Opinión - Bloomberg

Política TACO? Nova fama de Trump pode levá-lo a dobrar a aposta no ‘vale-tudo’

Acrônimo que vem de ‘Trump Always Chickens Out’ (’Trump sempre amarela’, em tradução livre), citado por colunista do Financial Times, desagradou tanto o presidente que ele pode querer provar para si mesmo que dá todas as cartas

Donald Trump tem se caracterizado pela imposição de tarifas seguidas pela suspensão das mesmas com extensão de prazos para negociação
Tempo de leitura: 5 minutos

Bloomberg Opinion — Donald Trump apreciava suas versões favoritas de tacos durante seu primeiro mandato presidencial.

“Os melhores tacos são feitos no Trump Tower Grill”, ele postou em seu perfil no então Twitter no início de 2016, compartilhando uma foto sua devorando uma porção grande em sua mesa. “Eu amo os hispânicos!”

Hoje em dia, tacos não são mais a praia de Trump.

Mais precisamente, a versão criada pelo colunista do Financial Times Robert Armstrong não é a praia dele.

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Armstrong, observando que Trump repetidamente recuou de algumas de suas ameaças tarifárias mais ferozes, apelidou esse fenômeno de “TACO” — Trump Always Chickens Out (“Trump sempre amarela”, em tradução livre).

Os traders experientes em TACO estavam ganhando dinheiro abraçando essa realidade, observou Armstrong.

No entanto essa não é uma realidade que Trump está pronto para abraçar.

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“Essa é uma pergunta maldosa”, disse ele a um repórter que perguntou sobre o apelido TACO em uma entrevista coletiva de imprensa na Casa Branca na quarta-feira (28). “Nunca diga o que você disse. Essa é uma pergunta maldosa. ... Para mim, essa é a pergunta mais maldosa.”

Trump, que se considera um negociador e estrategista brilhante, apesar das muitas evidências em contrário, é claro que sempre vai se irritar com a ideia de que é “amarelão” — e previsível, ainda por cima.

Ele também costuma se apresentar como um vencedor infalível, de modo que a pergunta mais maldosa é também aquela que especula se ele está atolado em uma série de derrotas.

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Sua política tarifária, aplicada tanto a aliados quanto a rivais, tem sido implementada de forma instável e repleta de ineficiência economicamente prejudicial.

Trump nunca reconhecerá nada disso, o que é de se esperar. Mas também pode ser sensato considerar este momento impulsionado pelo TACO como algo além de um interlúdio alegre em um miasma político tragicômico.

Trump protege e prioriza a forma como seus diversos públicos o percebem.

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Um Trump ansioso para provar que não é “amarelão” é um Trump disposto a infligir danos econômicos, sociais ou políticos a serviço de seu ego e autoimagem (também uma característica recorrente de sua passagem anterior, mas menos consequente, como incorporador imobiliário e operador de cassinos).

Os perigos se aproximam.

Trump me disse uma vez que admirava John Gotti, o notório mafioso, porque Gotti nunca recuava, nunca vacilava ou chorava em um tribunal e lançava um olhar maligno a todos que se opunham a ele. É assim que Trump se vê. Tudo menos um “amarelão”.

Lembre-se de que Trump fez campanha prometendo impor tarifas sufocantes a países como a China, que ele descreveu como um predador que rouba os fabricantes e os trabalhadores americanos.

Ele disse praticamente o mesmo sobre parceiros comerciais indispensáveis como o Canadá e o México, que juntos criaram vastos depósitos de valor econômico para si mesmos e para os EUA.

Determinado a cumprir uma promessa de campanha que o tornou querido por sua base política, ele ofereceu ao mundo um espetáculo de tarifas em abril, que causou uma queda nos mercados financeiros.

Brevemente castigado, Trump então começou a oferecer isenções a vários setores e a minimizar a escala das tarifas que estava considerando.

Ele cortejou ansiosamente os países para fechar acordos com ele.

No entanto ir muito longe nesse caminho teria sido uma reversão óbvia de suas promessas de campanha imprudentes, e isso poderia ter lhe custado caro nas eleições de meio de mandato do ano que vem.

Então, ele passou a ser um ioiô humano ao discutir suas intenções tarifárias; às vezes duro, às vezes disposto a ceder, mas sempre oscilante e imprevisível (e a incerteza, veja bem, pode facilmente se transformar em caos).

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Uma saída útil para sua situação difícil surgiu na quinta-feira (29), quando o Tribunal de Comércio Internacional dos EUA decidiu que ele não tinha autoridade legal para impor tarifas unilateralmente sob a cláusula de poderes de emergência da presidência.

Trump poderia ter concordado, colocado seu regime tarifário de volta na caixa de Pandora de onde ele surgiu e então culpado os tribunais por tudo.

“O Estado Paralelo minou minha corajosa postura tarifária”, ele poderia ter dito aos seus eleitores, não eu. Mas eu tentei cumprir minhas promessas a vocês. Eu realmente tentei.

Trump pode ter sido taxado de covarde quando ignorou essa oportunidade, embora ele tenha décadas de desafio institucional que precederam o ato.

Independentemente disso, ele agora está certamente determinado a provar que não é um “amarelão”. Seu governo recorreu com sucesso da decisão comercial a um tribunal superior na quinta-feira e obteve uma suspensão temporária de suas restrições.

Embora o Tribunal de Apelações dos EUA tenha concedido apenas uma suspensão e possa, em última instância, confirmar a decisão do tribunal comercial, a Casa Branca comemorou. Ela trouxe o linha-dura do comércio e ex-presidiário Peter Navarro para dar uma volta da vitória em nome de Trump na TV.

É provável que essa disputa tarifária chegue à Suprema Corte, em que nove juízes decidirão, mais uma vez, quais são os poderes adequados da presidência em uma era em que o atual ocupante do Salão Oval acredita que eles são ilimitados.

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No entanto é improvável que a decisão da Suprema Corte ponha fim a toda essa confusão. A Casa Branca afirmou que Trump encontraria outras maneiras de impor tarifas comerciais se os tribunais o impedissem desta vez. E ele está ainda mais motivado para provar que domina a oposição.

“O triste é que, agora, quando eu faço um acordo com eles — algo muito mais razoável —, eles dizem: ‘Ah, ele foi covarde. Ele foi covarde’”, disse Trump durante a coletiva de imprensa na quarta-feira. “Isso é inacreditável.”

Certamente há uma pessoa que não acredita nisso e agora está determinada a convencer o resto do mundo a não acreditar também. Apertem os cintos.

Esta coluna reflete as opiniões pessoais do autor e não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Timothy L. O’Brien é editor executivo sênior da Bloomberg Opinion. É ex-editor e repórter do New York Times e autor de “TrumpNation: The Art of Being the Donald”.

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