Bloomberg Opinion — O economista austríaco Ludwig von Mises teve recentemente um momento de destaque, principalmente na América Latina. O presidente argentino Javier Milei admira Mises e adotou algumas ideias do economista, como a noção de que “ficar em cima do muro leva ao socialismo”. Milei já foi economista acadêmico e conhece bem as ideias de Mises.
No último sábado (13), o lutador brasileiro de UFC Renato Moicano fez uma declaração pública, usando palavrões, em louvor a Mises e defendeu a liberdade de expressão e a propriedade privada. Em sua palestra improvisada, ele indicou a leitura Mises e o que ele chamou de seis lições da Escola Austríaca de Economia, além de seu próximo podcast.
Essas lições – bem como uma versão sem os palavrões de Moicano e um discurso inspirado em Mises sobre a teoria do ciclo de negócios pelo presidente Nayib Bukele, de El Salvador – estão disponíveis no site do Mises Institute (com sede nos Estados Unidos).
Trata-se de um retorno impressionante para Mises, que morreu em 1973 sem nunca ter recebido a aceitação popular no meio acadêmico. Depois de emigrar para os Estados Unidos em 1940, ele se aposentou como professor em 1969. No entanto, no momento em que este artigo foi escrito, ele tinha três títulos na lista dos 10 livros de economia mais vendidos da Amazon.
A ascensão (relativa) de Mises ocorreu tanto entre a corrente dominante quanto nos círculos do livre mercado. Olhando de fora, muitos países da América Latina passam por dificuldades. A Argentina é conhecida desde os tempos do peronismo por seu fraco desempenho econômico, mas, mais recentemente, a decadência tornou-se mais óbvia.
Quando visitei Buenos Aires no ano passado, a cidade estava mais suja, mais pobre e mais mal-humorada do que quando a visitei em 2006. O país continua em meio a uma hiperinflação. Independentemente de você concordar ou não com as políticas de Milei, não deveria ser uma surpresa que o eleitorado tenha se voltado para soluções radicais, incluindo as ideias de Mises e outros economistas libertários.
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Enquanto isso, entre os adeptos do livre mercado, as vibrações mudaram de uma forma que aumentou a influência de Mises. Para efeito de comparação, as ideias de Friedrich A. Hayek estavam em alta nos círculos liberais clássicos durante a década de 1990, em parte porque Hayek havia ganhado um Prêmio Nobel.
O estilo de escrita de Hayek também era mais suave, enquanto Mises era intransigente. Como Hayek disse sobre o livro de Mises sobre socialismo, publicado em 1922: “no início, todos nós sentimos que ele estava exagerando terrivelmente e até mesmo com um tom ofensivo”.
Milton Friedman foi outro grande pensador econômico do século 20 e era conhecido por sempre sorrir e nunca perder a paciência com seus oponentes intelectuais.
Friedman escreveu um livro chamado Capitalismo e Liberdade. O de Hayek chamava-se Os Fundamentos da Liberdade. Mises, por sua vez, estava produzindo livros com títulos como Omnipotent Government (“Governo Onipotente”, em tradução livre) e The Anti-Capitalist Mentality (“A Mentalidade Anticapitalista”, em tradução livre). Ele foi o único do trio a se aliar a Ayn Rand.
Hoje, entretanto, muitas das proclamações de Mises não parecem mais tão desatualizadas quanto há algumas décadas. Em seu livro Ação Humana: Um tratado de Economia, ele gostava de enfatizar que “o homem age” como um princípio fundamental da análise econômica e social.
Independentemente do que isso possa ter significado na época, hoje em dia eu não ficaria surpreso se encontrasse uma frase semelhante em um livro de Jordan Peterson. Inclusive, Peterson recentemente expressou sua admiração pelo apoio de Moicano a Mises.
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As opiniões podem divergir quanto ao fato de o ressurgimento de Mises ser uma coisa boa. Tudo o que posso dizer é que penso mais em Mises do que há 10 anos.
Seus primeiros livros, Socialismo: Uma análise econômica e sociológica e Liberalism (”Liberalismo”), são clássicos do século 20 e continuam subestimados. Marx e Engels também tinham seu lado polêmico e, mesmo assim, ainda são citados com frequência em ambientes educados e tratados como pensadores sérios.
Mises, apesar de seus excessos, estava muito mais correto do que eles. Ele também não pode – ao contrário de Keynes e Marx – ser acusado de antissemitismo. Mises, um judeu que fugiu dos nazistas, foi um defensor do cosmopolitismo por toda a vida.
Quanto à América Latina, Mises pode ser exatamente o tipo de pensador orientado para o mercado de que a região precisa. Às vezes, as polêmicas conseguem atravessar as ofuscações do discurso político.
A generosidade de Friedman e Hayek com seus oponentes talvez não seja a melhor estratégia para a política notoriamente brutal da América Latina. E algumas das noções mais indelicadas de Mises – como a ideia de que a política econômica pode simplesmente se tornar cada vez pior com o passar do tempo – parecem estar se comprovando em países como o Brasil, que está praticamente estagnado há muito tempo.
Dito isso, se por acaso você mora em um lugar que precisa de uma dose de Mises – bem, isso não é um bom sinal. Ele não estava certo sobre tudo, é claro. Mas se você ouvir constantemente as ideias de Mises, isso provavelmente significa que há muita coisa na economia de seu país que precisa ser consertada.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Tyler Cowen é colunista da Bloomberg Opinion. É professor de economia na George Mason University e escreve para o blog Marginal Revolution.
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