Bahia Asset vê Selic elevada e aposta em títulos de longo prazo atrelados à inflação

Em entrevista à Bloomberg News, Thiago Mendez, sócio e gestor de renda fixa e multimercados, avalia que a inflação pressionada irá forçar o BC a manter a Selic em patamar mais elevado

Bloomberg — A Bahia Asset Management montou uma aposta nos chamados juros reais no Brasil, que envolve títulos públicos atrelados à inflação, as NTN-B.

A gestora notou uma oportunidade na diferença entre as taxas dos papéis com prazo mais curto e aqueles de vencimentos mais longos em função da pressão inflacionária e da recente atuação mais agressiva do Tesouro Nacional.

A gestora espera que a curva de juros das NTN-Bs sofra um “achatamento” — ou seja, uma diminuição desse spread entre as taxas.

A leitura é de que a inflação pressionada devido à força da atividade irá forçar o Banco Central a manter a Selic em patamar mais elevado do que mostra a atual precificação de mercado.

Há ainda uma aposta na resiliência do Brasil à guerra comercial iniciada pelo presidente dos EUA, Donald Trump.

“Vemos um crescimento ainda saudável no Brasil, que tem uma economia fechada que pode sofrer menos pela questão das tarifas, e uma inflação pressionada, com força na parte de serviços”, diz Thiago Mendez, sócio e gestor de renda fixa e multimercados da Bahia Asset, em entrevista à Bloomberg News. “Ou seja, o juro real que será realizado será muito alto no curto prazo, porque o BC vai ter que manter o juro nesse nível por muito tempo.”

“Estamos comprando NTN-B de 5 e 6 anos, e vendendo as NTN-B mais curtas”, disse Mendez, sobre a estratégia da gestora.

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Segundo ele, o mercado prevê que o Banco Central terá uma reação muito “dovish” no curto prazo. A curva de juros precifica 0,50 ponto percentual de alta da Selic para as próximas duas reuniões, com chance de encerrar o ciclo nesta quarta-feira (7). Mendez, no entanto, acredita em uma Selic mais elevada.

Se o cenário da gestora se confirmar, haverá pressão sobre as taxas reais de prazos mais curtos, ao mesmo tempo em que se verifica um “prêmio” nos títulos nas NTN-B mais longas devido à mudança de atuação do Tesouro neste ano — taxas de maior prazo em que Mendez vê espaço para queda.

Desde o início do ano, a autoridade começou a emitir uma quantidade mais elevada dos títulos, tanto de prefixados quanto indexados à inflação, observa o gestor.

“A nova gestão do Tesouro parece querer recompor o caixa para enfrentar qualquer período turbulento à frente, criando uma gordura para enfrentar a volatilidade”, disse Mendez.

O Tesouro vendeu 1,1 milhão de títulos NTN-B no leilão realizado nesta terça-feira (6), em linha com a operação da semana passada.

Dólar mais fraco

Segundo o gestor, o maior risco alocado do fundo atualmente está no Brasil.

A Bahia adotou uma aposta que ganha com uma baixa do dólar em relação ao real no curto prazo — a chamada posição vendida.

No exterior, o fundo também detém apostas que se beneficiam de um dólar mais fraco em relação ao euro, com a perspectiva de que a guerra comercial possa enfraquecer a economia dos EUA.

Sobre a bolsa, Mendez disse avaliar a exposição à renda variável doméstica como “pouco atrativa” se comparado aos juros reais oferecidos pelas NTN-B.

No ano, Mendez afirma que as principais estratégias ganhadoras do fundo vieram de posições locais, com apostas que ganham com a queda em juros reais — aplicadas —, que ganham com a alta — compradas — em inflação implícita e aplicadas em taxas nominais curtas, principalmente no mês de abril.

A Bahia Asset detém R$ 3,5 bilhões sob gestão e o seu fundo Bahia AM Marau FIC teve retorno de 5,8% após taxas no ano, contra 4,2% do CDI no mesmo período.

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