Itaú incorpora gestão da Kinea Ventures e amplia fundo para startups para R$ 500 mi

Com R$ 220 milhões já investidos em oito startups, CVC é rebatizado como Itaú Ventures e conta com cerca de R$ 280 milhões para novas rodadas em áreas estratégicas, contam Fernando Chagas e Philippe Schlumpf à Bloomberg Línea

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16 de Junho, 2025 | 10:00 AM

Bloomberg Línea — O Itaú Unibanco anuncia ao mercado a criação do Itaú Ventures, nova estrutura de corporate venture capital com capital comprometido de R$ 500 milhões.

O fundo, que substitui o modelo anterior operado por meio da Kinea Ventures, será diretamente gerido pelo banco e mira startups com potencial de sinergia com o core business da instituição financeira.

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“A nossa crença é a de que um CVC [Corporate Venture Capital] de viés estratégico, com esse portfólio de investidas que temos, possui uma real capacidade de impactar, acelerar e alavancar o crescimento das áreas de negócios do banco e a experiência dos clientes do banco. E a recíproca é verdadeira para as startups”, disse Fernando Chagas, diretor de negócios proprietários do Itaú Unibanco, em entrevista à Bloomberg Línea.

Segundo o executivo, a instituição decidiu dobrar a aposta no modelo de CVC e, mais ainda, no relacionamento com o ecossistema de empreendedorismo, iniciado há dez anos com o lançamento do Cubo, o hub de inovação em São Paulo.

O Kinea Ventures, por sua vez, nasceu em 2019, dentro da estrutura da Kinea, gestora controlada pelo Itaú (ITUB4).

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Investiu em oito startups, com desembolso de R$ 220 milhões ao longo dos anos - inicialmente, o fundo foi criado com R$ 150 milhões.

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Com a nova estrutura, o capital total do Itaú Ventures passa a R$ 500 milhões, já considerando os R$ 220 milhões alocados em rodadas anteriores. Ou seja, o maior banco do país tem cerca de R$ 280 milhões ainda disponíveis para novos aportes.

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A última investida foi na Kanastra, startup que fornece serviços de backoffice para fundos e produtos securitizados, com alta presença no universo de FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios).

Ao internalizar o veículo de investimentos e incorporar o time comandado por Philippe Schlumpf, agora superintendente do Itaú Ventures, a instituição procura, segundo os executivos, ampliar a relação das diferentes áreas do banco com o CVC.

“Esse grupo, liderado pelo Philippe, olhou mais de mil possibilidades de investimentos, se engajou com 800 e discutiu várias delas com os executivos do banco”, contou Chagas.

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“Nós chegamos à conclusão de que esse grupo já tinha se tornado robusto e de que nós queríamos fomentar ainda mais a proximidade dele com as áreas de negócios do banco”, completou o diretor de negócios proprietários do Itaú.

O “transbordo” de uma estrutura para a outra começou a ser feito nos primeiros meses do ano e, segundo Schlumpf, uma mudança sentida pelo time é no grau das conversas.

“Há uma diferença no nível de profundidade da discussão das teses e da estratégia do banco a partir do momento em que migramos para a nova estrutura”, disse.

Estruturas de CVC têm, em geral, alta dependência da relação construída entre a cadeira de comando do veículo e os executivos da corporação-mãe. O sucesso - ou insucesso - da estratégia está ligado em certa medida à forma como essas partes interagem.

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O novo CVC

O Itaú Ventures mantém a tese que fundamentou as movimentações do Kinea Ventures, com atenção a oportunidades em áreas como pagamentos, wealth, seguros, crédito, cibersegurança, serviços financeiros, UX, infraestrutura e IA.

Os cheques devem ficar entre R$ 20 milhões e R$ 50 milhões, em startups em rodadas Séries A e B.

“Nós não vamos mudar aqui o nosso escopo e mercado de atuação. O que queremos é conseguir estar muito mais próximos ao que é estratégico para o banco e para os nossos clientes”, disse Schlumpf.

O centro da estratégia passa por encontrar startups com produtos que o banco não tem dentro de casa ou que oferecem grande vantagem competitiva - e ainda com modelos que apontem para novas linhas de negócios.

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Um exemplo, de acordo com Schlumpf, é o investimento na Liqi, plataforma de ofertas de ativos tokenizados, em que o fundo entrou ainda no seed.

“É uma startup que conseguiu trazer essa ‘catequização’ desse universo cripto e de tokenização e blockchain para o banco e hoje está muito bem inserida aqui no contexto estratégico”, disse o executivo.

Passado esse primeiro momento do CVC, uma estratégia que tende a ganhar mais força é a do investimento em startups hispânicas, um dos pontos na composição do mandato do fundo.

“Com a internalização, com certeza teremos mais sucesso e conseguiremos ser mais intencionais olhando oportunidades fora do Brasil”, disse Schlumpf, que espera atrair ‘sponsors’ entre os líderes das operações do banco nos países vizinhos para levar a tese a outros mercados.

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Marcos Bonfim

Jornalista brasileiro especializado na cobertura de startups, inovação e tecnologia. Formado em jornalismo pela PUC-SP e com pós em Política e Relações Internacionais pela FESPSP, acumula passagens por veículos como Exame, UOL, Meio & Mensagem e Propmark