Bloomberg Línea — A Riverwood Capital pretende dobrar o ritmo de investimentos no Brasil em 2025, mirando empresas de software com potencial de ganhar escala rapidamente e com iniciativas relevantes em inteligência artificial (IA). A expectativa é aportar cerca de US$ 200 milhões neste ano e repetir o patamar em 2026.
O volume é o dobro do volume investido em 2024, quando a gestora aportou US$ 100 milhões em startups como a Amigo Tech, software médico para auxiliar clínicas e consultórios, e a NetLex, de automação de documentos.
Neste ano, o fundo já investiu na Paytrack, de gestão de despesas corporativas.
“Temos alguns investimentos que estão sendo negociados e outros que devem ser assinados no segundo semestre, provavelmente”, afirmou Joaquim Lima, sócio da Riverwood, em entrevista à Bloomberg Línea durante o ABVCap Experience, evento com gestores do mercado de private equity e venture capital.
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Os aportes partem de recursos levantados em dois fundos da gestora americana, que somam juntos US$ 1,8 bilhão - um com mandato global e outro com foco na América Latina.
Segundo Lima, a Riverwood tem hoje cerca de US$ 600 milhões disponíveis para novas apostas no Brasil, valor equivalente a mais de R$ 3,3 bilhões na cotação atual.
“Nós investimos 20% do fundo, com os outros compromissos que temos. Ou seja, temos bastante chão ainda. Estamos com apetite para investir tanto neste ano quanto no próximo, que vai ser ano de eleição e vai ter muita instabilidade. Nós queremos acelerar”, afirmou.
De acordo com o gestor, o fundo - hoje com 16 empresas no portfólio nacional, incluindo Dock, CRMBonus, Omie e Intelipost - tem mirado negócios maiores e participações mais relevantes, em alguns casos com a combinação de capital primário e secundário.
A previsão é que, apesar do aumento do volume investido, o número de deals não seja superior ao do ano passado. Os cheques têm ficado entre US$ 30 milhões e US$ 50 milhões.
A estratégia da Riverwood está centrada em empresas de software B2B com modelos já comprovados, alto crescimento (acima de 40% ao ano) e com margem bruta saudável.
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“Não precisa gerar caixa ainda, mas precisa haver um caminho claro para rentabilidade com escala”, disse Lima. A faixa ideal de receita anual para os alvos está entre R$ 50 milhões e R$ 100 milhões, em mercados nos quais as empresas têm potencial para crescer até dez vezes.
IA no centro da tese
A inteligência artificial é um componente obrigatório para as análises da gestora.
“Se a empresa ainda não tem uma iniciativa de IA relevante, avaliamos se o time é capaz de fazer esse catch-up. Se sim, entramos, mas com um valuation ajustado para esse risco”, explicou Lima.
A Riverwood trabalha com a análise de 14 teses globais, muitas das quais replicáveis no Brasil. Algumas áreas ou negócios prioritários são legaltechs, ferramentas de CRM e pricing dinâmico, compliance, gestão de despesas corporativas e digitalização de setores como logística, varejo, saúde e fintechs.
No Brasil, a PayTrack é um exemplo desse movimento na gestão de despesas. Globalmente, a Riverwood investiu na Hyperproof (compliance) e em empresas israelenses que usam IA para personalização de preços em e-commerces.
Cautela com valuations
Apesar do entusiasmo amplo no mercado com a Inteligência Artificial generativa (AI Gen), Lima alertou para o risco de valuations inflados.
“O mercado superestima a IA no curto prazo e subestima no longo. A minha impressão é que, nos primeiros anos, a adoção vai tomar um pouco de tempo porque existe uma inércia por parte das empresas”, disse.
“Se você paga muito alto, quer dizer que espera que muito do valor venha para o presente.”
A preferência da Riverwood, segundo o executivo, é evitar entrar em negócios ainda sem produto validado ou sem tração clara, até pelo estágio em que a gestora costuma investir.
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