Justin Trudeau, Canada's prime minister, from left, Chrystia Freeland, Canada's deputy prime minister and finance minister, and Harjit Sajjan, Canada's emergency preparedness minister, during a news conference in Vancouver, British Columbia, Canada, on Wednesday, March 27, 2024
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Bloomberg Opinion — A população do Canadá ultrapassou os 40 milhões de pessoas em 2023, com a maior taxa de crescimento desde 1957. A grande maioria do aumento – o equivalente a 97,6% – foi proveniente da migração internacional, tanto permanente (quase 500.000 pessoas) quanto temporária (pouco mais de 800.000). A notícia, apesar de positiva, também é preocupante.

Não é só o Canadá – Irlanda, Nova Zelândia e Reino Unido também registraram níveis historicamente elevados de imigração. Por quanto tempo os cidadãos desses países aceitarão a tendência? Quem exatamente se beneficia e como? Por que a retaliação não foi mais intensa?

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Imigrantes não trazem um boom econômico imediato.

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Quando a Nova Zelândia fechou suas fronteiras durante a pandemia, por exemplo, a produção não caiu, e a retomada da imigração após o fim das restrições não causou um aumento perceptível. No Reino Unido, por sua vez, a estagnação econômica acompanhou a onda de imigração.

Quaisquer que sejam os benefícios da chegada de imigrantes, eles estão no longo prazo, o que não impulsiona sua popularidade política no momento.

E, no entanto, apesar de todos os ajustes culturais e econômicos que a imigração pode exigir, é difícil evitar a conclusão de que, para muitos países, as altas taxas de imigração são necessárias.

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No Canadá, por exemplo, a taxa de fertilidade atual é de cerca de 1,33 filho por mulher, a mais baixa já registrada, e provavelmente teria sido ainda mais baixa sem as recentes chegadas de imigrantes.

A geografia do Canadá também favorece a imigração. É provável que o país tenha muito mais território utilizável – devido ao aquecimento global –, portanto, é possível ter uma população muito maior.

Se o Canadá quiser manter um equilíbrio razoável de poder com os Estados Unidos e ter os recursos para desenvolver e proteger suas áreas árticas, precisará de uma população e uma economia proporcionalmente grandes.

Toronto se tornou uma das cidades mais interessantes da América do Norte, e os imigrantes merecem grande parte do crédito por isso, assim como pelo crescimento de Vancouver. O Canadá agora também é um dos principais locais para a culinária internacional.

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A intenção não é fazer recomendações de viagem, mas mostrar como o Canadá está conectado a muitas tendências globais que ajudarão a manter sua relevância.

Em geral, o Canadá – assim como a Irlanda, cuja taxa de fertilidade é de aproximadamente 1,77, abaixo da reposição – enfrenta uma escolha: receber migrantes ou despovoar o país.

Talvez um dos motivos pelos quais os eleitores tolerem as altas taxas de migração seja o medo intuitivo de viver em um país vazio e estagnado. Os eleitores tendem a querer que seu país projete influência e defenda seus interesses.

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Os debates econômicos sobre imigração geralmente focam nos efeitos sobre os salários da população local e, nesse caso, o impacto da imigração costuma ser neutro ou marginal. Mas os efeitos mais importantes da imigração podem ser mais impressionistas, moldando a visão das pessoas sobre seu próprio país e como é viver nele, bem como sua reputação global.

Nesse sentido, o Canadá está à frente de grande parte do resto do mundo ao perceber a importância desses fatores e transformá-los em políticas viáveis. O país está disposto a abrir mão de parte de sua identidade cultural atual para alcançar um futuro cultural e político mais brilhante.

Essa troca é muito melhor do que parece à primeira vista.

Por um lado, as taxas de natalidade dos cidadãos nativos podem cair ainda mais. Se um país quiser preservar sua cultura nacional, talvez seja melhor permitir mais migração agora, quando ainda há uma massa crítica de cidadãos nativos para facilitar a assimilação.

Para colocar a questão de forma mais geral: quaisquer que sejam os custos da imigração, os países bem-sucedidos terão de lidar com eles mais cedo ou mais tarde.

E quanto mais cedo o fizerem, melhor será. A escolha não é tanto entre mais ou menos imigração, mas entre muita imigração agora ou mais tarde. Essa escolha ficará ainda mais urgente à medida que a necessidade de financiar programas nacionais de previdência exigir a existência de mais contribuintes.

Uma das críticas mais comuns aos imigrantes é que eles causam o aumento nos preços dos imóveis. No entanto há uma explicação: as regulamentações rigorosas sobre construção dificultam a resposta da oferta de moradias ao aumento da demanda.

Aliás, a imigração pode ajudar a resolver esse problema.

Primeiro, os próprios imigrantes podem induzir o país que os recebeu a liberar seus mercados imobiliários. Portanto, a imigração pode aumentar os custos imobiliários no curto prazo, mas ajudar a reduzi-los no longo prazo.

Em segundo lugar, os imigrantes podem ajudar as cidades de nível inferior a se destacarem. Os subúrbios de Toronto, por exemplo, tiveram grande parte de seu crescimento impulsionado pela imigração da população asiática e, a longo prazo, isso dará aos canadenses mais opções residenciais (e comerciais).

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Deixando esses argumentos de lado, os preços mais altos dos imóveis, na medida em que resultam das demandas dos imigrantes, se traduzem em grande parte em ganhos de capital para os proprietários – cuja maioria são nativos.

Sem dúvida, os preços mais altos dos imóveis podem ser ruins para muitos canadenses mais jovens, que podem ficar de fora dos mercados imobiliários, mas, eventualmente, muitos deles herdarão casas de alto valor de seus pais.

Meu argumento não é que não existam custos no curto prazo para os altos níveis de imigração – principalmente no setor imobiliário. No entanto, a longo prazo, o aumento da imigração é benéfico para um país. Para mim, a questão não é tanto por que o Canadá e países semelhantes permitem tanta imigração. É por quanto tempo os eleitores desses países permitirão que esse experimento continue.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Tyler Cowen é colunista da Bloomberg Opinion, professor de economia da George Mason University e escreve para o blog Marginal Revolution.

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