Rivalidade entre Musk e Trump pode causar tanto caos quanto a amizade deles

Inicialmente aliados, Trump e Musk agora enfrentam um conflito público e trocam farpas, levantando questões sobre o futuro de suas interações

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Bloomberg Opinion — A rivalidade latente entre o presidente Donald Trump e o magnata da tecnologia Elon Musk tornou-se pública, fazendo com que as ações da Tesla (TSLA) despencassem e depois se recuperassem, colocando em questão os contratos governamentais de Musk e deixando Trump possivelmente em uma posição mais dominante sobre o homem mais rico do mundo.

Mas, na verdade, quem sabe o que pensar dessa parceria sempre estranha entre dois homens imprevisíveis?

Na quinta-feira (5) à noite, Musk sinalizou que estava aberto a uma trégua. Relatos de um telefonema na sexta-feira surgiram e foram descartados por Trump, tudo isso com o pano de fundo dos apelos de um mundo MAGA dividido pela perspectiva de seus líderes se voltarem uns contra os outros. No entanto, pouca coisa é permanente no mundo de Trump, exceto o caos e a perturbação.

Para onde isso vai levar e como vai terminar, ninguém sabe, mas o que está claro é que a amizade política que uniu dois dos homens mais poderosos do mundo no início da presidência de Trump agora se tornou uma bagunça instável.

É claro que essa não é maneira de governar um país.

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A briga que durou um dia inteiro revelou de forma gritante o que sempre foi óbvio: essa relação é transacional e sempre cheirou a corrupção, com a contribuição de US$ 270 milhões de Musk para a campanha eleitoral garantindo-lhe uma posição poderosa no governo, incluindo bilhões em contratos e acesso a dados e ao funcionamento interno de agências federais.

Foi apenas na semana passada que o presidente Donald Trump presenteou Musk com uma chave de ouro da Casa Branca, dizendo que seu “serviço à América foi incomparável na história moderna” e comemorando seu último dia como funcionário especial do governo.

Mas essa despedida não conseguiu encobrir as crescentes rachaduras na amizade.

Musk se tornou um risco político para Trump, assim como o presidente se tornou um risco comercial para o homem mais rico do mundo.

A união custou bilhões a Musk, prejudicou sua marca e o levou a sugerir que estava cansado da política. “Acho que já fiz o suficiente”, disse Musk em uma entrevista à Bloomberg no mês passado, quando questionado sobre seus gastos políticos com Trump e a causa do Partido Republicano.

O bilionário, que opera o Comitê de Ação Política (PAC,na sigla em inglês) Building America’s Future, prometeu gastar US$ 100 milhões nas eleições intermediárias, embora isso agora esteja em dúvida.

E ao ceder tal poder a Musk, Trump manchou os primeiros 100 dias de sua presidência com cortes erráticos, erros e recuos que levaram a disputas internas entre funcionários e membros do gabinete que não conseguiam controlar Musk.

Seu Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês) foi em grande parte um fracasso, com custos que provavelmente superam as economias, os gastos federais que continuam a aumentar e o governo Trump que agora desfez algumas das demissões do DOGE.

Nos dias após o término de seu mandato oficial, Musk provou o quão incontrolável ele era, atacando o enorme projeto de lei de reconciliação de Trump, chamando-o de “abominação”.

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“Em novembro do ano que vem, demitiremos todos os políticos que traíram o povo americano”, ameaçou Musk, o aspirante a formador de opinião, no X na terça-feira (3).

Mas a rivalidade tem o potencial de ser tão prejudicial para os dois homens quanto sua improvável amizade provou ser.

Em jogo para Trump está o tipo de influência, megafone e dinheiro que só Musk pode oferecer, dado seu status entre os poderosos irmãos da direita tecnológica que alimentaram a campanha de Trump e o Partido Republicano de forma mais ampla.

“Sem mim, Trump teria perdido a eleição, os Democratas controlariam a Câmara e os Republicanos teriam 51 assentos no Senado contra 49 dos Democratas”, escreveu Musk no X. “Que ingratidão.”

A maioria das alianças políticas de Trump teve uma data de validade, mas sua relação com Musk tem sido diferente de todas as outras. Para Trump, Musk era um multiplicador de força, ampliando sua estatura e trazendo outros bilionários, irmãos da tecnologia e irmãos comuns junto com ele.

Mas ao desafiar Trump, e particularmente ao mencionar sua conexão com Jeffrey Epstein, Musk testa seu poder sobre o MAGA e coloca a si mesmo — e suas empresas — em risco de contratos cancelados e, potencialmente, até mesmo investigações do governo federal.

Trump detém um poder tremendo sobre a vasta riqueza de Musk.

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“A maneira mais fácil de economizar dinheiro em nosso orçamento, bilhões e bilhões de dólares, é encerrar os subsídios e contratos governamentais de Elon”, escreveu Trump no Truth Social. “Sempre me surpreendi que Biden não tenha feito isso!”

Isso foi uma estratégia de terra arrasada, revelando a força de Trump e a grande fraqueza de Musk.

Em última análise, o MAGA pertence a Trump. Quanto ao projeto de lei gigantesco, ele provavelmente ainda será aprovado de alguma forma, embora Musk tenha agora destacado suas piores partes — ele adiciona US$ 2,4 trilhões ao déficit na próxima década e dificilmente é MAGA.

Enquanto isso, alguns democratas sugeriram que Musk é um agente livre em potencial e deve ser cortejado e trazido para o grupo. Mas isso seria um erro. Uma aliança com Musk é semelhante a ter um tigre pela cauda em uma tenda muito pequena e lotada. Não há boas opções e a única certeza é o caos.

Esta coluna reflete as opiniões pessoais do autor e não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Nia-Malika Henderson é colunista de política da Bloomberg Opinion. Ex-repórter sênior de política da CNN e do Washington Post, ela cobriu política e campanhas eleitorais por quase duas décadas.

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