Bloomberg — Ken Moelis fundou sua própria empresa em uma época em que Wall Street reverenciava os principais dealmakers quase como estrelas do esporte.
Duas décadas depois, o banqueiro e fundador está em processo de entregar a liderança do seu banco de investimentos a um pupilo que não hesita em comparar sua frota de banqueiros a atletas de elite.
Navid Mahmoodzadegan, que fez seu nome lidando com grandes negócios em esportes e entretenimento, está pronto para assumir o Moelis & Co à medida que o banco de investimentos boutique se prepara para a tão esperada recuperação de M&As.
Conhecido por ser um homem de personalidade forte, os destaques de sua carreira incluem a combinação da World Wrestling Entertainment (WWE) e do Ultimate Fighting Championship, a ajuda na compra do Chelsea Football Club e a realização da venda mais cara de uma equipe esportiva profissional feminina.
Ele também espera intensidade dos colegas.
“Não é possível ser um atleta de alto desempenho em qualquer posição no campo esportivo se você não estiver trabalhando duro e se esforçando um pouco”, disse Mahmoodzadegan, de 56 anos, em uma entrevista à Bloomberg News na sede de sua empresa em Manhattan, após o anúncio na última semana de que ele se tornará CEO em outubro.
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Esse tipo de motivação faz com que alguns prevejam que a cultura da empresa poderá se tornar mais competitiva durante sua gestão. Isso também moldou a reputação que Mahmoodzadegan tinha no passado de, às vezes, pressionar os colegas a ponto de ficarem ressentidos na busca de negócios.
O herdeiro de Ken Moelis à frente do banco não hesita em responder a essas críticas.
“Houve algum crescimento pessoal ao longo dos anos”, disse ele. “Todos nós nos esforçamos para sermos melhores e, nos últimos anos, acho que fiz o melhor que pude para delegar e permitir que nossos banqueiros crescessem, se desenvolvessem e tivessem responsabilidade - e tentar não ser um maníaco por controle total.”
Mahmoodzadegan está ciente da percepção de que as mesas de negociação de Wall Street trabalham 24 horas por dia e do impacto que isso teve sobre os analistas juniores que se juntaram à equipe.
Nos últimos anos, os bancos de investimento têm sofrido uma pressão especial para reduzir suas exigências em relação aos estagiários, que dedicam horas exaustivas, noites e fins de semana, ao trabalho de apresentar e concluir negócios.
“Quando eu estava subindo na hierarquia, havia um pouco de mentalidade de ‘ritual de iniciação’ em alguns trabalhos”, disse Mahmoodzadegan.
Agora, ele tem a perspectiva de um pai cuja filha é analista de banco de investimentos em outra empresa. Ele disse que entende a necessidade de tirar “um pouco do excesso dessa experiência”.
Sua empresa, que no mês passado exigiu que todos os funcionários retornassem ao trabalho presencial cinco dias por semana, permite que os junior bankers tenham oito fins de semana protegidos por ano.
“Fizemos um bom trabalho - talvez ainda não totalmente - para eliminar um pouco do ritual de iniciação”, disse Mahmoodzadegan.
Em sua nova função, o banqueiro assumirá mais controle, juntamente com seu colega cofundador Jeff Raich, que se tornará vice-presidente executivo.
Mas, já há alguns anos, Mahmoodzadegan tem estado no centro da expansão da empresa.
Isso significou contratar banqueiros do Silicon Valley Bank (SVB) e do Credit Suisse, que entraram em colapso, e expandir na Ásia e no Oriente Médio, onde a empresa tem relações profundas com as empresas estatais da Arábia Saudita, incluindo a Aramco e a LIV Golf.

A ascensão Mahmoodzadegan, que era visto havia muito tempo como favorito à sucessão, ficou clara nos números.
Embora Ken Moelis, de 66 anos, possua uma participação muito maior na empresa e tenha seus próprios incentivos plurianuais, a remuneração anual de Mahmoodzadegan superou a de seu chefe em cada um dos últimos dois anos.
Trata-se de um montante combinado de US$ 29 milhões que foi quase o dobro do que Ken Moelis recebeu nesse período, conforme mostra um registro regulatório.
A promoção também coloca o novo CEO em posição de receber um prêmio baseado em desempenho que pode incluir até 450 mil ações - se a empresa, atualmente com valor de mercado de US$ 4,6 bilhões, atingir determinadas metas de preço de ações até 2030. Essa participação já valeria mais de US$ 26 milhões no preço de fechamento de segunda-feira (9).
Nascido nos Estados Unidos e criado nos subúrbios de Detroit, em Michigan, filho de pais imigrantes do Irã, Mahmoodzadegan não tem o histórico típico de um banqueiro.
Seu pai era radiologista e Mahmoodzadegan estudou ciências políticas na Universidade de Michigan, antes da Faculdade de Direito de Harvard.
“Sou um garoto do meio-oeste americano, que ainda é meu lar, embora eu more em Los Angeles e esteja sempre em Nova York”, disse.
Ele participa do conselho na promoção do programa esportivo de Michigan e apoiou um centro de nutrição para os jogadores de futebol americano que leva o nome de sua família.
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Poucos dias depois de começar a trabalhar como advogado no setor corporativo, Mahmoodzadegan percebeu que não queria fazer esse trabalho.
“Eu estava lá, mais ou menos, dando papel à transação, mas não entendia realmente por que ela estava acontecendo”, disse ele.
Assim, em 1995, sem nenhuma formação ou experiência financeira, ele conseguiu um emprego na Donaldson, Lufkin & Jenrette, em que começou a trabalhar com Ken Moelis.
Lá, foi colega de escritório de Jim Momtazee, hoje managing partner da Patient Square Capital, empresa de private equity na área de saúde, e cujo irmão, John Momtazee, mais tarde foi cofundador da Moelis em 2007.
Recuperação de negócios
Enquanto Mahmoodzadegan se prepara para assumir o cargo de CEO, a empresa vê o início de uma recuperação há muito esperada em fusões e aquisições, após uma queda sustentada que pesou sobre o preço de suas ações.
Atualmente, a Moelis é negociada a cerca de US$ 58 por ação, abaixo dos valores máximos atingidos durante um boom de negócios alimentado pela pandemia e novamente no início deste ano, quando Donald Trump assumiu o cargo.
Os chamados financial sponsors - incluindo as empresas de private equity - devem ser particularmente ativos, com demanda reprimida para encontrar dinheiro novo para fundos que precisam devolver capital aos investidores.
A assessoria sobre esses negócios é uma área em que Ken Moelis confessou que a empresa demorou a começar a conquistar participação no mercado.
Em fevereiro, a empresa contratou Matt Wesley, ex-chefe do grupo de capital privado da Jefferies Financial, para liderar sua própria unidade.
“Finalmente conseguimos acertar a equipe”, disse Mahmoodzadegan. “Esse é um negócio em que há alguns bons grupos e você tem que aparecer com a equipe A para ter licença para vencer. E nós temos uma equipe A agora.”
-- Com a colaboração de Sonali Basak, Dinesh Nair e Sridhar Natarajan.
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