald Trump.
A turbulência vem desde uma política tarifária errática, usada como estratégia de negociação com parceiros comerciais, até um projeto tributário que eleva a dívida americana e reforça o alerta sobre a trajetória fiscal do país.
Havia uma sobrealocação do capital em ativos americanos nos últimos anos que agora vem retornando aos patamares de normalidade, na avaliação de Leite.
“O market cap global gira em torno de US$ 125 trilhões. Portanto uma movimentação de apenas 1% para equilibrar o portfólio já representa US$ 1,2 trilhão em recursos que buscam novos destinos”, afirmou.
O CIO destacou ainda que o investidor estrangeiro é menos criterioso que o brasileiro quando se trata da política fiscal local. Tanto que as medidas recém-anunciadas pelo governo - e amplamente criticadas por gestores, analistas e executivos - não tiveram o impacto no dólar que era esperado por parte do mercado.
A primeira proposta neste ano, que anunciava um aumento no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para diferentes casos, elevou a cotação da moeda em apenas 0,32% – com correção para baixo logo na sessão seguinte.
Foi uma reação bem diferente do fim de 2024, quando o dólar disparou 1,8% após o anúncio da proposta de isenção ao Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000.
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O segundo pacote, por sua vez, veio na forma de medida provisória que muda a tributação sobre investimento em ações, fundos, criptoativos e títulos isentos, como as Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e as Letras de Crédito do Agronegócio (LCA).
“Quando houve aquele primeiro evento do IOF, era consenso nos grupos de gestores dos quais participamos que o dólar iria abrir estressado; mas o que vimos foi um mercado muito bem comportado. Mesmo com a segunda ‘pernada’ [de medidas], o mercado continuou tranquilo”.

Existe outro fator interno que justificaria parte da “calmaria” entre os investidores: o chamado “trade eleitoral”. Alguns já apostam em uma vitória de um governo de direita e pró-mercado nas eleições do próximo ano, especialmente com a queda de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Eles [esses investidores] colocam na conta que o governo vai aumentar as despesas, mas que isso tem data para acabar. E que, a partir de 2027, teremos um governo responsável que coloque a questão econômica em ordem”, observou Leite, para em seguida apresentar a visão da TAG.
“Nós somos céticos quanto a essa visão: o PT é um partido que sabe ganhar eleição e que ainda tem um ano de gastos pela frente”, disse.
O fluxo de capital e as expectativas já têm impulsionado a bolsa brasileira, que avança perto de 15% no acumulado do ano e opera perto do recorde nominal na casa dos 140.000 pontos. “Se a alternância de poder se confirmar, podemos ter um rali”, afirmou, com a ponderação de que ainda está cedo.
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A TAG não faz projeções de pontuação para o Ibovespa ou o patamar do dólar, mas, na composição de portfólio, segue neutro na exposição à renda variável no Brasil.
“A bolsa é o eterno barato. Ainda que tenha perspectiva de ganhos, é preciso entender se eles vão se concretizar”, afirmou.
Nos EUA, por outro lado, a avaliação é que as ações seguem caras em meio ao aumento da volatilidade neste começo de ano.
Leite disse preferir renda fixa tanto no exterior quanto no Brasil. “Existe um prêmio bem interessante atualmente na renda fixa. Inclusive, temos advogado por portfólios que tem comparativamente menos renda variável e mais renda fixa e crédito.”
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