Opinión - Bloomberg

Como os EUA podem aproveitar o período de cessar-fogo entre Irã e Israel

Cessar-fogo mediado pelos EUA é um importante primeiro passo para buscar acordos duradouros

Casa Branca
Tempo de leitura: 4 minutos

Bloomberg Opinion — Após dias de ataques aéreos e bombardeios com mísseis que aumentaram a possibilidade de um conflito regional, o fato de Israel e o Irã terem concordado com um cessar-fogo mediado pelos Estados Unidos é motivo de comemoração.

Mesmo que seja mantido, porém, é apenas o primeiro passo em direção ao que deveria ser o principal objetivo do governo americano: um acordo negociado que imponha restrições reais e duradouras ao programa nuclear iraniano.

As iniciativas dos Estados Unidos nos últimos dias podem ter fortalecido sua posição. No fim de semana, as forças americanas lançaram bombas antibunker e mísseis Tomahawk nas três principais instalações nucleares do Irã em Natanz, Isfahan e Fordow, causando “danos extremamente graves”, de acordo com o Departamento de Defesa.

Embora o Irã pudesse ter realocado seus estoques de urânio e centrífugas, esses locais podem agora estar inutilizáveis. As forças americanas não sofreram ataques nem baixas.

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Depois de perder a maior parte de suas defesas aéreas e grande parte de sua liderança militar em ataques israelenses anteriores, o Irã parece ter reconhecido a loucura de uma escalada. Antigos aliados, como Rússia e China, não demonstraram entusiasmo em ajudar o país.

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Expulsar os inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e correr para fabricar uma bomba só provocaria mais ataques e um isolamento internacional ainda mais profundo.

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O país quase certamente enfrentaria o “retorno” das sanções das Nações Unidas. Apesar dos temores de uma guerra mais ampla, o país sabiamente recuou após lançar apenas alguns mísseis facilmente interceptados contra as forças americanas no Catar.

Vale lembrar que o Irã provocou essa situação. Ele não precisava responder à retirada reconhecidamente imprudente dos Estados Unidos do Plano de Ação Conjunto Global de 2015 enriquecendo urânio a 60%, um pequeno passo para o nível de armas nucleares.

Poderia ter sido totalmente transparente com a AIEA sobre suas suspeitas de pesquisas nucleares no passado. Teve várias oportunidades de negociar um novo acordo com este governo e com o anterior.

Os argumentos de que o país é vítima da agressão dos Estados Unidos soam vazios quando comparados com suas décadas de apoio aos terroristas do Hezbollah e do Hamas e com a tecnologia de drones que forneceu à Rússia para matar civis ucranianos.

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Ao mesmo tempo, os EUA não devem pensar que resolveram milagrosamente o problema nuclear iraniano. Não está claro quantas centrífugas avançadas o Irã ainda possui, sem mencionar onde exatamente está armazenado seu estoque de urânio altamente enriquecido — suficiente para nove bombas.

Mesmo que o programa tenha sofrido um atraso de anos, provavelmente pode ser reconstruído. É improvável que novos ataques aéreos forcem uma mudança de regime e certamente não poderiam garantir que qualquer novo governo fosse amigável.

Embora os Estados Unidos e Israel tenham ganhado tempo com esses ataques, eles ainda precisam de uma estratégia para conter a ameaça iraniana que vá além de bombardeios periódicos — e arriscados.

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Isso exigirá um acordo diplomático confiável para limitar as atividades nucleares do Irã, apoiado por inspeções intrusivas e pela ameaça de renovação do uso da força.

Por mais indignados que os líderes iranianos possam estar, o fato de o regime ter evitado cuidadosamente matar qualquer americano no Catar mostra que eles ainda não querem fechar as portas para as negociações.

Leia mais: Irã tem três opções prováveis após ataques dos EUA. A quarta não depende do regime

A prioridade dos Estados Unidos agora deve ser convencer tanto as autoridades iranianas quanto, mais importante, os cidadãos de que sua segurança a longo prazo não depende de armas nucleares que talvez nunca consigam construir e que, entretanto, custariam dezenas de bilhões em receitas perdidas.

Eles devem ser lembrados de que o lugar no mundo ao qual aspiram só pode ser alcançado se tiverem a confiança de seus vizinhos e da comunidade internacional em geral.

As recompensas por um acordo nuclear verdadeiramente hermético devem ser substanciais — e contrastar com os benefícios limitados que fluem para os membros do regime bem relacionados quando o Irã permanece isolado e irritado.

As negociações serão difíceis e a Casa Branca naturalmente ficará tentada a reivindicar a vitória e seguir em frente. Mas os Estados Unidos devem lembrar que um acordo restringiria o programa nuclear do Irã por muito mais tempo do que os ataques aéreos e os assassinatos seletivos. O país não deve perder esta nova oportunidade de chegar a um acordo.

O Conselho Editorial publica as opiniões dos editores sobre uma série de assuntos de interesse global.

— Editores: Nisid Hajari, Timothy Lavin.

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